Logotipos de criptoativos são todos mais ou menos iguais. E há uma razão para isso

Crédito: Bitcoin/ Bitboy

James I. Bowie 4 minutos de leitura

A mais recente crise de criptomoedas fez com que os investidores invadissem sites de rastreamento de preços – como o CoinMarketCap, da Binance – onde o valor de mais de 10 mil ativos de criptomoedas é atualizado continuamente. Em sites como esse, algo que chama atenção é que a listagem de cada criptomoeda, do poderoso Bitcoin ao memecoin mais humilde, vem acompanhada por seu próprio logotipo.

Tela do CoinMarketCap

No setor crypto, os logotipos têm uma importância descomunal, como formas elementares de branding. Grande parte do público ainda está tateando com cuidado o universo das criptomoedas. De acordo com uma pesquisa recente do Federal Reserve, apenas 12% dos norte-americanos já usaram ou investiram nesse mercado.

Um logotipo ajuda a dar “uma cara” para empresas de um ramo que tende a intimidar por ser tão abstrato e enigmático. Em alguns casos, um bom logotipo pode até conferir legitimidade a ofertas duvidosas.

Mas que forma esses logotipos de criptografia têm assumido? Dado o caráter de novidade da criptografia e a insistência dos livros didáticos de design de que os logotipos servem para “se diferenciar por meio de um design exclusivo”, a expectativa era a de que eles seriam diferentes de quaisquer símbolos que já vimos.

um bom logotipo pode até conferir legitimidade a ofertas duvidosas.

Mas, ao contrário disso, uma abordagem comum para o design de logotipos de criptografia é fazer referência a coisas com as quais as pessoas já estão familiarizadas. O logotipo do Bitcoin, por exemplo, faz referência ao cifrão, uma moeda material e, por meio de sua tonalidade alaranjada, remete ao ouro (o metal verdadeiro, não o “ouro digital”).

Além disso, as marcas de criptografia tendem a se assemelhar: dos logotipos das 500 principais listagens recentes do CoinMarketCap, 13% imitavam a identidade visual do Bitcoin, usando letras iniciais riscadas com linhas ou vazadas, bem como os bons e antigos símbolos de notas de dinheiro.

Logotipo do Bitcoin evoca símbolos familiares: o cifrão, a moeda e o ouro

Essas tendências não deveriam ser surpresa. Com o surgimento de cada nova tecnologia, surge também a necessidade de representá-la graficamente de uma maneira que facilite o reconhecimento e a aceitação do público.

A energia elétrica nos trouxe uma enxurrada de logotipos de relâmpagos. A internet trouxe logos com com vários elementos de design, muitas vezes representando o planeta terra misturado a símbolos que remetem ao campo semântico das informações. Eventualmente, a órbita terrestre assumiu uma forma mais abstrata e simplificada, transformando-se em ícones hoje onipresentes.

Com o surgimento de cada nova tecnologia, surge também a necessidade de representá-la graficamente.

As tentativas de outros logotipos criptográficos de projetar uma vibração futurista acabam, ironicamente, refazendo designs do passado, como as letras “A” sem o tracinho, que lembram foguetes sendo lançados (como no logotipo “worm” da NASA, de 1975), ou as vazadas, com traços horizontais em branco (como na marca de 1985 do canal ESPN).

Até o antigo relâmpago aparece em alguns desses emblemas, embora talvez seja uma má ideia fazer com que as pessoas lembrem do enorme consumo de eletricidade da criptomoeda.

Duas formas em particular emergem como características de logos criptográficos: as pirâmides aparecem com alguma regularidade, provavelmente graças à influência do Ethereum, a segunda entidade criptográfica, cuja marca aponta enigmaticamente ao mesmo tempo para cima e para baixo.

Aparentemente, o apelo místico do símbolo piramidal e suas associações Illuminati valem o risco de invocar graficamente o conceito negativo dos esquemas de pirâmide.

Da esquerda para a direita: logos da Basic Attention Token, Avalanche e Ethereum

Mas é o hexágono a verdadeira estrela de ruptura entre os logotipos de criptografia, desde os do Crypto.com (uma cabeça de leão abstrata, difícil de enxergar à primeira vista) até a Chainlink e a UNUS SED LEO (outro leão).

Tendo estado em voga pela última vez na década de 1960 nos emblemas de empresas químicas, o hexágono viu seu uso em logotipos americanos quase triplicar na última década. Agora, ele aparece em mais de 9% do top 500 do CoinMarketCap.

Mais emblemático do que um círculo, mas mais moderno do que um quadrado, o hexágono pode ser organizado de forma eficiente em um padrão de favo de mel que sugere o poder da interconectividade e a profundidade da “mentalidade de colmeia”.

Da esquerda para a direita, de cima para baixo: logotipos UNUS SED LEO, eCash, Ankr, Chainlink, BNB, Crypto.com, Gala, Hex, Hive, Numeraire, Storj e Vectorspace

A popularidade do hexágono provavelmente decorre da tentativa dos designers de chegar à representação literal simples da criptografia como uma empresa baseada no blockchain: gire um cubo ou bloco para uma perspectiva diagonal e você estará olhando para um hexágono.

De qualquer forma, a introdução no Twitter de fotos de perfil hexagonais para detentores de NFT provavelmente cimentou o status dessa forma geométrica como o emblema, de fato, do espaço criptográfico.

À medida que a criptomoeda evolui, seus logotipos mudam. Como em qualquer outro setor, esses símbolos precisarão encontrar um equilíbrio entre comunicar familiaridade e legitimidade por meio de elementos de design comuns e conhecidos e promover a distinção explorando abordagens visuais alternativas.

Dada a instabilidade recente nas criptomoedas, é muito provável que vejamos ainda mais novos empreendimentos no espaço optando pelos hexágonos genéricos como uma solução gráfica para sinalizar familiaridade e confiabilidade.


SOBRE O AUTOR

James I. Bowie é sociólogo da Northern Arizona University e estuda tendências em branding e em design de logotipos. saiba mais