ChatGPT é o novo Intel Inside

Empresas de tecnologia correm para incorporar o chatbot aos seus produtos. Mas há limites para o que o “marketing de ingredientes” pode fazer

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Rob Walker 4 minutos de leitura

Há um mês, a Microsoft lançou uma prévia de uma atualização que incorpora IA ao mecanismo de busca Bing. Esta campanha de branding está provando ser a mais bem-sucedida em anos – porém, não tanto para a empresa.  

Em vez disso, quem saiu ganhando foi o ChatGPT, o chatbot de inteligência artificial criado pela OpenAI – eleita a Empresa Mais Inovadora do Ano pela Fast Company –, um nome que nem existia há alguns meses e agora está sendo disputado por empresas que querem adicioná-lo ao seu catálogo de produtos.

A OpenAI anunciou recentemente que abriria sua interface de programação de aplicação (API, na sigla em inglês) para outros desenvolvedores, o que despertou muito interesse. Salesforce, Instacart, Shopify e Snap são algumas das que estão trabalhando especificamente com a tecnologia da OpenAI.

Mas, além de empresas já estabelecidas, diversas startups também estão entrando neste mercado. A Humane, fundada por dois veteranos da Apple, acabou de concluir uma rodada de financiamento de US$ 100 milhões e, embora não tenha anunciado seu produto, afirma que usará o ChatGPT.

Com uma velocidade incrível, o chatbot da OpenAI parece ter se transformado no “Intel Inside” dos dias de hoje.

A GUERRA DOS CHATBOTS INTELIGENTES

Mas essa versão do que poderia ser chamado de “marketing de ingrediente” – promover a inclusão da tecnologia de uma marca como um componente-chave de um produto – é um pouco diferente. A Intel foi amplamente divulgada, tornando seu logo sonoro e visual bastante conhecidos. 

Já o ChatGPT está sendo usado no marketing de maneira menos formal e objetiva. Em vez de prometer vantagens centradas no consumidor, como velocidade e confiabilidade – como várias empresas fizeram com os chips da Intel no passado –, agora elas estão buscando adicionar um brilho inovador a suas marcas: “você acha o Bing entediante e sério demais? Então, confira esta nova versão moderna e inteligente!”

o número de acessos ao Bing.com é praticamente o mesmo do final do ano passado, enquanto o do ChatGPT cresceu bastante.

Para o Bing, essa estratégia funcionou – um pouco. Quando a Microsoft (que investe consideravelmente na OpenAI) sinalizou que estava construindo uma nova versão do seu motor de busca incorporando a tecnologia ChatGPT, o Google correu para anunciar sua própria tecnologia de IA. Mas o que se destacou, na verdade, foram os erros factuais que o chatbot cometia. A Microsoft parecia pronta bater de frente com o Google.

Em poucos dias, no entanto, jornalistas e outras pessoas com acesso antecipado à versão IA do Bing começaram a relatar interações agressivas e sombrias com o chatbot.

Toda essa atenção, indiscutivelmente, deu uma “nova relevância” ao mecanismo de busca, aumentando temporariamente o número de downloads do aplicativo, de acordo com dados da Apptopia citados pela revista “Slate”.

Mas, apesar de haver mais de um milhão de usuários na lista de espera para experimentar a nova versão do Bing, sua participação no mercado de busca global caiu ligeiramente em fevereiro, para 2,81%, de acordo com a StatCounter.

Por enquanto, a Microsoft decidiu adiar seus planos de bater de frente com o Google e dar um passo atrás, restringindo a função de chatbot do Bing para torná-lo menos assustador e estranho.

No entanto, nada disso parece ter prejudicado o ChatGPT ou o entusiasmo pela IA generativa. De acordo com dados da SimilarWeb citados pelo “The Wall Street Journal”, o número de acessos ao Bing.com é praticamente o mesmo de novembro do ano passado, enquanto o do ChatGPT cresceu significativamente no mesmo período.

CORRIDA DO OURO

A onda de anúncios de iniciativas de IA inclui não apenas aquelas que se baseiam diretamente no ChatGPT, mas também outras totalmente novas, como a IA da Meta, a do Baidu e de outros que enxergam este momento como um ponto de virada, como o iPhone foi em 2007.

Até Elon Musk, que já foi um grande apoiador da OpenAI, agora está planejando criar uma versão “não-militante” do chatbot. Mas toda essa competição em torno do ChatGPT acaba fazendo-o parecer muito mais importante.

Há quem veja este momento como um ponto de virada, como o iPhone foi em 2007.

Entusiastas de tecnologia estão começando a perder o interesse por essa corrida do ouro da inteligência artificial, mas não está claro se o público em geral também está. O site FiveThirtyEight aponta que todas as pesquisas até agora indicam, na melhor das hipóteses, opiniões divididas.

Embora não seja difícil imaginar aplicativos de IA tomando conta da internet em breve, há limites para o que marketing de ingredientes pode fazer. Por exemplo, o uso de chips Intel não impediu que a Gateway levasse um belo tombo no início dos anos 2000 e fosse comprada pela Acer.

Nos últimos meses, o ChatGTP entrou no radar do consumidor comum, e isso não é uma tarefa fácil. Mas o próximo passo depende de a tecnologia se traduzir em produtos que atendam às necessidades e desejos reais dos usuários.

O selo “Intel Inside” conquistou o grande público porque os chips da empresa estavam em produtos que melhoravam a vida das pessoas. A versão de IA do Bing não foi capaz de reproduzir este feito. Mas o ChatGTP ainda pode conseguir.


SOBRE O AUTOR

Rob Walker assina Brended, coluna semanal sobre marketing e branding. Também escreve sobre design, negócios e outros assuntos. saiba mais