Turbulência em voos com céu limpo e claro: é comum? É perigoso?

O uso do cinto de segurança oferece a melhor proteção para os passageiros

Crédito: iSailorr iStock

Wyatte Grantham Philips 5 minutos de leitura

Os possíveis perigos de voar em condições instabilidade no ar ficaram em evidência com a morte recente de um britânico e os traumas que afetaram dezenas de outros passageiros de um voo da Singapore Airlines na última quarta-feira (22 de maio).  O passageiro de 73 anos provavelmente sofreu um ataque cardíaco, embora isso não tenha sido confirmado. 

Apesar de as fatalidades relacionadas à turbulência serem bastante raras, as ocorrências de acidentes se acumulam ao longo dos anos. Alguns meteorologistas e analistas de aviação observam que os relatos de problemas de turbulência têm aumentado. E apontam para os possíveis impactos da mudança climática nas condições de voo.

No entanto, a maioria dos incidentes de aviões que se chocam com o ar turbulento é de pouca gravidade, e as companhias aéreas têm feito melhorias constantes para reduzir os índices de acidentes causados pela turbulência com o passar do tempo.

Os especialistas recomendam enfatizar, sempre que possível, a importância do uso do cinto de segurança como primeira medida de proteção.

O QUE É TURBULÊNCIA?

A turbulência é essencialmente o ar instável que se move de forma não previsível. A maioria das pessoas associa o fenômeno a tempestades fortes. No entanto, o tipo mais perigoso é a turbulência de ar limpo, que geralmente ocorre sem nenhum aviso visível no céu à frente.

meteorologistas e analistas de aviação observam que os relatos de problemas de turbulência têm aumentado.

"Quando há um forte deslocamento do vento perto da corrente do jato, isso pode fazer com que o ar transborde. E isso gera movimentos caóticos no ar", explica Thomas Guinn, presidente do departamento de ciências da aviação aplicada da Universidade Aeronáutica Embry-Riddle.

As investigações sobre o que aconteceu durante o voo da Singapore Airlines ainda estão em andamento. A companhia aérea informou que o Boeing 777-300ER desceu cerca de 1,8 mil metros em cerca de três minutos, depois de passar por uma forte turbulência sobre o oceano Índico.

FREQUÊNCIA DE ACIDENTES RELACIONADOS À TURBULÊNCIA

É difícil calcular o número total de vítimas de acidentes relacionados à turbulência em todo o mundo,mas alguns países publicam dados nacionais. Por exemplo, mais de um terço de todos os incidentes com companhias aéreas nos Estados Unidos de 2009 a 2018 foram relacionados à turbulência. A maioria deles resultou em um ou mais ferimentos graves, mas sem danos ao avião, informou o National Transportation Safety Board.

O Boeing 777-300 da Singapore Airlines desceu cerca de 1,8 mil metros em cerca de três minutos.

"Não é raro haver encontros com turbulência que causem ferimentos leves ou até, digamos, um osso quebrado", explica Larry Cornman, cientista de projetos do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica da National Science Foundation, que há muito tempo estuda turbulências. "Mas as fatalidades são muito, muito raras, especialmente em grandes aviões de transporte."

Procedimentos de segurança padronizados têm ajudado muito a evitar mais casos de lesões graves ao longo dos anos. Eles incluem a revisão das previsões meteorológicas, a exigência de que os pilotos informem quando encontrarem turbulência e a suspensão do serviço de cabine quando os aviões atingirem o ar instável.

OS PILOTOS PODEM EVITAR UMA TURBULÊNCIA?

Os pilotos usam uma variedade de métodos para evitar turbulência, incluindo o uso de uma tela de radar meteorológico. Às vezes, eles podem simplesmente avistar e voar ao redor de tempestades.

Procedimentos de segurança padronizados têm ajudado a evitar lesões graves em caso de turbulência.

Mas a turbulência em ar limpo "é um animal completamente diferente", afirma Doug Moss, ex-piloto de linha aérea e consultor de segurança. Ela pode ser avassaladora, disse ele, "porque o momento anterior ao incidente pode ser muito calmo, e as pessoas são pegas de surpresa".

Os controladores de tráfego aéreo avisam os pilotos depois que outro avião entra em turbulência no ar. Muitos pilotos também observam as correntes de jato de grande altitude ao longo de sua rota em busca de sinais de rajadas de vento e, em seguida, planejam voar acima, abaixo ou ao redor dessas áreas. Os aviões modernos são fortes o suficiente para lidar com praticamente qualquer turbulência.

A MUDANÇA CLIMÁTICA ESTÁ CAUSANDO O AUMENTO DAS TURBULÊNCIAS?

Alguns cientistas observam que os relatos de encontros com turbulência estão aumentando. Há várias explicações possíveis para isso, mas vários pesquisadores apontaram para possíveis impactos climáticos. Alguns preveem que a mudança climática poderia alterar as correntes de jato e aumentar o deslocamento dos ventos, o que consequentemente aumentaria a turbulência no ar.

Os aviões modernos são fortes o suficiente para lidar com praticamente qualquer turbulência.

Paul Williams, professor de ciências atmosféricas da Universidade de Reading, na Inglaterra, disse que há "fortes evidências de que a turbulência está aumentando devido às mudanças climáticas". 

Ainda assim, outros dizem que outros fatores também podem estar em jogo, como um aumento no tráfego aéreo geral, que pode aumentar os encontros de turbulência à medida que o número de pistas de voo, incluindo aquelas em áreas de maior turbulência, aumenta.

COMO OS PASSAGEIROS PODEM SE MANTER SEGUROS?

Em poucas palavras: aperte o cinto de segurança. A turbulência pode ser difícil de prever, mas os especialistas enfatizam que a primeira linha de defesa no ar é manter o cinto de segurança afivelado sempre que possível.

"Os aviões são geralmente construídos para aguentar turbulência", explica Guinn, observando que o fato de os passageiros não usarem o cinto de segurança é uma grande causa de ferimentos causados por turbulência durante o voo. Embora nenhuma precaução seja infalível, o uso do cinto de segurança aumenta muito as chances de uma pessoa evitar ferimentos graves.


SOBRE O AUTOR

Wyatte Grantham Philips é jornalista de negócios na Associated Press. saiba mais