Como uma das cidades mais quentes da Austrália criou um resort de neve

Como manter um edifício frio o suficiente para a neve não derreter? Basta projetá-lo como se fosse uma geladeira gigante

Créditos: master1305/ iStock/ Max Saeling/ Kirill Pershin/ Unsplash

Kelly Cloonan 4 minutos de leitura

Para quem mora em Sydney e gosta de esquiar, é preciso fazer uma longa viagem até os resorts dos Alpes Australianos. Os maiores, Thredbo e Perisher, ficam situados a cinco horas de carro da cidade.

Mas o Winter Sports World, um resort de esqui climatizado avaliado em US$ 400 milhões na região oeste de Sydney, pretende revolucionar esse cenário. Suas instalações em Penrith ficam na região mais quente da cidade – aquela que atingiu o recorde de 48 °C em 2020 (e ganhou o posto de lugar mais quente do planeta naquele dia). 

Apesar das altas temperaturas do lado de fora, os empreendedores afirmam que o prédio será neutro em carbono graças às suas múltiplas fontes de energia renovável. O projeto da estação de ski recebeu aprovação do Departamento de Planejamento e Meio Ambiente em janeiro e começará a ser construído em breve.

O resort planeja oferecer opções para esquiadores e snowboarders iniciantes e de elite, com uma pista para aprendizes e uma pista aberta avançada de 300 metros, além de uma área para brincadeiras na neve, escalada no gelo, escalada em rocha ao ar livre, restaurantes e um hotel quatro estrelas com 170 quartos.

Crédito: Winter Sports World

Em geral, a neve se manterá em boas condições porque o edifício é capaz de manter sua temperatura fria usando trocadores de calor. Essa tecnologia remove o calor da área com neve, usando esse "calor livre" para abastecer o resort com água quente. 

O fundador do projeto, Peter Magnisalis, diz que o prédio parece um "Esky" gigante (referindo-se a uma marca australiana de refrigeradores portáteis). "O resort é completamente isolado, perfeitamente vedado. Ele propicia um ambiente perfeito para a neve e é muito eficiente, porque não perdemos nem ganhamos calor", ele afirma. 

Crédito: Winter Sports World

Conforme a neve velha for ficando suja, o resort precisará trocá-la por neve fresca. É aí que entram em ação dois tanques gigantes de água. Eles vão coletar o escoamento da chuva do telhado e a neve e o gelo derretidos das encostas, podendo chegar a um máximo de cinco milhões de litros. 

Em seguida, o resort reutilizará essa água em suas máquinas de fabricação de neve, que provavelmente produzirão neve nova cerca de três vezes por semana, segundo Magnisalis. Para o paisagismo do local, eles também vão usar a camada superior de neve que será raspada das encostas todas as noites.

Esse sistema renovável depende muito do design externo do edifício, que usa um sistema de energia solar de três megawatts para gerar cerca de 60% das necessidades de energia elétrica do resort.

Crédito: Winter Sports World

Os painéis fotovoltaicos cobrem o telhado e apontam para o noroeste, maximizando a quantidade de energia solar coletada para alimentar as operações do complexo. Os painéis funcionam como sombras para resfriar o edifício, minimizando a eletricidade necessária para o ar-condicionado interno.

A Collins and Turner, empresa de arquitetura que projetou a parte exterior, conta que o edifício precisou priorizar a funcionalidade. "A maior parte da energia necessária é gerada no próprio edifício", diz o cofundador da empresa, Huw Turner. "Sabíamos que todos os aspectos tinham que ser motivados fundamentalmente por estratégias em prol do meio ambiente."  

Crédito: Winter Sports World

A aparência externa do edifício é tanto prática quanto simbólica. Ao cair da noite, as luzes de LED da fachada ganham vida, projetadas para lembrar uma tempestade de neve.

"Começamos a brincar com diferentes opções e tivemos a ideia dessa tela em camadas, para que o edifício não ficasse com uma aparência plana e bidimensional. Na verdade, ele tem uma profundidade visual muito grande", destaca Turner.

O FUTURO DO ESQUI INDOOR

A Winter Sports World é a primeira estação de esqui coberta da Austrália e uma das cerca de 150 existentes em todo o mundo, situadas em locais como Holanda, Inglaterra, Alemanha, Cingapura e Emirados Árabes Unidos. O maior deles, o Harbin Wanda Indoor Ski Resort, na China, tem pouco menos de três quilômetros de pistas de esqui.

Também há uma estação de esqui coberta nos Estados Unidos, no subúrbio de Nova Jersey. Algumas empresas norte-americanas, como a Alpine X, esperam trazer mais instalações fechadas de esqui para os EUA, já que as mudanças climáticas ameaçam as condições naturais de neve.

Crédito: Winter Sports World

Alguns resorts de esqui ao ar livre já foram obrigados a fechar suas portas em definitivo, enquanto outros no Canadá e na Espanha encurtaram suas temporadas, pois é difícil manter as pistas abertas com a neve tão escassa.

Magnisalis acredita que as estações de esqui cobertas podem ser o futuro do esporte. "No ambiente externo, quem manda é o clima. Se houver vento e as condições climáticas não forem adequadas, a neve tende a se degradar rapidamente", explica. "Mas no nosso ambiente, o clima é perfeito o tempo todo”.

Crédito: Winter Sports World

No ano passado, no inverno de 2023, a Austrália teve sua pior temporada de neve em 17 anos, de acordo com os níveis de profundidade de neve registrados pela Snowy Hydro. Como resultado, alguns resorts de esqui encerraram a temporada mais cedo do que o normal. 

Quanto ao aspecto exterior do resort, Magnisalis não poderia estar mais satisfeito com o resultado: "Ele representa tudo o que é o Winter Sports World. É bastante ousado. É impressionante, quase intimidador. Cria uma onda de emoção, exatamente como quando você vai para a montanha esquiar."


SOBRE A AUTORA