Coral Vita corre contra o tempo para salvar corais do aquecimento do oceano

Startup teve que agir rapidamente durante o verão para remover corais de oceanos aquecidos antes que começassem a branquear

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

Adele Peters 4 minutos de leitura

Em julho, a equipe de uma startup de restauração de recifes de coral nas Bahamas acompanhava os noticiários enquanto a temperatura das águas na costa da Flórida chegava a 38ºC e começava a matar os corais.

“Isso afetou a Flórida antes de chegar aqui”, relata Sam Teicher, cofundador da Coral Vita. “Vimos o que estava acontecendo com os recifes naturais e com os projetos de restauração. Os danos eram devastadores e catastróficos, antes de chegarem às Bahamas. Decidimos fazer tudo o que estivesse ao nosso alcance para proteger os corais.”

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

Eles já sabiam que o calor provavelmente seria um problema, pois o programa Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, havia emitido alertas.

Quando as temperaturas subiram nas águas da Flórida, a equipe entrou em ação, coletando amostras de diferentes espécies que poderiam ser transportadas para tanques em sua fazenda de corais em terra, localizada na ilha de Grand Bahama.

À medida que se dirigiam aos recifes locais, uma cientista da equipe, Katelyn Gould, notou que uma espécie de coral já estava começando a perder sua coloração. Esse processo, chamado de “empalidecimento”, é um estágio anterior ao branqueamento total, quando os corais expulsam as algas que vivem em seus tecidos e seu esqueleto fica branco.

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

A principal causa do branqueamento é o aumento da temperatura da água. Se persistir por tempo suficiente, os corais não sobrevivem.

A equipe viajou por vários recifes, coletando amostras diversas – 150 colônias de coral geneticamente distintas, representando 13 espécies diferentes – e as levou para sua fazenda, onde foram mantidas em quarentena por algumas semanas antes de serem transferidas para tanques com temperatura controlada.

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

Dentro dos tanques, a empresa ajuda os corais a se recuperar em águas mais frias e vai aumentando gradualmente a temperatura para ajudá-los a se adaptarem lentamente. “Os corais têm a capacidade de se adaptar”, explica Teicher, mas a situação nos oceanos está “se deteriorando tão rapidamente que eles não conseguem acompanhar”.

Enquanto trabalha com corais em sua fazenda, a equipe estuda como diferentes fragmentos se comportam conforme que a água se aquece. Usando um sistema de reprodução em ambiente fechado, também consegue criar exemplares que parecem mais resilientes. Os corais se reproduzem naturalmente apenas uma vez por ano, sob a lua cheia, mas, no sistema fechado, podem se reproduzir até quatro vezes por ano.

As amostras resgatadas podem ser replantadas do jeito que estão ou podem ser quebradas em pequenos pedaços, para ajudá-las a crescer rapidamente e aumentar a escala da restauração.

Nos últimos 18 meses, a Coral Vita plantou quase 10 mil corais nas Bahamas. A empresa está prestes a iniciar um projeto ainda maior, com o apoio do novo Fundo Global para Recifes de Coral e de um hotel local, cobrindo alguns hectares de recife.

Esse trabalho é uma corrida contra o tempo. O oceano já está atingindo temperaturas que grupos como a Coral Vita não esperavam ver até o final do século. Um relatório climático da ONU de 2018 afirmou que, se o aquecimento global atingir 1,5ºC, os recifes de coral podem diminuir entre 70% e 90%.

Um estudo mais recente sugere que, com 1,5ºC de aquecimento, mais de 99% dos corais desapareceriam. E o mundo está a caminho para ultrapassar essa marca na próxima década.

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

Com uma janela de tempo tão curta, a Coral Vita vem trabalhando para expandir seus esforços para além das Bahamas. A empresa vai operar uma nova fazenda de corais de grande porte, planejada pela Universidade Kaust, na Arábia Saudita, e está colaborando com a DP World em outro projeto em Dubai.

“Nossa visão sempre foi ter escala global”, afirma Teicher. “Cada nação que possui recifes precisa de fazendas de corais em grande escala e alta tecnologia.” Outras empresas estão desenvolvendo tecnologias que podem acelerar o processo, incluindo sistemas robóticos para o plantio de corais.

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

No entanto, ainda não está claro se a indústria pode expandir com rapidez suficiente. Nas Bahamas, antes de a Coral Vita abrir sua primeira fazenda, 60% a 80% dos corais já haviam morrido. A área enfrentou múltiplas ondas de calor, junto com uma doença que começou a se espalhar há alguns anos. O atual evento de branqueamento tem sido extremo, e não se sabe quantos corais conseguirão sobreviver.

Mas é crucial tentar fazer o máximo possível. A perda dos recifes não seria apenas a perda de um ecossistema bonito, mas também prejudicaria a pesca, que depende dos corais para sustentar os peixes. Cerca de 25% de todas as espécies marinhas dependem deles em algum momento de suas vidas.

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

O desaparecimento dos recifes também tornaria as cidades costeiras mais vulneráveis às tempestades; uma vez que eles são responsáveis por absorver 97% da energia das ondas.

“É desolador e frustrante perder um ecossistema tão incrível”, ressalta Teicher. “Mas estamos falando também de um ecossistema que protege as linhas costeiras contra tempestades, salvando vidas, propriedades e infraestruturas, impulsiona o turismo e alimenta pessoas em todo o mundo.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais