A teoria conspiratória da “internet morta” parece cada vez mais real

As redes sociais estão cada vez mais lotadas de conteúdo gerado por IA

Créditos: Carolin Thiergart/ Unsplash/ Freepik

Michael Grothaus 3 minutos de leitura

Há cerca de sete ou oito anos, uma ideia começou a circular em grupos voltados a teorias da conspiração: a teoria da “internet morta”. Seu principal argumento é que o conteúdo orgânico, que impulsionou a internet nos anos 1990 e 2000, foi substituído por conteúdo criado artificialmente, que agora domina as redes sociais. Ela considera que a internet está “morta” porque grande parte do que vemos online não foi criado por seres humanos.

Mas vai além – e é aí que entra a parte da conspiração. A teoria afirma que essa transição do conteúdo criado por humanos para conteúdo gerado artificialmente foi intencional, liderada por governos e empresas com o objetivo de explorar o controle sobre a percepção do público.

Como escritor, confesso que adoro essa teoria. Daria uma ótima história de ficção científica. Mas, como jornalista, sempre achei que parecia um pouco maluca. Isto é, até recentemente. Ultimamente, ela tem começado a parecer menos com uma teoria da conspiração e mais com uma profecia – pelo menos em parte.

Primeiro, vamos falar da parte conspiratória. Embora todos os governos e empresas tentem controlar narrativas até certo ponto, é improvável que qualquer um deles diga “ei, vamos substituir os conteúdos criados por humanos por conteúdos criados artificialmente”. Mas agora isso não apenas parece possível, como também está começando a parecer plausível.

um relatório de 2022 Europol apontou que até 90% do conteúdo online poderá ser sinteticamente gerado até 2026.

Essa ideia surgiu em algum momento da década de 2010, quando os bots se tornaram cada vez mais presentes nas plataformas de mídia social. Mas um bot tradicional nunca teve a capacidade tecnológica de gerar imagens, vídeos, sites e artigos. A inteligência artificial tem.

Desde que o ChatGPT surgiu, no final de 2022, as pessoas têm usado a IA para gerar conteúdo para sites, postagens nas redes sociais e artigos de todos os tipos. Também estão usando ferramentas de geração de imagens para criar uma enxurrada interminável de fotos, vídeos e obras de arte, que agora lotam as principais plataformas sociais.

Nos últimos meses, essa enxurrada de conteúdo artificial se intensificou, especialmente no TikTok. Lá, é comum aparecerem vídeos criados por IA: desde o roteiro até a narração e as imagens que o acompanham. Mas este é um problema que também acontece em outras redes, como no Facebook, por exemplo – posso te apresentar ao Jesus camarão que anda circulando por lá?

Crédito: Reprodução/ Facebook

O que é pior do que essa avalanche de conteúdo gerado artificialmente lotando nossos feeds é que muitas pessoas nem sempre parecem perceber que eles não são reais. Com base nos comentários postados, muitos parecem acreditar que as imagens são fotos de verdade ou obras de arte criadas por pessoas.

Ainda pior é que o engajamento de muitas das contas que estão postando esse tipo de conteúdo parece estar vindo de perfis também controlados por inteligência artificial. Isso é ruim não apenas para os usuários, mas também para os anunciantes.

Se esse tipo de conteúdo continuar a se multiplicar, os anunciantes poderão acabar gastando sua verba para colocar anúncios ao lado de conteúdos gerados artificialmente e que recebem a maior parte do engajamento de outras contas controladas por IA, não de seres humanos reais com dinheiro para gastar.

Crédito: Freepik

A maioria das plataformas sempre detestou conteúdo artificial, entendendo que é um tipo de material de baixo valor que os usuários humanos abominam. No entanto, agora parece que algumas podem estar planejando despejar mais deles sobre nós.

Eu costumava pensar que a teoria da internet morta era apenas isso – uma teoria da conspiração. Os bots existiam, mas era improvável que os códigos relativamente burros por trás deles pudessem se infiltrar em todos os cantos da internet, gerando quase todo o seu conteúdo.

Com a IA, no entanto, agora é possível que isso aconteça. De fato, um relatório de 2022 da agência europeia de aplicação da lei Europol apontou que os especialistas acreditam que até 90% do conteúdo online poderá ser sinteticamente gerado até 2026 – 90%!

Se for este o caso, os humanos que desejam interagir com outros humanos e suas criações podem, pela primeira vez em décadas, ter que evitar a internet e voltar ao mundo real em busca de autenticidade.

Claro, você não vai achar o Jesus camarão por lá, mas pelo menos encontrará alguma conexão genuína.


SOBRE O AUTOR

Michael Grothaus é escritor, jornalista, ex-roteirista e autor do romance "Epiphany Jones". saiba mais