Etarismo e trabalho, uma conta que não fecha

Quantas pessoas aptas estão tristes por terem sido deixadas de lado em um mundo que tem o trabalho como motor social?

Crédito: master1305/ iStock/, Freepik

Genesson Honorato 2 minutos de leitura

No próximo domingo, dia 12 de fevereiro, completo 40 anos. Sim, sou um aquariano raiz, com lua e sol em Aquário. O fato é que cheguei aos 40 anos, há algo com que se preocupar?

Nas últimas viradas de década, tenho ficado reflexivo sobre o tempo, o propósito das coisas, sobre o que deixar de fazer e o que começar a fazer. Dessa vez, além de outras coisas, surge algo que até então não pensava, mas que agora se torna uma realidade: a discriminação do envelhecer, o etarismo, principalmente no mercado de trabalho.

O culto à juventude é um mantra das narrativas sociais e que se prolifera como um raio no mercado de trabalho.

A preocupação é com o que pensam as novas gerações. Quantas vezes você já deve ter visto manchetes como "O que quer a geração Y?" "Como pensa a geração Z?" e “Chegou a vez dos millennials"?

Não estou dizendo que não seja importante, mas que não deveria ser apenas esse o olhar.

O fato é que o Brasil está envelhecendo: 26% da população já tem mais de 50 anos e, até 2040, 57% da força de trabalho terá mais de 45 anos.

Um estudo conduzido pela EY Brasil, em parceria com a Maturi, aponta que 80% das pessoas entrevistadas acredita que as empresas no Brasil são etaristas. Quase metade (48%) apontam que o principal motivo para a não contratação é a resistência das lideranças.

Se trabalhar é um dos principais motores da vida e se a expectativa de vida está cada vez mais alta, o que acontece se continuar o culto à juventude?

Uma pesquisa de agosto de 2022 feita com 6,2 mil pessoas pelo site Vagas.com, Colettivo e Talento Sênior mostrou que 24% dos entrevistados de 30 a 39 anos já sofreram algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho por causa da idade. Profissionais entre 40 e 49 anos são os que mais sofrem, somando 56%.

A discriminação pela idade é tão séria que existe até uma patologia, a gerascofobia. Ela acomete jovens e adultos e se traduz no medo de envelhecer, o que tem levado pessoas à depressão e a outros transtornos emocionais.

Como chegamos a esse ponto?

Se trabalhar é um dos principais motores da vida e se a expectativa de vida está cada vez mais alta, o que acontece se continuar o culto à juventude?

Será que a conta fecha? 

Com o envelhecimento da população, vamos precisar repensar o modelo para conectar as pessoas em sua multiplicidade. E isso precisa acontecer o mais rápido possível.

Já parou para pensar no valor do mix de gerações? Faz sentido olhar só para um recorte em detrimento do outro? O que uma pessoa 50+ tem a dizer sobre um projeto, processo, decisão? Qual seria o seu ponto de vista, quais as soluções possíveis advindas desse olhar?

Quantas pessoas aptas estão tristes por terem sido deixadas de lado em um mundo que tem o trabalho como motor social?

Esse é mais um desafio para profissionais de recursos humanos, mas não apenas. Essa é uma missão coletiva. Que possamos evoluir todos os dias como sociedade e que nós do RH possamos contribuir. 

Cada geração tem suas virtudes. A reinvenção do olhar para a transformação da cultura organizacional é urgente.

A missão não é fácil, há muito a ser feito. É por isso que o RH é tão importante, estratégico e fascinante.


SOBRE O AUTOR

Genesson Honorato é Especialista em RH, Professor, Mentor, Palestrante e TEDx Speaker. saiba mais