Conheça Concert, o robô que automatiza o trabalho na construção civil

Será que um novo robô, altamente modular, finalmente vai trazer automação na construção civil?

Crédito: Instituto Italiano de Tecnologia

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Conforme as cidades vão crescendo e os projetos de infraestrutura se tornam mais ambiciosos, o setor de construção enfrenta um grande problema: não há trabalhadores suficientes.

Só nos EUA, será necessário atrair cerca de meio milhão de trabalhadores da construção civil em 2025 para atender à demanda. O cálculo é da associação comercial Associated Builders and Contractors. Na verdade, a indústria de construção nos EUA enfrenta a escassez desde a Grande Recessão de 2008, quando perdeu 30% de sua força de trabalho.

Em resposta a isso, nas últimas décadas, dezenas de robôs para construção surgiram no mercado. Mas esses robôs foram desenvolvidos para realizar tarefas consideradas perigosas ou repetitivas. Não para substituir os humanos.

Até agora, o maior obstáculo para a adoção mais ampla desses robôs tem sido o fato de que muitos deles só realizam um número limitado de tarefas. Mas isso pode mudar em breve: pesquisadores do Instituto Italiano de Tecnologia projetaram algo que eles chamam de robô modular mais avançado do mundo. Eles se referem à personalização das partes que o compõem.

Chamado de Concert, ele pode realizar uma ampla variedade de tarefas, incluindo perfuração, aplicação de isolamento, lixamento e transporte de cargas de até 180 quilos.

O nome Concert vem da ideia de ser "composto" ou montado para diferentes cenários. Ele é formado por uma base móvel e um braço modular que lembra um pouco um rover de Marte.

A base é equipada com rodas que podem ser trocadas conforme o tipo de terreno. O braço robótico pode ser equipado com diversas ferramentas, dependendo da tarefa a ser realizada.

Os pesquisadores testaram o Concert na Polônia e a expectativa é que ele esteja disponível no mercado dentro de dois a três anos.

POR QUE É TÃO DIFÍCIL CRIAR UM ROBÔ PARA CONSTRUÇÃO?

Quando se trata de automação, a indústria da construção está bem atrás de outros setores. Um dos maiores desafios é que os canteiros de obras são complexos, imprevisíveis e descentralizados.

Ao contrário de uma fábrica, em que as operações tendem a ser fixas, os canteiros de obras podem variar muito de um para o outro.

“Isso torna tudo muito mais complexo para o robô”, explica Nikolaos Tsagarakis. O cientista sênior tem estabilidade acadêmica e coordenador do projeto Concert, que estuda robótica há 30 anos.

Para um robô ser útil e eficiente em um canteiro de obras, ele precisa ser capaz de se adaptar e ter autonomia.

Outro desafio é a variedade de tarefas realizadas em uma obra. Quando as empresas desenvolvem um robô para uma tarefa específica, elas estão oferecendo alternativas mais eficientes e seguras para os humanos.

No entanto, essas alternativas não são sustentáveis a longo prazo para as construtoras. “As maiores empresas de construção precisam de sistemas que sejam multifuncionais”, diz Tsagarakis.

COMO OS PESQUISADORES DESENVOLVEM UM ROBÔ QUE FUNCIONA

Para entender melhor o que as empresas de construção realmente precisam, os pesquisadores desenvolveram o Concert em colaboração com a Budimex, uma das maiores construtoras da Polônia. A equipe também trabalhou com parceiros de pesquisa na Áustria e na Alemanha.

Graças a uma bolsa de US$ 3 milhões da União Europeia, a equipe passou três anos desenvolvendo o robô em laboratório. Depois, eles testaram o protótipo em um canteiro de obras de um hospital em Cracóvia, na Polônia.

Durante os testes de campo, a equipe validou quatro casos de uso. Foram eles a perfuração em paredes e tetos de até 3,5 metros de altura; aplicação de isolamento (que é altamente tóxico para os seres humanos); lixamento de paredes (uma tarefa muito repetitiva); e auxílio no transporte de materiais pesados.

SENSORES AJUDAM NO FUNCIONAMENTO DO ROBÔ

A equipe equipou o Concert com uma série de sensores para operar de forma autônoma. Por exemplo, scanners a laser, câmeras 3D e sensores ultrassônicos. Isso permite que o robô perceba seu ambiente, evite obstáculos e interaja com os humanos.

Ele também consegue responder a comandos de voz simples, como “levante isso” ou “me siga”. Nos testes, o robô foi capaz de se mover sozinho do estacionamento do canteiro de obras até um local designado, onde perfurou um buraco com uma precisão de 1 mm.

Tsagarakis reconhece que há um receio de que os robôs possam substituir os humanos. Isso levaria ao corte de empregos, mas ele acredita que os humanos continuarão sendo cruciais. Assim como aconteceu com a eletricidade e até com a IA, ele diz que os robôs de construção vão eliminar alguns empregos e criar outros.

Se robôs como o Concert forem bem-sucedidos, o futuro da construção talvez não tenha a ver com escolher entre humanos e máquinas. Mas sim com encontrar novas maneiras de eles trabalharem juntos na construção.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais