Como os Transformers inspiraram o veículo da missão japonesa à Lua

Agência espacial contratou famosa fabricante de brinquedos para desenvolver seu veículo lunar

Créditos: NASA / Unsplash/ Tomy

Nate Berg 3 minutos de leitura

A sonda Smart Lander for Investigating Moon, ou SLIM, pousou na Lua no final do mês passado e a missão foi considerada um grande sucesso pela Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA).

O módulo conseguiu alcançar seu principal objetivo ao pousar a menos de 100 metros do local planejado, uma aterrissagem surpreendentemente precisa após uma viagem de 370 mil quilômetros. Foi como jogar um dardo de um arranha-céu e acertar um alvo na rua.

Mas, apesar de ter conseguido realizar este feito, a aterrissagem não foi perfeita. Fotos transmitidas de volta à Terra mostraram a sonda tombada de forma desajeitada, de cabeça para baixo. Essas imagens foram cortesia de outro importante componente da missão lunar: um pequeno veículo espacial equipado com câmera chamado SORA-Q.

Do tamanho de uma bola de beisebol, este rover é um robô esférico de liga de alumínio que se desprendeu do SLIM antes de tocar a superfície, rolou autonomamente alguns metros e depois apontou a lente de sua câmera para o local de pouso.

Desenvolvido para navegar na superfície áspera e empoeirada da Lua, o SORA-Q foi projetado para se abrir no centro e se expandir, formando duas rodas que o ajudam a se locomover na paisagem lunar e abrindo espaço no meio para a câmera registrar imagens.

Crédito: Tomy

Este design surpreendente é parecido com uma versão espacial da famosa linha de brinquedos Transformers. E isso não é coincidência. O pequeno veículo foi projetado pela Takara Tomy, a fabricante dos bonecos. A JAXA e a empresa vêm trabalhando no projeto desde 2016, quando a agência espacial decidiu buscar ajuda externa para desenvolver robôs para suas missões.

“A partir de trocas com a JAXA, decidimos explorar o conceito de um robô esférico. Mas havia um grande desafio de instabilidade e parada imediata durante a locomoção”, explica Yousuke Yoneda, da Takara Tomy, desenvolvedor do SORA-Q.

A empresa recorreu então a uma de suas franquias de maior sucesso, Transformers, que é baseada em veículos que mudam de forma e se transformam em robôs fortemente armados.

Usando um princípio semelhante, a fabricante percebeu que o rover poderia ser projetado em uma forma compacta para a jornada até a Lua e, em seguida, se transformar em outra mais adequada para a locomoção quando atingisse a superfície.

Crédito: Tomy

Testes mostraram que o protótipo era capaz de se locomover livremente sobre áreas planas e arenosas. Mas apresentava dificuldade em inclinações. 

Mais uma vez, recorrendo a experiências anteriores em torno da articulação dos brinquedos, Yoneda encontrou uma solução para o problema em outra franquia da Takara Tomy, chamada Zoids – uma série de robôs que se parecem e se movem como animais.

O design da coleção foi inspirado em movimentos observados na natureza, como o de filhotes de tartarugas marinhas subindo encostas de areia. Os brinquedos receberam o que a empresa chama de “eixo excêntrico” nas rodas, dando-lhes a capacidade de rolar em um movimento instável e oscilante.

Crédito: Tomy/ Paramount Pictures

A equipe contou com especialistas em diversas áreas da ciência, mas acabou dependendo fortemente da experiência da fabricante de brinquedos. Até em seu interior, o rover apresenta tecnologia similar.

O sistema de transmissão que controla o pequeno veículo foi inspirado em um robô humanoide de 16 centímetros chamado i-Sobot, lançado originalmente em 2007 e que é capaz de andar, dançar e falar 200 palavras e frases. De certa forma, o SORA-Q é menos avançado do que o robô em que se baseia.

Mas foi capaz de realizar com sucesso sua missão, movendo-se de forma autônoma pela superfície lunar e registrando a execução quase perfeita do pouso da sonda japonesa. Com apenas cerca de duas horas de bateria, a função do SORA-Q na missão teve curta duração. Mas seu design continua vivo.

Apostando neste sucesso e não perdendo a óbvia oportunidade de negócio cruzado, a Takara Tomy lançou uma versão de brinquedo do SORA-Q em setembro, com um preço de varejo sugerido de cerca de US$ 180. A empresa afirma que atualmente não tem planos de lançá-lo fora do Japão.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais