Este blusão feito com sobras de algodão pode ser o futuro da moda

Parceria entre a startup de reciclagem de têxteis Evrnu e o estilista Christopher Bevans é uma amostra de como a moda sustentável pode evoluir

Crédito: Evrnu

Elizabeth Segran 3 minutos de leitura

O estilista de moda masculina Christopher Bevans já desenhou looks de tapete vermelho para artistas como Jay-Z, Prince e John Legend. Mas, atualmente, ele tem se concentrado nos componentes das fibras das roupas que cria, e não apenas em sua aparência. 

Bevans acaba de lançar um blusão de moletom de cor creme feito em parceria com a Evrnu, startup que cria novas fibras a partir de resíduos de algodão. O moletom com capuz (disponível por US$ 600 no site da Evrnu) é feito de Nucycl, um material compostável, biodegradável e infinitamente reciclável.

A Evrnu faz parte de uma onda de startups que tentam reduzir o imenso impacto do setor da moda sobre o planeta, fabricando fibras recicladas que são tão eficazes e econômicas quanto os materiais virgens.

Bevans é o primeiro de vários estilistas que estão firmando parceria com a startup para criar roupas usando Nucycl "Cansei de ver desperdício. Os recursos de reciclagem estão aqui, e é hora de pressionarmos o setor a adotá-los", defende.

A RECICLAGEM COMO SOLUÇÃO 

O setor da moda produz um número gigantesco de roupas todos os anos: as estimativas variam entre 80 bilhões e 150 bilhões de unidades. É provável que esse número só aumente conforme marcas de fast fashion, como Shein e Temu, inundam o mercado com milhares de novos modelos por dia. 

Criar tantas peças significa extrair matérias-primas, inclusive algodão e combustível, o que esgota os recursos naturais e gera emissões de carbono. A reciclagem de tecidos é uma ferramenta importante para reduzir esse impacto. 

Crédito: Evrnu

Stacy Flynn, uma veterana do setor de moda, decidiu lançar a Evrnu há uma década. Ela se associou a Christopher Stanev, um engenheiro têxtil, para descobrir uma maneira de usar a química para decompor tecidos e recriar as fibras de que são feitos. 

Sua tecnologia funciona com muitos materiais diferentes, mas Flynn concentrou-se estrategicamente no algodão, porque é biodegradável e não causa o tipo de poluição microplástica gerada por fibras sintéticas, como poliéster e náilon. 

Crédito: Evrnu

A tecnologia para transformar tecidos velhos em novos já existe há anos. Agora, o desafio é ampliar a operação para ajudar o setor a se afastar das fibras virgens e também reduzir o preço dos tecidos reconstituídos, para que eles possam competir com as fibras virgens. Isso implica fazer com que as marcas invistam na encomenda de mais materiais que sejam sustentáveis. 

Nos últimos anos, várias marcas criaram coleções cápsulas que usaram a Nucycl, incluindo Levi's, Stella McCartney e Zara. Mas agora, a Evrnu precisa ir além de pequenos projetos-piloto e fazer pedidos em quantidade suficiente para manter sua fábrica em funcionamento.

A LUTA PARA GANHAR ESCALA

Flynn sabe que fazer a Evrnu decolar será uma batalha difícil. Por um lado, as marcas de roupas tendem a ser muito sensíveis ao preço, e as fibras da Nucycl são um pouco mais caras do que o algodão virgem.

"Uma coisa que ouvimos das marcas e dos varejistas é que os consumidores não querem pagar nada a mais", diz ela. "O modelo de negócios do fast fashion é baseado em comprar barato e vender muito. E ninguém quer mudar esse padrão, porque tem medo de não atingir seus números de vendas."

Flynn acredita que o setor está subestimando o desejo de mudança dos consumidores. Já está claro que a moda muito barata está prejudicando negativamente o planeta e até a nossa saúde. Flynn acredita que, se a Evrnu apresentar uma melhoria – como uma fibra melhor e de maior qualidade –, alguns consumidores se interessarão por ela, mesmo que custe um pouco mais caro.

Crédito: Evrnu

Flynn aposta que o sucesso dessa marca incipiente vai depender muito da disposição dos consumidores em mudar seu comportamento. Embora alguns defensores da sustentabilidade acreditem que serão necessárias regulamentações do governo para reduzir o impacto do setor da moda, ela confia que os consumidores podem e vão passar a pagar mais por materiais mais sustentáveis. 

"Os consumidores são a parte interessada mais importante em toda a equação desse sistema", diz Flynn. "Se eles não comprarem, não haverá negócio. Acho que os danos colaterais associados à fast fashion estão sendo revelados neste momento, e os consumidores estão preparados para a mudança."


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais