Parece um desenho animado, mas esse aparelho transforma ar em água

A startup tunisiana Kumulus desenvolveu um dispositivo que imita o processo natural de condensação para converter ar úmido em água potável

Crédito:  Zouhair Ben Jannet/ Steffi Harms/ Unsplash/ Rawpixel

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Cerca de três anos atrás, o engenheiro Iheb Triki foi acampar por quatro dias no deserto da Tunísia. Depois de dirigirem seis horas por montanhas de areia, ele e nove amigos chegaram ao destino carregando 100 litros de água engarrafada.

Depois disso, Triki teve três insights: primeiro, ele olhou para o grande volume de garrafas de água dispostas à sua frente. Em seguida, notou as pilhas de lixo plástico vazio que sobraram dos campistas anteriores. Já na manhã seguinte, Triki observou pequenas gotas de orvalho acumuladas na superfície de sua tenda. Foi aí que ele teve uma grande ideia.

Crédito: Kumulus/ Divulgação

Hoje em dia, Triki é o CEO de uma startup tunisiana chamada Kumulus. A empresa desenvolveu um dispositivo que imita o processo de condensação para converter a umidade do ar em água potável. Alimentado por painéis solares, o Kumulus 1 tem o tamanho de uma poltrona grande e consegue produzir de 10 a 50 litros de água limpa por dia, dependendo dos níveis de umidade do ar.

Por enquanto, três dispositivos foram implantados na Tunísia e em Paris, onde estão sendo testados. Mas nas três semanas desde seu lançamento, a startup já recebeu mais de 100 pré-encomendas, no valor de cerca de US$ 700 milhões, de clientes da França, Itália, México e Uruguai.

Crédito: Kumulus/ Divulgação

Enquanto isso, no início deste ano, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts desenvolveram um protótipo para uma máquina, do tamanho de uma mala, capaz transformar água salgada em água potável.

No ano passado, uma equipe da Universidade de Ciência e Tecnologia King Abdullah desenvolveu um protótipo que extraiu vapor do ar e o condensou em água limpa o suficiente para cultivar espinafre no deserto da Arábia Saudita.

Já o Kumulus é capaz de produzir até 50 litros em 24 horas, segundo Triki. O ar úmido entra automaticamente na máquina através de pequenas aberturas na parte superior e passa por um filtro inicial. Em seguida, o ar é resfriado em uma câmara que condensa sua umidade e a transforma em orvalho. Depois, água é filtrada novamente, mineralizada e, finalmente, armazenada em um tanque de água.

Crédito: Kumulus/ Divulgação

Uma torneirinha do lado de fora permite que as pessoas acessem facilmente a água. Ao mesmo tempo, uma tela mostra a quantidade de água disponível dentro da máquina. Ela pode ser vinculada a um aplicativo que permite aos usuários monitorar indicadores como a qualidade da água e quando é preciso trocar o filtro.

Crédito: Kumulus/ Divulgação

A Kumulus pode ser extremamente técnica, mas para quem vê de fora, não aparece. “Somos engenheiros e meu maior medo era criar um produto que funcionasse bem tecnicamente, mas que não fosse agradável de olhar”, diz Triki.

Ele entendeu o valor do design desde o início e contratou o designer local Zouhair Ben Jannet para transformar seu protótipo em um produto viável.

Dono de um portfólio mais arquitetônico do que industrial, Jannet inspirou-se nas antigas ânforas usadas por gregos e romanos para transportar líquidos.

“Quando eu era criança, as pessoas costumavam colocar água em potes de barro na frente de casa para quem passava”, lembra Ben Jannet. “O formato desses potes se manteve o mesmo por séculos. Tentei apenas modernizá-lo”.

Crédito: Kumulus/ Divulgação

O dispositivo tem formas redondas e um revestimento branco futurista que lembra o corpo brilhante de Eve, do filme Wall-E. A versão atual é feita do mesmo composto plástico usado para fazer iates.

A versão final – aquela das 100 pré-encomendas que serão enviadas em outubro – será feita de plástico reciclado moldado por injeção, que é muito mais leve. Faz mais sentido usá-lo em grandes quantidades devido ao custo.

Os clientes em potencial da Kumulus incluem hotéis isolados que precisam de uma fonte melhor de água potável, empresas de construção que desejam fontes de água fora da rede em canteiros de obras e ONGs que queiram fornecer acesso à água potável para os dois bilhões de pessoas em todo o mundo que atualmente não têm acesso a esse direito.

Crédito: Kumulus/ Divulgação

A equipe está trabalhando em um modelo menor, que possa caber no porta-malas de um carro comum. Essa versão produziria consideravelmente menos água, cerca de 10 litros por dia. Mas, da próxima vez que alguém for acampar no Saara – ou no deserto de Sonora, aliás – não será mais necessário carregar um monte de garrafas de plástico.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais