Fotos mostram o que realmente acontece com o bioplástico que vai parar no mar

Novo relatório ilustra como nem todos os bioplásticos são iguais – e não devem ser automaticamente considerados como a solução

Créditos: Whity2j/ iStock/ Isabel Noschka/ Unsplash

Adele Peters 3 minutos de leitura

No verão de 2021, pesquisadores da organização sem fins lucrativos 5 Gyres transportaram uma caixa cheia de amostras de lixo plástico para um cais em Long Beach, Califórnia. Dentro, havia 22 itens (de canudos e garrafas a canetas, aplicadores de absorventes internos e lenços umedecidos para bebês), feitos de diferentes tipos de bioplástico, plástico convencional e materiais naturais, como bambu e papel.

A caixa foi submersa na água e ancorada no fundo do mar com tijolos. A equipe retornou ao local periodicamente por mais de um ano para medir o nível de degradação de cada item.

Pode parecer que um garfo de bioplástico se desintegraria rapidamente, mas esse nem sempre é o caso. “Queremos dar transparência à publicidade sobre o que acontece com esses materiais quando entram no meio ambiente”, explica Lisa Erdle, diretora de ciência e inovação da 5 Gyres, que acabou de lançar um relatório sobre a pesquisa.

Crédito: 5 Gyres

O experimento foi repetido ao longo de 64 semanas em vários outros ambientes: no oceano, no deserto, em uma área pantanosa e em uma floresta temperada. O ambiente mostrou ser um fator crucial – o bioplástico se degradou mais rapidamente em temperaturas mais altas e quando havia mais micróbios presentes. No mar da Flórida, um canudo de bioplástico não durou tanto quanto nas águas geladas do nordeste dos EUA.

Crédito: 5 Gyres

Além disso, a pesquisa revelou que o tipo de bioplástico faz diferença. Um canudo feito de PHA (um bioplástico conhecido por sua capacidade de biodegradação) se decompôs no mar tão rapidamente quanto materiais naturais como papel ou bambu.

Mas, em terra, quando enterrado sob solo ou areia, ele só começou a mostrar sinais iniciais de decomposição no final do estudo, após 64 semanas. Uma garrafa de PHA se degradou lentamente tanto no mar quanto em terra, permanecendo quase intacta durante todo o estudo na água fria.

Crédito: 5 Gyres

Um filme plástico fino feito de PLA (material frequentemente feito de milho) se decompôs mais lentamente do que o mesmo item feito de PHA. A espessura do material também é outro fator que influencia a decomposição: garfos e tampas de garrafa se degradaram mais lentamente do que canudos.

Um garfo pode levar meses para começar a se decompor no oceano, e ainda mais tempo em terra. O mesmo vale para um garfo feito de um material natural como bambu.

Algumas das descobertas podem servir de inspiração para um melhor design de produtos. Os designers podem optar por torná-los mais finos, ou evitar misturar materiais. No estudo, estes itens quase não se degradaram.

Além disso, se um material de bioplástico for projetado com mais furos, ou com uma estrutura de favo de mel, “há mais área de superfície que os micróbios podem acessar, e, portanto, podem se degradar em um período de tempo mais curto”, explica Erdle.

Crédito: 5 Gyres

Mas a pesquisa destaca uma questão importante: mesmo quando projetado para se decompor, o plástico de uso único ainda representa um problema para o meio ambiente.

“Independentemente do material, sempre haverá um custo ambiental”, observa Erdle. Em última análise, para itens como embalagens, faz mais sentido focar em sistemas reutilizáveis.

Ainda assim, ela diz que há casos específicos em que o bioplástico pode ser útil. Redes de pesca, por exemplo, poderiam se decompor antes de causar danos a baleias e a outras formas de vida marinha.

Crédito: 5 Gyres

Além disso, quando o plástico não pode ser facilmente substituído, mas tem uma função útil – como as embalagens de queijos ou carnes, que ajudam a prolongar a vida útil do produto, evitando o desperdício de alimentos –, uma opção de bioplástico poderia fazer sentido.

O bioplástico pode reduzir a pegada de carbono de embalagens ou de outros itens, especialmente se for feito a partir de algo como resíduos de alimentos. No estudo, ele se degradou mais facilmente do que o plástico convencional, que permaneceu completamente intacto.

Com mais de 14 milhões de toneladas de resíduos plásticos indo parar nos oceanos a cada ano, a mudança de materiais faria a diferença. Mas, se fragmentos de um material biodegradável podem durar mais de um ano na natureza, qualquer marca que o utilize precisa tomar muito cuidado ao alardear a solução do problema da poluição plástica.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais