Como seria se você guardasse todos os seus e-mails para sempre?

Mais ou menos sem querer, acumulei mais de 25 anos em e-mails antigos. Hoje, sou grato por ter esse tesouro nas mãos

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Harry McCracken 4 minutos de leitura

Nunca planejei guardar todos os meus e-mails para sempre. Na verdade, durante muitos anos, eu nem me ligava nisso. Conforme ia mudando de provedor de internet, trocava meu endereço de e-mail, sem me preocupar em preservar nenhuma mensagem ao longo do caminho. 

Mas, com o tempo, fui adquirindo o hábito de guardar as mensagens e nunca deletar nada. Hoje, tenho mais de 4 TB de material guardado, principalmente em uma conta paga do Google Workspace. Reviro esse tesouro o tempo todo e tiro proveito dele de várias maneiras.

Meu objetivo é preservá-lo e guardar os futuros e-mails que receber, pelo tempo que puder. E vim aqui te convencer de que você deveria pelo menos cogitar fazer o mesmo com os seus.

Pensando bem, o momento que tornou tudo isso possível foi a introdução do Gmail, em 2004. Ao oferecer ótimos recursos de pesquisa e 1 GB de armazenamento gratuito, essa ferramenta dava a ideia de que salvar grandes quantidades de e-mail para consulta futura era algo que os usuários poderiam desejar fazer.

Hoje, tenho mais de 4 TB de material guardado. Reviro esse tesouro o tempo todo e tiro proveito dele de várias maneiras.

Eventualmente, 1 GB parou de soar como um espaço quase infinito. Mas o Google continuou aumentando a cota padrão e passou a oferecer ainda mais espaço para quem estivesse disposto a pagar por isso.

Conforme me acostumei com a filosofia de salvar tudo do Gmail, percebi que ainda tinha acesso ao conteúdo do meu antigo e-mail e achei que poderia ser divertido rever esse material.

Eu ainda tinha em casa um decrépito laptop Zenith com algumas mensagens datadas de 1994, além de CD-ROMs de e-mails de trabalho arquivados de 1998 a 2008. Com alguns ajustes, consegui transferir tudo para uma conta do Gmail que criei especialmente para esse fim, passando a ter acesso imediato a elas pela primeira vez depois de anos.

Não consegui recuperar todos os meus e-mails dos últimos 29 anos, mas recuperei uma porcentagem bastante considerável. O que me leva a uma questão que vocês já devem estar ansiosos para saber: qual o sentido de guardar todos os seus e-mails para sempre?

Bom, eu consigo listar vários benefícios importantes. 

Essas trocas de mensagem são a coisa mais próxima que tenho de um diário

De vez em quando, me pergunto quando fiz uma viagem, quando assisti a uma peça, quando comprei algo ou conheci alguém. Na maioria das vezes, uma rápida pesquisa no e-mail me traz todas essas respostas. Mesmo mensagens teoricamente descartáveis, como recibos de compras online, podem ter um valor inesperado a longo prazo.

Algumas mensagens significam muito para mim

O e-mail ajudou a acabar com a era em que as pessoas enviavam cartas de papel umas para as outras. Assim, grande parte da minha correspondência com familiares e amigos a partir da década de 1990 foi feita em formato eletrônico. Algumas dessas pessoas já partiram e sou grato por ainda ter essas mensagens para me lembrar delas. 

Ali, naquelas mensagens antigas, há pequenos pedaços de história

Como jornalista de tecnologia, o tipo de e-mail que recebo com mais frequência são propostas de assessores de imprensa sugerindo que eu escreva sobre seus clientes. Quando chegaram até mim, eles geralmente não pareciam nada de interessante. Mas, com o tempo, alguns se tornam fascinantes.

Em 2001, por exemplo, recebi uma proposta para que eu entrevistasse Reed Hastings (ilustre desconhecido na época), CEO de uma startup chamada Netflix (nunca tinha ouvido falar), na época em que a empresa alugava DVDs pelo correio e o grande gancho para a matéria seria que as fitas VHS estavam ficando fora de moda.

FUTURO INCERTO

Você pode estar pensando que a quantidade de mensagens antigas que se tornam interessantes com o passar do tempo deve ser pequena, e que estou sendo idiota por guardar toneladas de e-mails antigos dos quais nunca mais precisarei.

Por um lado, isso é até verdade. Mas nem sempre fica claro se vale a pena salvar uma determinada mensagem até anos depois. E envolveria muito mais tempo e esforço tentar eliminar só o lixo do que, simplesmente, guardar tudo.

Pensando em longo prazo, não sei exatamente como posso garantir que todos esses e-mails continuem existindo, aconteça o que acontecer. Estou bastante confiante de que o Gmail não vai acabar em um futuro próximo.

Mas o que acontecerá se o Google passar por tempos difíceis e em, digamos, 2033, resolver encerrar seu negócio de e-mail? Ou se ele simplesmente começa a cobrar tanto pelo espaço na nuvem que não vou mais poder me apegar à minha quantidade incompreensível de e-mails? Será que preciso adotar medidas para garantir que outras pessoas tenham acesso a pelo menos parte do meu arquivo caso eu (Deus me livre!) não esteja mais por aqui?

Estou interessado em ouvir as opiniões dos meus leitores sobre todos esses assuntos, ou mesmo argumentos sensatos de que acumular e-mails é um sinal de que sou meio maluco e de que deveria mesmo era queimar tudo em uma fogueira digital.

De todo jeito, anotem aí o meu e-mail: hmccracken@fastcompany.com.

Ah, eu já mencionei que pretendo manter para sempre toda e qualquer mensagem que vocês me enviarem, né?


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais