Estas startups têm um plano para combater os impactos da fast fashion

A Shein pode estrear na bolsa de valores em 2024. Mas brechós online pretendem fazer frente à sua dominância no mercado

Crédito: baona/ iStock

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Já faz mais de 10 anos que ativistas ambientais, jornalistas e consumidores começaram a atacar H&M e Zara por causa de suas práticas comerciais. Essas marcas foram pioneiras do fast fashion, que envolve a produção em massa de roupas "descoladas" a preços irrisórios.

Nesse processo, as peças foram se transformando em itens baratos e descartáveis. Agora, porém, já ficou claro que essa forma de pensar o comercio de roupas é profundamente antiética, pois acelera as mudanças climáticas e explora os trabalhadores.

H&M e Zara absorveram as críticas e adotaram medidas em direção a práticas mais sustentáveis, como o uso de materiais de melhor qualidade e o pagamento de valores mais altos às confecções.

Trabalhadores de uma confecção na província de Guangdong, na China, que fornece para a Shein (Crédito: Jade Gao/ AFP/ Getty Images)

No entanto, nos bastidores, uma ameaça maior estava surgindo. A startup chinesa Shein foi lançada em 2012 e começou a fabricar roupas a preços mais baixos e com maior rapidez do que qualquer concorrente, lançando até 10 mil novos itens em seu site diariamente.

A Shein agora representa metade de todas as vendas de fast fashion no mundo (mais do que H&M e Zara juntas). Na semana passada, a imprensa divulgou que a Shein apresentou um pedido de IPO para abrir seu capital nos EUA.

Mesmo quando são incluídas as emissões do envio para o cliente, as roupas usadas têm uma pegada ambiental muito menor.

Diante da ascensão de um novo gigante no consumo de moda, é fácil perder as esperanças de que essa indústria algum dia será limpa e de que conseguiremos evitar a iminente catástrofe climática. Mas algumas pessoas não vão desistir tão cedo.

As plataformas de revenda Vestiaire Collective e ThredUp, por exemplo, estão liderando a luta contra a moda descartável nos EUA. Ambas partem para cima da Shein em suas campanhas de marketing, divulgando o quanto ela causa danos às pessoas e ao planeta.

Embora essas táticas não tenham um impacto imediato no balanço da Shein, essas empresas acreditam que vale a pena apostar no longo prazo, educando a próxima geração de consumidores sobre por que a moda descartável é tão destrutiva e como fazer compras de maneira mais ética.

BRECHÓS X FAST FASHION

Os brechós online compram e revendem roupas de segunda mão, permitindo que os consumidores adquiram itens a preços mais baixos do que se comprassem novos.

Como os consumidores de fast fashion tendem a ser atraídos por preços baixos, os brechós conseguem competir diretamente com marcas desse segmento. E o setor de revenda está crescendo rapidamente, esperando dobrar de tamanho até 2027.

Uma maneira pela qual as plataformas de revenda atraem os consumidores é destacando o quão mais sustentável é comprar produtos usados em vez de novos. Criar uma peça nova requer a extração de matérias-primas, transporte e confecção em uma fábrica, gerando todos os tipos de gases de efeito estufa.

Lixo têxtil depositado no deserto do Atacama, no Chile (Crédito: Lucas Aguayo Araos/ Anadolu Agency /Getty Images

Comprar uma peça de segunda mão significa evitar quase todo esse impacto negativo. Mesmo quando são incluídas as emissões necessárias para enviar um item de segunda mão a um cliente, pesquisas apontaram que roupas usadas têm uma pegada ambiental significativamente menor.

Erin Wallace, vice-presidente de marketing integrado da ThredUp, diz que a Shein está agora saturando a indústria de fast fashion e criando um volume tão grande de roupas, e a uma velocidade tão rápida, que é importante tratar desse assunto. "Nosso objetivo é construir um futuro no qual vamos reaproveitar mais roupas do que produzir novas”.

PROIBIÇÃO DA MODA DESCARTÁVEL

O Vestiaire Collective tomou uma atitude contra a Shein ao bani-la de sua plataforma no ano passado. Da noite para o dia, vendedores que tinham listado produtos da Shein descobriram que eles haviam sido removidos. "Sentimos que era importante tomar uma posição e conscientizar", diz Samina Virk, CEO da Vestiaire Collective na América do Norte.

A Shein não é a única marca que o Vestiaire tirou de seu site. Eles têm combatido toda a indústria de fast fashion. No ano passado, a plataforma baniu 33 marcas de moda rápida – entre elas ASOS, Fashion Nova e Forever 21 – e incluiu outras 30 à lista este ano, como Zara, H&M, Gap, Benetton e Urban Outfitters. A empresa planeja adicionar mais marcas no ano que vem.

Crédito: Thredup

"Acho que ninguém que compra fast fashion quer causar um impacto ambiental negativo de propósito”, diz Virk. "Por isso, estamos incentivando as pessoas a comprar com foco na durabilidade e na qualidade, para que possam manter uma peça por mais tempo ou obter um preço melhor em um brechó."

A ThredUp ainda vende marcas de moda rápida porque quer manter esses produtos fora dos aterros sanitários. Mas não paga aos vendedores por itens da Shein e de outras marcas de baixa qualidade, nem ganha dinheiro vendendo esses produtos. Os valores pagos pelos compradores cobrem só os custos de logística.

Em outras palavras, as pessoas podem, basicamente, doar suas roupas antigas de fast fashion para a ThredUp, para que a plataforma encontre pessoas para comprá-las.

Usando seu marketing para destacar os problemas da fast fashion, essas plataformas de revenda acreditam que podem mudar lentamente a cultura de consumo de roupas, o que pode alterar gradualmente o comportamento de compra das pessoas.

"Nossa esperança para o futuro é que a indústria da moda produza menos e reutilize mais", resume Wallace.


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais