Seis perguntas sobre formação de profissionais em games no Brasil

Crédito: Fast Company Brasil

Ana Beatriz Camargo 4 minutos de leitura

Segundo a edição 2021 da pesquisa Consumer Insights, feita pela consultoria NewZoo, quando se olha para a América Latina, do ponto de vista do consumo de jogos digitais, nosso país é, sem dúvidas, o destaque. A região é um mercado liderado pelo mobile, que concentra 48% da receita total em games. O Brasil puxa a fila tanto em termos de jogadores quanto de receita, com um público de 88,4 milhões de pessoas jogando em seus smartphones. Dos US$ 3,5 bilhões de receita com mobile estimados para este ano, US$1 bilhão vem do nosso país. Para 2024, espera-se que a receita chegue aos US$ 5,1 bilhões só com mobile. 

Que existe um mercado consumidor pujante e em crescimento, os dados da Newzoo não deixam dúvidas, mas e quanto ao mercado produtor desses jogos? Nosso país já tem condições de formar profissionais a altura das demandas do mercado global e dos consumidores vorazes por qualidade e inovação?

A primeira graduação disponível no Brasil para formação de profissionais para a indústria de jogos digitais foi criada em 2002 e, atualmente, o país conta com 206 cursos cadastrados no Ministério da Educação (Jogos Digitais e Design de Games). A maior parte das graduações é  oferecida por instituições privadas. 

Professor Alan Carvalho (Crédito: Faculdade Impacta) 

 

Os dados foram computados pelo professor Alan Carvalho, coordenador da graduação em Jogos Digitais da Faculdade Impacta, a partir do Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior (Cadastro e-MEC), Segundo ele, não há dados suficientes disponíveis para obtenção do número exato de profissionais que concluem os cursos. 

Veja 6 perguntas sobre o mercado brasileiro de formação de profissionais em games, respondidas pelo professor Alan Carvalho, da Faculdade Impacta.

1. O que, de fato, é o “mercado de jogos”?

São principalmente as empresas e profissionais que desenvolvem jogos, além dos consumidores (jogadores), mas há outros componentes importantes ao redor disso, como as empresas que promovem eventos, as associações (tanto de profissionais como de empresas), as instituições que formam profissionais, a mídia (especializada inclusive) e até o Estado, pois existem editais de incentivo à cultura voltados ao desenvolvimento de jogos.

2. Em uma graduação desta área, o que é ensinado?  

As graduações de Jogos Digitais costumam ter duração entre dois anos e dois anos e meio (a maioria). Algumas duram três anos. O perfil dos cursos é variado, pois não existe uma determinação centralizada no MEC quanto ao perfil do curso. Assim, cada instituição fica livre para analisar as demandas regionais e as características que pretende incluir no perfil profissional de formação. A graduação que eu coordeno tem dois anos e meio de duração e abordamos tanto a arte visual e áudio, como programação, design de games e produção. Nossa visão é que, a partir do momento em que o aluno tem uma visão mais abrangente da área, tem maiores condições de decidir em que deseja se especializar. Além disso, uma vez que o desenvolvimento de jogos é um trabalho coletivo e interdisciplinar, o fato do aluno conhecer vários aspectos do desenvolvimento é um importante diferencial já que ele será capaz de dialogar melhor com os demais integrantes da equipe.

3. Quais são as possibilidades de atuação de um profissional como este?

No que se refere à atuação profissional, existem diversas posições nas quais os profissionais formados podem atuar, como game designers, programadores, artistas, sound designers, modeladores e produtores, entre outras. Além das mais de 375 empresas brasileiras de desenvolvimento de jogos apontadas pelo Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, é possível trabalhar em empresas de outros ramos de atividade tais como educação, treinamento, saúde e marketing, pois jogos podem ser usados como ferramentas nesses setores. Outra possibilidade é a criação de um estúdio próprio ou a prestação de serviços de forma independente. É possível trabalhar tanto no Brasil como no Exterior, inclusive em home office. Isso depende muito mais das qualificações da pessoa.

4. O Brasil já tem condições de absorver todos esses profissionais, a cada ano?

É uma indústria muito competitiva, que busca profissionais capazes de enfrentar os desafios. Existem vagas para profissionais com mais experiência ou com menos experiência. Temos visto que formados em Jogos Digitais também acabam se colocando em outros setores ligados à criação e tecnologia, dado o perfil de formação.

5. Como as empresas e marcas, que não são desenvolvedoras de games nem de tecnologia, podem olhar e incorporar a expertise desses profissionais?

Justamente percebendo o potencial dos jogos como conteúdos capazes de engajar seu público em diferentes contextos. Além dos jogos, os profissionais formados neste curso têm condições de criar soluções de software que podem atender a diferentes necessidades.

6. Para quem está na dúvida se é a graduação ideal, existe algum pré-requisito para cursá-la? Algum conhecimento necessário ou skill antes de entrar?

Não é necessário ter conhecimentos prévios de programação ou qualquer outro aspecto específico do desenvolvimento de jogos, mas deve ter alguma familiaridade com computadores e com a Internet.


SOBRE A AUTORA

Ana Beatriz Camargo é jornalista, heavy user de redes sociais e escreve sobre o mundo dos games. saiba mais