GenZ no mercado de tecnologia e os desafios para as empresas

Ao pensar nos talentos mais jovens, devemos entender que, assim como as gerações anteriores, eles têm necessidades e vontades específicas

Crédito: Istock

Joceline Abe 4 minutos de leitura

Este ano, o Tik Tok chegou também ao mercado de trabalho. Diversos vídeos com opiniões, debates, reflexões, rotinas e piadas se espalharam rapidamente, levantando alguns dos assuntos mais comentados por nós, como o “quiet quitting'', ou demissão silenciosa, em português.

O termo nasceu de uma série de vídeos nos quais colaboradores de diferentes segmentos pelo mundo compartilharam seus anseios e vontades, explicando a prática da demissão silenciosa, que consiste, resumidamente, em entregar o básico da demanda. O tema pautou muitos especialistas em recursos humanos e gestão de pessoas. Eu mesma fui uma delas.

O mercado de trabalho mudou e não é de hoje. Mas, nos últimos anos, temos presenciado choques culturais no mundo corporativo e maior urgência de adaptação e mudança. As empresas que insistem em resistir lidam com reações que afetam os resultados da operação. A demissão silenciosa é apenas uma das consequências.

nos últimos anos, temos presenciado choques culturais no mundo corporativo e maior urgência de adaptação e mudança.

Segundo pesquisa feita pela plataforma Intelligent.com, 21% da força de trabalho das empresas em todo o mundo faz parte do grupo de “desistentes silenciosos”. A maioria é de pessoas entre 25 e 34 anos.

Ao pensar nos talentos mais jovens, devemos primeiro entender que eles já fazem parte de nossos times, atuam, criam, solucionam, desenvolvem e, assim como as gerações anteriores, têm necessidades e vontades específicas.

Como futuros líderes e representantes das marcas, companhias e filosofias que seguem em constante adaptação, precisamos co-criar uma cultura profissional que permita o desenvolvimento desses jovens.

CARACTERÍSTICAS DA GERAÇÃO Z

Os nascidos entre os anos 80 e 90, do grupo da geração Y (ou millennials), ficaram conhecidos pelo vício no trabalho. A geração Z, dos nascidos a partir de 1995 até 2010, é o oposto. Por valorizarem mais a saúde, tanto física quanto mental, buscam mais equilíbrio e compreendem os danos e riscos do excesso.

Paralelamente, são reconhecidos como a “geração da depressão”. Em uma pesquisa da consultoria Mckinsey realizada este ano, 25% das pessoas entrevistadas da geração Z afirmaram enfrentar algum tipo de sofrimento emocional, contra 13% de millennials.

Por valorizar mais a saúde física e mental, a geração Z busca mais equilíbrio e compreende os riscos do excesso de trabalho.

O estudo Trust Barometer 2022, da Edelman, revelou que 67% dos jovens priorizam marcas ativistas. Outro levantamento, feito no Reino Unido pelo Gallup, mostrou que o grupo é mais abstêmio (não consome bebida alcoólica ou bebe com moderação) do que outros grupos etários. Também são mais seletivos, se afastando de amigos e até familiares que não compartilham as mesmas crenças, de acordo com pesquisa da Wunderman Thompson Data.

Esses dados podem parecer irrelevantes para o meio corporativo. Mas, quando aplicados de forma certeira em estratégias, processos e na cultura organizacional, podem transformar positivamente o ambiente.

Por exemplo, será que seu time prefere um momento de interação virtual ou presencial? Há excesso de reuniões? Um brinde é realmente efetivo para motivação ou preferem outras melhorias? Esses questionamentos devem ser levantados e analisados a partir de dados.

O QUE OS PROFISSIONAIS DE TECH ESPERAM

O estudo Human Coders, que contou com a participação de especialistas, sintetiza as principais projeções, preocupações e vivências do mercado de tecnologia.

Em empregabilidade, o relatório mostra como as companhias com maior capacidade de percepção de necessidades específicas se tornam os locais de trabalho em que as pessoas escolhem ficar.

Autonomia, flexibilização de horários, decisões compartilhadas e empoderamento são alguns dos principais fatores de sucesso apontados, coincidindo com o que a nova geração busca na jornada profissional.

Os talentos buscam se tornar nômades digitais, principalmente no setor de tecnologia e inovação. A diversidade também é pauta. Recentemente, o LinkedIn compartilhou dados internos que mostram que o aumento de postos de trabalho remoto foi um dos pilares para o crescimento de grupos diversos.

companhias com maior percepção de necessidades específicas se tornam os locais de trabalho em que as pessoas escolhem ficar.

Na Zup, criamos em 2019 o Programa Liberdade, que permite que os colaboradores trabalhem de qualquer lugar e adaptem o trabalho à rotina, e não o contrário. Hoje estamos espalhados pelo Brasil e em mais de 10 países.

Candidatos e colaboradores mais jovens apreciam muito a possibilidade de escolher o local de trabalho, além de receber confiança e autonomia da liderança. O nível de entrega, produtividade e criatividade são sempre superiores em um ambiente respeitoso, que busca entender as necessidades das pessoas e as enxerga como talentos sempre capazes de evoluir.

MUDANÇAS SÃO DESAFIADORAS, MAS NECESSÁRIAS

Essa mentalidade, além dos outros pontos positivos que a geração Z carrega, quando observados e incorporados pela gestão da empresa, é capaz de gerar diversos benefícios e proporcionar a criação de um espaço seguro e cada vez mais diverso em termos de pessoas, ideias, realidades e necessidades.

Toda mudança de geração foi desafiadora para a inserção no mercado de trabalho. Mas com isso aprendemos a importância de analisar e adaptar os processos aos quais já estamos acostumados e que podem ser aprimorados.

A convivência entre colaboradores de diferentes idades e a diversidade nos times é essencial para a evolução de qualquer companhia. Quanto antes olharmos com empatia e curiosidade para esta mescla de gerações, mais poderemos nos beneficiar das diferenças, que podem, sim, ser muito positivas.


SOBRE A AUTORA

Joceline Abe é diretora de cultura & pessoas da Zup, empresa de desenvolvimento de produtos para melhorar a developer experience. saiba mais