Por que o Vietnã pode se tornar o próximo grande produtor de café orgânico

O país tem uma longa história na produção de café, embora poucos saibam que parte do que consomem vem de lá. Mas isso está prestes a mudar

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Debbie Wei Mullin 4 minutos de leitura

O Vietnã é o segundo maior produtor de café do mundo, atrás do Brasil. Muitos podem se surpreender com essa informação, mas até mesmo as maiores marcas do setor compram uma quantidade considerável de café de lá. Grande parte de seus produtos costuma ter 40% de grãos vietnamitas, embora nenhuma ouse admitir.

Em 1984, o país era responsável por apenas 0,5% da produção mundial, mas em 2020 esse número subiu para mais de 18%. Hoje, é o maior produtor de robusta, uma das duas variedades que dominam a indústria.

Nos últimos 30 anos, o governo vietnamita incentivou os agricultores a cultivar e exportar café, fornecendo desde insumos agrícolas subsidiados, como mudas e fertilizantes, até terras de baixo custo.

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Apesar do aumento nas exportações, as políticas governamentais controlaram os preços, o que fez com que os agricultores não se preocupassem tanto com a qualidade. E isso contribuiu para que o robusta fosse visto como um grão de categoria inferior. 

Ele vem sendo usado na indústria como um “complemento”, adicionado secretamente apenas para reduzir custos. Geralmente, é vendido por menos da metade do preço de seu primo mais popular, o café arábica.

O Vietnã também ficou conhecido por práticas de cultivo prejudiciais ao meio ambiente. O uso excessivo de pesticidas é bem documentado e, embora a produção tenha aumentado, poucas melhorias ambientais foram feitas em larga escala.

Crédito: Copper Cow Coffee

Quando fundei o Copper Cow Coffee, não consegui encontrar uma única fazenda de café orgânico certificada no país. Tivemos que reduzir drasticamente o uso de pesticidas e produtos químicos, mas foi um desafio conseguir a adesão dos agricultores.

No entanto, isso está prestes a mudar. Hoje, a percepção do mundo sobre o produto cultivado no Vietnã é outra, especialmente por parte do maior consumidor de café orgânico e especial do mundo: os EUA.

Além disso, a crescente classe média vietnamita está mais consciente em relação à saúde e exige produtos premium e orgânicos.

Essas tendências, somadas às políticas governamentais que incentivam a produção orgânica, farão com que os cafeicultores adotem essa prática, pois perceberão que ela não apenas elevará os preços, mas também é melhor para a saúde e para o meio ambiente.

O Vietnã seguirá os passos das economias emergentes vizinhas, como a China, que aproveitaram seu crescimento para se tornar grandes produtores de orgânicos e suprir a demanda global.

ECONOMIA

Ao longo dos anos, o Vietnã se tornou uma das economias que mais crescem no mundo. Os índices de pobreza caíram de 60% para 10%, e o país emergiu como um poderoso player no mercado internacional.

Sua produção industrial cresceu rapidamente, assim como ocorreu na China uma década antes. E, com isso, emergiu uma classe média mais atenta à saúde e disposta a pagar mais por produtos orgânicos.

Em 2022, o mercado de café orgânico atingiu US$ 8,9 bilhões e estima-se que, em 2030, suba para US$ 28,8 bilhões.

Mas por que isso é tão importante? Os produtos orgânicos certificados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) – que exige cultivo sem fertilizantes, pesticidas, herbicidas ou fungicidas sintéticos – oferecem benefícios para a biodiversidade e para a qualidade do solo, reduzem a poluição e são melhores saúde para os consumidores.

Esses benefícios impulsionaram o crescimento da demanda mundial por orgânicos de US$ 57,2 bilhões, em 2010, para US$ 178,4 bilhões, em 2021. E espera-se que esse número chegue a US$ 497 bilhões, em 2030.

CAFÉ ORGÂNICO

Em 2022, o mercado de café orgânico atingiu US$ 8,9 bilhões e estima-se que, em 2030, suba para US$ 28,8 bilhões, impulsionado principalmente pelo mercado norte-americano. Por anos, o café robusta foi considerado um grão de qualidade inferior, o que o excluía de práticas de cultivo mais caras e de consumidores mais exigentes dispostos a pagar 47% a mais por produtos orgânicos certificados.

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Mas os tempos mudaram e, hoje, o mundo está percebendo que ele não é intrinsecamente inferior. O café arábica se beneficiou de anos de investimento em melhoria de qualidade, enquanto o robusta está começando a recebê-lo só agora.

Ele tem muitas qualidades a serem apreciadas, incluindo seus fortes tons de cacau e nozes, perfeitos para torrefação escura, e um tamanho de grão maior, que o torna mais barato de cultivar por tonelada e por acre.

Além disso, o robusta é uma planta resistente ao clima com alto teor de cafeína que afasta a maioria das pragas – tornando-o uma excelente opção para conversão orgânica. Isso significa que, quando for certificado, o café orgânico premium poderá ser mais barato do que nunca.


SOBRE A AUTORA

Debbie Wei Mullin é fundadora da Copper Cow Coffee. saiba mais