Como fazer o medo da IA se tornar confiança em seu poder transformador

Uma ano após a primeira demonstração do ChatGPT para a HRtech Mineral, a tecnologia vem ajudando a empresa a repensar o seu futuro

Crédito: Shelly Still/ iStock

Nathan Christensen 4 minutos de leitura

Há pouco mais de um ano, meu diretor de tecnologia me mostrou o recém-lançado ChatGPT, da OpenAI. Sou CEO de uma empresa que fornece conteúdos e orientações sobre compliance para RH, por isso fiquei preocupado. "Isso pode destruir o nosso negócio", eu disse.

Corta para um ano depois e estamos em uma situação completamente diferente. Em vez de nos distanciarmos da IA, nós a abraçamos. Fizemos experiências com o ChatGPT para ver até que ponto essa tecnologia poderia lidar com as questões de compliance que nos chegam por meio dos nossos clientes.

Criamos um grupo de trabalho interno dedicado a compreender e incorporar a tecnologia em toda a empresa. Na sequência, começamos a criar os nossos próprios GPTs personalizados, para testar se poderíamos combinar o melhor do que fazemos com essa tecnologia emergente. 

Embora tenhamos passado de uma situação de medo para uma de entusiasmo, não foi fácil chegar até aqui. Definir a estratégia foi relativamente simples, mas criar uma nova base cultural para a empresa foi mais complicado.

Foram necessárias inúmeras conversas, alguns erros e um planejamento cuidadoso para repensar a nossa empresa e a experiência de RH dos nossos clientes num mundo com IA.   

a IA deixou de ser uma ameaça contra a qual tínhamos de resistir e passou a ser uma oportunidade a ser aproveitada.

As empresas preparadas para vencer na era da inteligência artificial são aquelas que investem não só na estratégia de IA, mas também apostam em uma cultura contemporânea, que abraça essa tecnologia e responde rapidamente às oportunidades e riscos que ela tende a trazer. 

Antes de qualquer empresa se lançar na implementação da sua estratégia de IA, aqueles que ocupam os cargos de liderança devem se fazer algumas perguntas para avaliar sua preparação cultural. 

1. Os funcionários têm um sólido sentido de propósito?  

Oito em cada 10 executivos concordam que "um sólido sentido de propósito partilhado pelos funcionários impulsiona sua satisfação, facilita a transformação da empresa e ajuda a aumentar a fidelidade dos clientes". E a importância do propósito está prestes a aumentar ainda mais.  

Atualmente, a inteligência artificial alcança ou ultrapassa o desempenho humano em muitas áreas, como a caligrafia, o reconhecimento de voz e imagem, a compreensão de leitura e conclusões que não fujam ao senso comum. Para tirar partido das capacidades da IA, precisamos que as nossas equipes deixem para trás algumas tarefas que elas sempre cumpriram. 

Os funcionários cujas identidades estão ligadas a essas tarefas vão demonstrar resistência, porque a IA representa, para eles, uma ameaça aos seus empregos. Mas aqueles cujas identidades estão ancoradas em uma missão mais ampla vão abraçar as novas capacidades tecnológicas, visto que a IA representa um catalisador de transformação. 

Créditos: Design Cells/ CaryllN/ iStock

Ouço frequentemente essa preocupação: "não podemos deixar o ChatGPT responder às perguntas dos clientes porque essa é uma tarefa que os nossos especialistas em RH fazem, e eles são ótimos nisso." Mas o principal problema não era a ameaça de uma nova tecnologia, e sim o fato de estarmos focando em cada tarefa separadamente, e não em nossa missão como um todo. 

Por isso, lancei o seguinte desafio à equipe: "se o que realmente nos interessa é ajudar o maior número possível de empresas a criar o maior número possível de equipes bem-sucedidas, e se vocês tivessem 50% a mais de tempo para avançar nessa missão, o que fariam?" 

Assim que ampliamos a percepção para a nossa missão de ajudar os clientes a criar equipes de sucesso, a IA deixou de ser uma ameaça contra a qual tínhamos de resistir e passou a ser uma oportunidade que a equipe podia aproveitar. 

2. Será que estamos incentivando o medo entre os funcionários?  

Alguns meses após o lançamento do ChatGPT, realizamos uma pesquisa com nossos funcionários e descobrimos um paradoxo preocupante: a maioria disse que se sentia confortável com a IA generativa e acreditava que ela poderia facilitar seu trabalho. Mesmo assim, poucos disseram que estavam fazendo uso dela.

A razão era simples: o pessoal tinha medo de errar. Logo no início, assim que tomamos conhecimento do ChatGPT, assumimos uma postura defensiva, implementando políticas e treinamentos que alertavam as pessoas para os riscos da IA generativa. Assim, elas interpretaram tais comunicações como se a empresa estivesse adotando uma atitude de risco zero. 

Definir a estratégia foi relativamente simples, mas criar uma nova base cultural para a empresa foi mais complicado.

Depois de vermos os resultados da pesquisa, mudamos a postura. Melhor do que colocar os riscos da tecnologia como o ponto final da conversa, reformulamos nossa visão, colocando os riscos como parte do processo de preparação para utilizar a inteligência artificial de maneira bem-sucedida. Também encorajamos ativamente a equipe a fazer experiências de forma responsável. 

Atualmente, as empresas que prosperam não são as que trabalham mais depressa, mas aquelas que aprendem mais depressa. Este princípio será ainda mais verdadeiro na era da IA, uma vez que novas oportunidades, riscos e vantagens competitivas surgem a uma velocidade sem precedentes.

Uma cultura que permita aquelas falhas que trazem avanços vai garantir que a estratégia e a ação da empresa se desenvolvam continuamente para atender as necessidades de cada momento. 


SOBRE O AUTOR

Nathan Christensen é CEO da Mineral, empresa de produtos e serviços de compliance para recursos humanos. saiba mais