Tarifas de Trump podem tornar os EUA parecidos com o Brasil, diz Wall Street Journal; entenda
A reportagem destaca o objetivo das recentes “tarifas recíprocas” anunciadas por Trump

O jornal norte-americano The Wall Street Journal publicou no último sábado (12) uma reportagem crítica à política econômica de Donald Trump, comparando negativamente os Estados Unidos ao Brasil. Segundo o texto, ao adotar tarifas de importação elevadas, os EUA correm o risco de repetir os erros do modelo brasileiro, conhecido por suas amplas barreiras comerciais.
A reportagem destaca que, embora o objetivo das chamadas “tarifas recíprocas” anunciadas por Trump seja trazer empregos e fábricas de volta ao território americano, os efeitos colaterais podem ser prejudiciais. O jornal argumenta que tarifas elevadas, como as adotadas historicamente pelo Brasil, acabam protegendo uma indústria nacional pouco competitiva, encarecendo produtos e sufocando a inovação.
Como exemplo, o jornal menciona a indústria automobilística brasileira, que fabrica a maioria dos carros localmente, mas impõe preços elevados a veículos importados. Essa diferença de custo faz com que muitos brasileiros viajem ao exterior para fazer compras a ponto de voos de retorno atrasarem por excesso de bagagem, segundo a publicação.
Economia fechada e baixo crescimento
O Wall Street Journal afirma que o Brasil oferece um vislumbre de como a economia dos EUA pode funcionar sob uma agenda mais protecionista. O texto lembra que, mesmo com grande mercado interno e riqueza natural, o país não se tornou a potência global que seus líderes projetavam. Em 1985, a manufatura representava 36% do PIB brasileiro. Hoje, esse número caiu para 14%.
Outro dado preocupante citado pela reportagem é a baixa produtividade: em 2024, um trabalhador brasileiro gerou menos de 25% da riqueza produzida por um trabalhador americano, segundo o Conference Board.
O preço do protecionismo
Um dos exemplos mais contundentes da reportagem é o custo de um iPhone 16 no Brasil. Fabricado localmente, o modelo custa quase o dobro do mesmo aparelho produzido na China e vendido nos EUA por US$ 799.
Além disso, o comércio representa apenas 18% do PIB brasileiro — uma porcentagem muito inferior à de outros países, como o México, onde o comércio equivale a 35% do PIB. Para o jornal, esse mercado interno robusto, embora seja uma vantagem em tempos de crise, também incentiva o protecionismo e dificulta o avanço tecnológico e a competitividade.
Alerta das tarifas
Ao recuar de tarifas mais severas após reações negativas do mercado, Trump manteve uma taxa de 10% sobre produtos de quase todos os países. Para o Wall Street Journal, esse movimento acende um sinal de alerta:
“As tarifas podem proteger empregos, mas também isolam a economia, aumentam os preços e limitam a inovação e o Brasil é o exemplo mais claro de onde isso pode levar.”