O que a vinda de Madonna tem a ver com o lançamento do filme “Imaculada”?

Filme aplaudido na CCXP México é acusado pelos mesmos "pecados" da cantora, que usa símbolos religiosos em suas apresentações

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Luiz Menezes 3 minutos de leitura

Estive presencialmente na primeira edição da CCXP México e os grandes lançamentos refletem o protagonismo das séries e filmes. Um dos que mais chamou atenção foi "Immaculate" (Imaculada).

Os atores Sydney Sweeney e Álvaro Morte estiveram em um painel no Omelete Stage para falar sobre o filme, que causou uma grande polêmica nos Estados Unidos por conta da distorção de alguns princípios religiosos, gerando revolta de grupos cristãos.

"Imaculada" conta a história da noviça Cecília, que, sem falar italiano, é convidada para este convento, com o voto de servir sua vida a Deus, em castidade e modéstia. O que ela cumpre, mas, apesar disso, tem uma gravidez confirmada como imaculada, ou seja, virgem.

O filme foi bem recebido pela crítica e pela audiência estadunidense e já é tratado como um dos melhores do gênero terror religioso antes mesmo de chegar ao Brasil, no dia 30 de maio.

"Imaculada" (Crédito: Diamond Films)

Enquanto o painel acontecia na CCXP México, aqui os brasileiros foram agraciados com um um show histórico da rainha do pop Madonna, com a Celebration Tour, que comemora seus 40 anos de carreira. A apresentação foi realizada na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, e o evento reuniu mais de 1, 6 milhão de pessoas.

Fake news circularam apontando que os gastos para trazer o show tinham saído exclusivamente dos cofres públicos sendo que, na verdade, a participação da prefeitura da capital e do estado fluminense foi de R$ 10 milhões cada. Os outros R$ 40 milhões foram bancados pelos patrocinadores (Itaú e Heineken).

O show de Madonna foi transmitido pela TV Globo em rede nacional. Também deu para assistir pelo streaming Globoplay e pelo canal Multishow. Ou seja, não é difícil imaginar que durante sua exibição ao vivo, o espetáculo movimentou as redes sociais, seja com comentários positivos ou negativos, alegando que se tratava de "satanismo e sexo a céu aberto".

Madonna foi criticada por desrespeitar o cristianismo ao banalizar o uso da cruz como objeto de moda e trazer outros símbolos da igreja.

o filme e o show no Rio bateram no mesmo ponto, incomodando até mesmo a geração Z, que se diz mais receptiva e inclusiva.

Chega a ser estranho como as pessoas misturam as coisas. A tragédia que está acontecendo no Rio Grande do Sul neste exato momento está mobilizando o país inteiro em busca de ajuda e doações. Porém, muitos cobraram posicionamento de Madonna, como se de alguma forma o show no Rio tivesse um impacto negativo na catastrófica situação no sul Vale destacar que antes de ir embora do Brasil, a cantora realizou uma doação para ajudar as vítimas.

O que ela fez no passado chocou gerações, mas o que ela segue fazendo no presente também choca gerações mais novas. Grande parte dos espectadores, tanto do show como do filme "Imaculada", questiona justamente qual a validade dos símbolos religiosos consagrados, quais são as histórias que ajudaram a contar no passado e quais histórias podem contar hoje, perante assuntos sensíveis ao conservadorismo como a liberdade sexual, o estupro e o aborto.

Show da cantora Madonna em Copacabana (Crédito: Fabio Motta/ Prefeitura do Rio)

É comum que tenhamos uma visão de que a GenZ é questionadora, de que não aceita o que é imposto e o que é convencional, quando na realidade não é. Dentro da geração Z temos uma parcela tradicional e conservadora, assim como em outras gerações.

Quando esses símbolos se tornam elementos narrativos e perdem sua sacralidade, para muitos, automaticamente configuram-se como afronta e entram nas categorias alarmistas de pornografia ou satanismo. Nesse aspecto, o filme e o show no Rio bateram no mesmo ponto, incomodando até mesmo a geração Z, que se diz mais receptiva e inclusiva.

Um exemplo disso é que, apesar de os números apontarem para um crescente de pessoas mais novas que não professam nenhuma religião, dados de pesquisas Datafolha de 2022 mostram que entre os jovens de 16 a 24 o percentual dos sem religião é de 25%. Ou seja, ainda há uma parcela de pessoas da GenZ cristãs.

Claro que isso não é um problema, pois acredito que somos livres para seguir a religião que quisermos. Mas é importante que exista consciência do que é falado e feito, especialmente na internet e nas redes sociais.

A GenZ faz parte da parcela que criticou a Madonna, "Imaculada" e todos os movimentos religiosos pois, querendo ou não, são  parte de movimentos conservadores.


SOBRE O AUTOR

Luiz Menezes é fundador da Trope, consultoria de geração Z que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócios. saiba mais