Instagram e WhatsApp em risco? Entenda julgamento da Meta
Decisão histórica nos EUA reacende debate sobre monopólio digital da Meta e pode transformar o futuro de redes sociais, como Instagram e WhatsApp

Uma batalha jurídica histórica começou nos Estados Unidos com potencial de alterar o rumo da maior empresa de redes sociais do mundo. Acusada de monopolizar o setor ao comprar Instagram e WhatsApp, a Meta pode ser forçada a se desfazer desses dois gigantes da tecnologia.
O processo, movido pela Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC), acusa a empresa comandada por Mark Zuckerberg de ter adotado uma estratégia para eliminar concorrentes emergentes, de acordo com o que foi repercutido pelo Sky News.
A FTC sustenta que a Meta agiu com base em uma suposta diretriz interna de 2008: "é melhor comprar do que competir." Se a corte decidir contra a empresa, o impacto pode ir além do mercado: pode redesenhar o modo como usamos as redes sociais e como elas são reguladas.
Como tudo começou: aquisições sob suspeita
Em 2012, o Facebook comprou o Instagram por US$ 1 bilhão. Dois anos depois, adquiriu o WhatsApp por US$ 19 bilhões. Ambas as aquisições foram aprovadas na época pela FTC. Mas hoje, o órgão argumenta que as transações não foram meras oportunidades de mercado — e sim parte de uma estratégia anticompetitiva.
Mensagens internas lidas em tribunal revelam que Zuckerberg estava preocupado com o crescimento do Instagram. O aplicativo era o primeiro adquirido pelo Facebook que seguiria operando como plataforma separada. Antes disso, a empresa costumava comprar startups apenas para incorporar seus talentos e descontinuar os serviços.
O que a Meta diz sobre o caso?
A Meta nega todas as acusações da FTC, chamando o processo de “ação fraca” e que “ignora a realidade”. Em comunicado, a empresa afirmou:
“As evidências no julgamento vão mostrar o que todo adolescente de 17 anos no mundo já sabe: o Instagram compete com TikTok (e com o YouTube, o X e muitos outros apps).”
Zuckerberg, que compareceu ao tribunal como primeira testemunha, alegou que adquiriu o Instagram pela tecnologia de câmera do app, e não por sua estrutura de rede social. Mas os promotores citaram mensagens do próprio CEO, datadas de 2012, nas quais ele dizia considerar importante “neutralizar” o crescimento do Instagram.
Por que essa decisão pode mudar tudo
Para o Dr. Steven Buckley, professor de sociologia digital da City Saint George's University, uma eventual separação da Meta tornaria mais fácil a regulação das plataformas: “Se [a Meta] for dividida, será mais fácil para os legisladores — e, portanto, para os reguladores — lidarem com alguns dos problemas das plataformas individualmente".
“Tentar criar leis eficazes para cada uma delas e garantir que estejam realmente servindo aos seus usuários será muito mais simples", acrescenta.
Quem poderia comprar as plataformas — e por que isso importa
Tudo dependerá de quem assumiria o controle do Instagram e do WhatsApp, caso a Meta seja obrigada a vendê-los. Buckley aponta dois caminhos possíveis: "Se for vendido para uma figura polarizadora, como Elon Musk ou o bilionário Marc Andreessen, aí sim, pode haver uma fuga de usuários do Instagram para concorrentes emergentes".
"Se for vendido para alguma firma de capital de risco pouco conhecida e eles colocarem um CEO desconhecido no comando, não acho que veremos ninguém abandonando plataformas como o Instagram tão cedo", acrescenta.
Quanto a Meta pode perder com isso?
Embora a empresa não revele dados específicos de faturamento por aplicativo, a consultoria Emarketer estima que o Instagram gerará US$ 37,13 bilhões em 2025 — cerca de R$ 216 bilhões — o que representa mais da metade da receita publicitária da Meta nos Estados Unidos.
Além disso, segundo a mesma fonte, o Instagram gera mais receita por usuário do que qualquer outra rede social, inclusive o próprio Facebook.
Um julgamento com repercussões políticas
O processo foi movido ainda durante o primeiro mandato de Donald Trump, que à época prometia controlar o poder das big techs. Ironicamente, desde sua volta à Casa Branca, a Meta tem se alinhado mais aos interesses do atual governo. Entre as mudanças promovidas estão o afrouxamento das regras sobre conteúdo e a redução da moderação, em nome da liberdade de expressão.
O que esperar a seguir?
O julgamento da Meta deverá durar dois meses. Ainda que o desfecho seja incerto, o caso já está marcado como um divisor de águas. Afinal, ele não discute apenas compras e fusões — mas o futuro do ecossistema digital global.