Nova pesquisa associa solidão a doenças relacionadas à demência

Estudo aponta que abuso de álcool, depressão e isolamento são alguns dos principais fatores de risco para o surgimento precoce da demência

Crédito: David Matos/ Unsplash

Sy Mukherjee 3 minutos de leitura

Há um crescente consenso científico no sentido de que a solidão pode afetar a saúde. Cientistas e pesquisadores do Reino Unido e dos Países Baixos divulgaram novas pesquisas identificando vários fatores de risco relacionados ao início precoce da demência, observando que o isolamento social, o alcoolismo e a depressão estão entre os principais riscos.

Publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), o estudo aponta mais evidências de que o isolamento social está ligado a um aumento no risco de demência e mal de Alzheimer em idosos. De um ponto de vista mais geral, é mais uma evidência de que isolamento, solidão e falta de conexão não são apenas experiências emocionais pessoais.

Na verdade, está se tornando cada vez mais claro que esses fatores indicam um problema de saúde pública urgente, com consequências profundas para a sociedade, desde abuso de substâncias até suicídio, passando pela redução da expectativa de vida.

Os pesquisadores utilizaram dados do UK Biobank de 350 mil pessoas com menos de 65 anos. A ideia era procurar fatores ambientais, genéticos e de estilo de vida que possam causar demência precoce. A lista de riscos identificados vai desde fatores como pobreza até deficiência de vitamina D.

Segundo os autores, o aumento do risco de demência precoce foi associado a baixa condição socioeconômica, falta de determinadas proteínas, uso abusivo de álcool, isolamento social, deficiência de vitamina D, níveis elevados de proteína C reativa, perda auditiva, problemas de pressão arterial, acidente vascular cerebral, diabetes, doença cardíaca e depressão.

Crédito: xijian/ iStock

O diferencial da pesquisa é que é a primeira a sugerir que modificações no estilo de vida feitas em uma idade mais jovem podem proteger contra o início precoce da demência, que afeta quatro milhões de pessoas em todo o mundo, com cerca de 370 mil novos casos diagnosticados a cada ano.

Antes do estudo, os benefícios da mudança no estilo de vida eram associados apenas a pessoas idosas com risco de demência e Alzheimer.

Talvez o quadro mais amplo seja o consenso emergente de que a solidão, o isolamento e a falta de conexão humana não são simplesmente produtos de problemas pessoais ou mal-estar social. Podem ser a raiz de uma doença que exige um tratamento diferenciado.

O PODER DA INTERAÇÃO SOCIAL

Os números pintam um quadro mais nítido da situação: nos EUA, 2021 foi o segundo ano consecutivo em que a expectativa de vida caiu, em grande parte devido à pandemia de Covid-19 (ela mesma causadora de isolamento e depressão) e overdoses de drogas, de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Houve uma leve recuperação da expectativa de vida em 2022 (aumento de 1,1 anos), mas mesmo esse aumento é inferior à queda observada nos dois anos anteriores e representa uma redução de 20 anos no geral. Mais de 50 mil pessoas nos EUA morreram por suicídio em 2023, um sombrio recorde histórico no país.

a demência afeta quatro milhões de pessoas em todo o mundo, com cerca de 370 mil novos casos diagnosticados a cada ano.

As autoridades federais de saúde prestaram atenção. Sob a direção do Cirurgião Geral dos EUA, Vivek Murthy, o Departamento de Saúde e Serviços Sociais (HHS, na sigla em inglês) estabeleceu uma política nacional para combater a epidemia de solidão e isolamento, classificada oficialmente como uma grande ameaça à saúde pública.

"As consequências físicas da solidão vão desde um aumento de 29% no risco de doença cardíaca e de 32% no de acidente vascular cerebral até uma possibilidade 50% maior de desenvolvimento de demência em adultos mais velhos", segundo o (HHS). "Além disso, a falta de conexão social aumenta o risco de morte prematura em mais de 60%.”

O tratamento? Uma iniciativa bem à vista de todos, mas que vai exigir ação séria para administrar: a conexão com outras pessoas. A interação social é benéfica para a saúde individual e também melhora a resiliência das comunidades.


SOBRE O AUTOR

Sy Mukherjee é consultor e arquiteto de comunicação na IDEA Pharma. saiba mais