A responsabilidade social e individual na felicidade corporativa

Se, como grupo, temos que trabalhar para reduzir o sofrimento humano, individualmente temos que cuidar de nosso próprio bem-estar

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Renata Rivetti 3 minutos de leitura

O podcast ReThinking, do psicólogo organizacional Adam Grant, no episódio em que ele entrevista o prêmio Nobel Daniel Kahneman me trouxe muitas reflexões sobre o papel da psicologia positiva e a nossa responsabilidade como sociedade ao falarmos de felicidade e, principalmente, de felicidade corporativa.

Kahneman fez uma crítica à psicologia positiva ao dizer que, se ele pudesse priorizar, o foco de nossos esforços deveria ser para combater o sofrimento humano e não para falarmos da construção de uma vida mais feliz.

Por alguns segundos, recebi a crítica com uma certa reatividade. Depois, ao compreender a profundidade do tema, concordei com Kahneman de alguma forma.

Se a sociedade tem recursos finitos, nosso esforço prioritário deveria ser para apoiar aqueles que estão de fato sofrendo.

O que ele trouxe é que se nós, como sociedade, temos recursos finitos (financeiros, de tempo ou energia), nosso esforço prioritário deveria ser para apoiar aqueles que estão de fato sofrendo, e não somente tentar melhorar a vida dos que estão languishing (termo que tem sido usado no Brasil como “abatimento” ou “apagamento”), principalmente no ambiente de trabalho.

Pensei que a sociedade tem um papel importante mesmo para trazer mais justiça e igualdade neste mundo tão desigual. Acredito muito que as organizações desempenham um papel fundamental.

Quando as empresas começaram a falar de diversidade e inclusão não sabíamos a relevância que o tema teria. Hoje, claramente vemos que as vagas afirmativas têm trazido um impacto social muito significativo para os grupos minorizados.

Ainda estamos longe de um mundo mais justo, e a verdade é que a maioria das pessoas ainda não tem segurança psicológica para se expressar – muitas vezes, nem se sentem respeitadas ainda. Porém, que estamos plantando sementes e algumas mudanças já ocorreram, é fato. 

BURNOUT E SAÚDE MENTAL

No tema do bem-estar, saúde mental e felicidade no trabalho, acho que ainda estamos alguns passos atrás. Então, concordo com Kahneman que neste momento, nós, como sociedade, temos muito a fazer para transformar os locais de trabalho em ambientes mais saudáveis. Por seu lado, os líderes ainda têm muito a se conscientizar para entender que sua forma de agir pode adoecer as pessoas.

Em 2022, já sabemos que a síndrome de burnout é uma doença sobre a qual a empresa tem responsabilidade, que a saúde mental das pessoas está comprometida e que é preciso mudar. Talvez não seja claro como, mas que há uma consciência maior para o tema, também é fato. 

O que talvez eu discorde de Kahneman (ou talvez ele simplesmente não tenha falado sobre isso) é que nós, como indivíduos, não precisamos esperar o mundo perfeito ou circunstâncias externas ideais para sermos felizes. Se não estamos doentes, também não precisamos ficar acomodados, languising.

nós, como indivíduos, não precisamos esperar o mundo perfeito ou circunstâncias externas ideais para sermos felizes.

Ou seja, se nós, como grupo, temos que trabalhar para reduzir o sofrimento humano, talvez nós, individualmente, tenhamos que cuidar de nosso bem-estar, da nossa saúde mental e da nossa felicidade, principalmente no ambiente de trabalho.

A psicologia positiva já comprovou com diversos estudos que, individualmente, não precisamos de mudanças externas para sermos felizes. De novo, claro que estou falando de pessoas que têm suas necessidades básicas atendidas e não tenho ideias ingênuas sobre o tema.

Então, acredito que seja algo complementar. A sociedade tem um papel e uma responsabilidade para construirmos um mundo mais justo, mais ético, mais igualitário. E as empresas têm um papel muito importante nesta construção.

Nós, como indivíduos em busca de uma vida mais feliz, precisamos de muito autoconhecimento, de muita disciplina e esforço para sair de uma vida acomodada e ir atrás do que nos traz sentido, engajamento e emoções positivas, mesmo dentro do ambiente corporativo.

Afinal, felicidade não depende de mundo ideal e sim de construirmos melhores relações, encontrarmos significado em nossas escolhas, equilibrando com momentos de alegria, prazeres, com uma vida hedônica. 

O que você tem feito para construir um mundo melhor e uma vida mais feliz?


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora e chief hapiness officer da Reconnect - Happiness at Work, especializada em felicidade corporativa e lidera... saiba mais