A importância da liderança na motivação e resiliência
Crises passam, sempre, e essa passará também. Os otimistas preveem que ela passará rapidamente; os pessimistas, que é o prenúncio de algo pior. Os realistas acreditam em adaptação.
Nesse contexto, decisões não podem ser generalizadas. Necessitam ser pensadas com habilidade, porque a vulnerabilidade da covid-19 não para de nos trazer aprendizados valiosos, especialmente sobre nossas escolhas.
O tema que trago nessa reflexão tem muito a ver com a enxurrada de “começou um novo cargo logo no início do ano” ao ver meu LinkedIn. Fiquei pensando: o que levou tanta gente em busca de uma nova experiência/oportunidade?
E aqui estou eu na Ambev, há quase três anos, em uma posição de liderança na área de estratégia em inovação e fazendo uma transição para outro país nesse período de pandemia. Desde janeiro, assumi como diretora da Draftline da BU Andina (Chile, Paraguai e Bolívia). Essa mudança me trouxe uma série de questões internas sobre felicidade, oportunidade e desenvolvimento. E o objetivo que me levou até lá: conheci, durante o processo, pessoas acolhedoras, inspiradoras e com muito brilho nos olhos, confiantes no nosso futuro e transparentes sobre as dificuldades e desafios.
Acredito que, quando pertencemos a uma equipe, jogamos junto. Mas só conseguimos nos sentir parte desse time se tivermos – ainda mais nesse momento de estresse e incertezas – um equilíbrio entre gentileza, empatia e transparência, para termos, além de segurança psicológica, uma diminuição de ansiedade do momento.
A VULNERABILIDADE DA COVID-19 NÃO PARA DE NOS TRAZER APRENDIZADOS VALIOSOS, ESPECIALMENTE SOBRE NOSSAS ESCOLHAS.
Uma matéria da VocêRH, de 2013, mostrou que o Google começou a pesquisar o que, afinal, faz uma equipe ser eficiente. A empresa estudou todas as combinações de times possíveis, passando por variações demográficas, étnicas, de gênero e de performance. Depois de anos de estudo, concluiu que não importava se a equipe estava no mesmo lugar, nem o grau de extroversão, nem os resultados individuais, nem o tamanho do time. O que influenciava de verdade era a equipe ter propósito, clareza nos papéis de cada um, responsabilidade e — mais importante do que tudo — segurança psicológica.
O chefe direto é o principal e grande guardião da segurança psicológica de seus liderados, mas não somente ele. Funcionário nenhum terá segurança em um ambiente hostil, de ameaças e, especialmente, um que não se sinta parte.
Depois de quase dois anos de pandemia, isolamento e muitas perdas, vimos pessoas altamente pressionadas e distantes. Muitos desses comportamentos são baseados em medo. Medo de não bater meta, de não ser bem avaliado, medo do desemprego… O maior medo que deveríamos ter, que seria perder bons talentos, não foi o protagonista em muitas ocasiões.
Por isso, segurança psicológica, pertencimento, confiança, transparência e abertura para conversas construtivas, são questões muito importantes para esse momento de grande vulnerabilidade.
Segundo Simon Sinek, é melhor ter uma pessoa de média performance e alta confiança, do que uma pessoa de alta performance e baixa confiança. Pessoas com baixa confiança são tóxicas e podem destruir uma organização. Um ambiente seguro, com trocas, pessoas verdadeiras e que estão abertas a ajudar ao próximo fazem toda diferença.
Tudo isso define também nossas decisões de carreira, principalmente em um ano de possível retomada, que traz a necessidade de abastecer nossa energia, desafiar nosso potencial máximo, assumir o protagonismo de olhar além do horizonte e não ficar preso no imediato.
UM AMBIENTE SEGURO, COM TROCAS, PESSOAS VERDADEIRAS E QUE ESTÃO ABERTAS A AJUDAR AO PRÓXIMO FAZEM TODA DIFERENÇA.
E a saúde mental nisso? Tem que fazer parte da cultura organizacional, ser uma prioridade não para o futuro, mas para o agora! Temos pressa e isso tem que ser mais debatido, já que, desde o início de 2022, a OMS colocou a síndrome de burnout como doença ligada ao trabalho.
Então, abertura para comunicação constante, diálogos verdadeiros, que conectam e que tenham ações claras de evolução e constante feedback, ajudam a refletir sobre lutas que devemos escolher e os pontos de melhoria. Ainda mais nesse momento de reavaliação de prioridades, do reconhecimento do valor da vida, da saúde e da família.
Para mim, a soma de tudo isso se traduz em felicidade e realização – aquele sentimento que nunca é fácil porque não somos perfeitos, mas que me torna uma pessoa mais aberta, vulnerável, disposta a construir e desconstruir ideias e comportamentos.
A grande métrica de uma equipe potente é quando ela tem sintomas de felicidade. Sempre digo que, quando uma pessoa perde o sorriso e parece assustada, é necessária uma ação proativa de quem convive e lidera. Será que alguma ferramenta de inteligência artificial poderia fazer essa leitura de colaboradores e de suas atitudes com tanta efetividade quanto quando buscamos o profundo entendimento do consumidor para personalização em massa?
Na minha carreira, tive vários momentos mais introspectivos, pessimistas, onde perdi o sorriso e a perspectiva. Mas analisar o todo e ver que, no fim, os pontos positivos superam os negativos, me fizeram perseverar e acreditar que as coisas iam melhorar.
Uma pessoa feliz, em um ambiente do qual ela se sente parte, em que confia, onde é percebida e tem reconhecimento na mesma proporção de seu talento, irá pensar muito mais para assumir o risco do recomeço, do desconhecido.
Afinal, estamos todos em transformação e desconstrução. Evoluir através do aprendizado é o único caminho, e precisamos urgentemente descontruir a imagem do líder comando e controle que tem na ponta da língua: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Nesse caso, a mudança se faz necessária para transformar a vida de muitos. E que bom que encontramos lugares dispostos a encarar de frente esse cenário e ter realmente pessoas felizes a bordo. Por aqui sigo rumo a um futuro com mais brindes.