Ações da Meta são insuficientes para coibir discurso anti-LGBT em suas redes

Novo relatório mostra que o Facebook ainda hospeda um número alarmante de postagens anti-LGBTQIA+

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Clint Rainey 3 minutos de leitura

Por anos, grupos de celebridades, organizações de direitos humanos e até mesmo usuários comuns têm pedido à Meta que leve mais a sério as preocupações da comunidade LGBTQIA+ sobre segurança. Em janeiro, o conselho de supervisão do Facebook chamou a atenção para a falha em fazer cumprir as regras destinadas a conter discurso de ódio anti-trans.

O principal problema, segundo o conselho, “não está nas políticas, mas em sua aplicação”. Sua conclusão: a Meta “não está correspondendo aos ideais que articulou sobre a segurança LGBTQIA+”.

Esse problema também foi apontado em uma carta assinada por cerca de 250 celebridades, incluindo Elliot Page, Ariana Grande, Jamie Lee Curtis e Judd Apatow, enviada em junho do ano passado, argumentando que as plataformas da empresa estavam repletas de conteúdo abusivo rotulando pessoas trans e não-binárias como predadores sexuais.

O texto apontava que isso parecia estar ocorrendo, coincidentemente, ao mesmo tempo em que vemos um aumento no assédio contra usuários LGBTQIA+ proeminentes.

A carta contou com o apoio de vários importantes grupos de defesa dos direitos da comunidade, entre eles a Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD). Na semana passada, o grupo divulgou um novo relatório com evidências, documentando exemplos de “material anti-LGBTQIA+” postado de junho de 2023 a março de 2024.

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As postagens variam de insultos a incitações reais de violência contra pessoas trans, muitas delas chamando os membros da comunidade LGBTQIA+ de “satanistas”, “desvirtuadores”, “terroristas” ou “pervertidos”.

Embora o discurso de ódio seja uma categoria ampla, é evidente que algumas postagens ultrapassam os limites, incitando, direta ou indiretamente, a violência contra certos grupos.

Mas a Meta afirma só permitir, em suas plataformas, comportamentos que estejam de acordo com suas diretrizes. “Removemos discurso de ódio, assédio, ameaças de violência e outros conteúdos que têm o potencial de silenciar outros ou causar danos”, argumenta a empresa.

Segundo o o conselho de supervisão do Facebook, a Meta não está correspondendo aos ideais que articulou sobre a segurança LGBTQIA+.

No Facebook, Instagram e Threads, a Meta fornece uma definição do que, para ela, é discurso de ódio, o que considera conteúdo violento ou explícito e que tipo de conduta qualifica como incitação, bullying e assédio.

A GLAAD registrou queixas formais sobre todos os “conteúdos anti-LGBTQIA+” encontrados em seu relatório, com referências a quais regras acreditava que estavam sendo violadas. O grupo diz que, em todos os casos, a Meta “ou considerou que o conteúdo não violava suas políticas, ou simplesmente não tomou nenhuma providência a respeito”.

Parte do conteúdo envolvia personalidades da mídia com um grande número de seguidores. Entre as postagens mais perturbadoras que foram mantidas no ar estavam:

  • Trailers de um documentário chamado “Terroristas LGBTQ”.
  • Postagens difamando diversos grupos, como um desenho que defendia que “judeus promovem pornografia e degeneração para nossas crianças” e mostrava um homem em um ponto de ônibus escolar vestindo uma camisa que dizia “agradeço aos céus por existirem menininhas!”
  • Um post no Instagram que perguntava: “o que você acha que deveria ser feito com médicos que realizam cirurgias de ‘afirmação de gênero’ em menores?”, acrescentando "responda nos comentários”.
  • Uma postagem que chamava pessoas trans de “demônios” e mostrava um corpo retorcido sendo apedrejado até a morte, embora todas as pedras fossem substituídas por emojis de risada.
  • Posts que a GLAAD argumenta serem “flagrante” incitação à violência.

O grupo relembra declarações públicas anteriores nas quais a Meta reconheceu que o discurso de ódio encontrado em suas próprias plataformas “em alguns casos pode promover violência off-line”, observando que tal reconhecimento torna a falta de repressão a esse tipo de conduta “ainda mais chocante”.

Quando questionada, a empresa não respondeu se recebeu os pedidos de remoção – e, em caso positivo, por que optou por não remover conteúdos que exibiam os nomes de grupos marginalizados e pessoas armadas atacando outras.

Em uma nota acompanhando o relatório, a GLAAD reiterou que sua intenção é “continuar a exigir que a Meta compartilhe um plano para conter a epidemia de ódio e violência anti-trans em suas plataformas”.


SOBRE O AUTOR

Clint Rainey é jornalista investigativo, mora em NYC e é colaborador da Fast Company. saiba mais