Stella McCartney lança casaco feito com plástico reciclado biologicamente

A estilista e a empresa de reciclagem biológica Protein Evolution lançaram a novidade na Conferência do Clima da ONU (COP28), em Dubai

Créditos: Stella McCartney/ Protein Evolution

Kristin Toussaint 4 minutos de leitura

Como a maioria dos casacos esportivos, o novo modelo criado por Stella McCartney (um tipo conhecido como parca no mundo da moda) é feito de poliéster. Mas, ao contrário das outras parcas, esta não utiliza poliéster vindo diretamente do petróleo. Ela é feita a partir de resíduos de embalagens e de cintas de tecido feitas para segurar contêineres de carga.

Lançada na COP28, em Dubai, esta é a primeira peça produzida com reciclagem biológica, um processo no qual enzimas decompõem resíduos plásticos.

Crédito: Stella McCartney/ Divulgação

A parca foi criada em parceria com a Protein Evolution, empresa de reciclagem biológica que afirma que seu processo de decomposição de plásticos com enzimas produz poliéster "indistinguível" do poliéster virgem. A parca é uma prova de conceito para essa nova tecnologia.

A reciclagem biológica pode ser um passo decisivo rumo à circularidade para a indústria da moda. Segundo a consultoria McKinsey, menos de 1% dos resíduos têxteis são reciclados em novas fibras.

No que diz respeito aos resíduos plásticos, o principal tipo de reciclagem disponível hoje é a mecânica – em que pese o fato de que a maioria do plástico nem sequer é reciclada. "O problema da reciclagem mecânica é que a qualidade do material é reduzida", diz Connor Lynn, cofundador e diretor de negócios da Protein Evolution.

Com a reciclagem biológica, porém, a qualidade do material não muda. Os tecidos de poliéster podem passar pelo processo novamente, sem enfraquecer as fibras ou precisar ser misturados com material virgem.

Crédito: Protein Evolution

O processo de reciclagem biológica da Protein Evolution, chamado Biopure, utiliza enzimas projetadas por inteligência artificial para decompor PET ou poliéster em monômeros (moléculas capazes de se unir).

Esses monômeros são transformados em chips de PET, que podem ser transformados em fios e tecidos. Esses chips são iguais aos chips de poliéster virgem e, por isso, podem ser utilizados nos sistemas de fabricação já existentes.

O uso de enzimas para decompor plástico não é totalmente novo, mas a Protein Evolution destaca que seu processo de IA permite criar enzimas com taxas de atividade mais altas, ou que são mais efetivas em certas condições. A expectativa é que, um dia, eles consigam produzir enzimas que funcionem para nylon ou poliuretano.

Crédito: Protein Evolution

A reciclagem química também decompõe o PET em seus monômeros. Mas, se contaminantes (como plásticos não-PET) se misturam com o que está sendo reciclado, isso pode afetar a qualidade do produto final. Além disso, é um processo que consome muita energia e que requer temperaturas e pressões imensas, que podem liberar produtos químicos tóxicos e emissões de gases.

Em contrapartida, o processo da Protein Evolution não precisa de alta energia ou temperatura, além de produzir menos emissões. A empresa diz que, em comparação com o poliéster virgem, seu processo produz cerca de 70% menos CO2.

O Collab SOS de Stella McCartney, um fundo de venture capital (capital de risco) climático em parceria com a Collaborative Fund, liderou a rodada de financiamento de US$ 20 milhões da Protein Evolution em 2022. A marca da estilista foca há anos em sustentabilidade na indústria da moda e já chegou a trabalhar com materiais de última geração, como couro de cogumelos.

Crédito: Protein Evolution

A parceria entre Stella McCartney e a Protein Evolution envolveu um ano de pesquisa e desenvolvimento. Durante esse período, tecidos não vendidos de coleções anteriores da grife foram usados como matéria-prima para testar e comprovar o processo de reciclagem biológica.

A parca final foi feita com resíduos de embalagens e cintas de poliéster porque a marca não tinha muitos restos de tecido, diz Lynn, e também para aproveitar a grande quantidade de resíduos industriais das cintas.

"Essas cintas são realmente difíceis de decompor. Elas chegam a ter vários centímetros de espessura, e triturá-las pode ser bastante difícil. O processo de reciclagem mecânica basicamente as trituraria em fibras que não poderiam ser usadas novamente. É um material que não teria sobrevida", explica Lynn.

Crédito: Protein Evolution

A parca desenhada pela grife de Stella McCartney ficará em exibição na COP28, a conferência climática da ONU, até 12 de dezembro, ao lado de uma versão reduzida de um reator Protein Evolution, como uma demonstração do processo de reciclagem biológica.

McCartney ainda não pode revelar seus planos futuros para roupas de poliéster reciclado biologicamente, mas diz que espera que "as marcas vejam isso como uma oportunidade de mudar sua forma de trabalhar e de se tornarem mais circulares."

O próximo passo da Protein Evolution é construir uma instalação para demonstração da técnica, que deve começar em 2024 e terá a capacidade de reciclar mil toneladas de resíduos plásticos por ano.


SOBRE A AUTORA

Kristin Toussaint é editora assistente da editoria de Impacto da Fast Company. saiba mais