Líderes, fiquem atentos às mudanças que terão de fazer em 2022

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Fast Company Brasil 8 minutos de leitura

Como especialista em diversidade, igualdade e inclusão (DEI), passei a última década ajudando empresas, instituições educacionais e organizações sem fins lucrativos que aparecem na Fortune 500 a criar e executar estratégias para incorporar cultura, diversidade e inclusão na experiência dos funcionários.

No ano passado, fiz algumas previsões sobre o tema para 2021. Eu previ que 1) o trabalho remoto se tornaria mais comum, 2) a diversidade da força de trabalho mudaria 3) a inclusão se tornaria necessária e seria medida de forma quantitativa, 4) culturas corporativas não inclusivas veriam impactos em suas bases de consumidores, 5) o marketing apresentaria maior diversidade e 6) mais aliados e defensores emergiriam para denunciar o racismo no ambiente de trabalho. Parecia que 2020 tinha sido sobre conscientização e educação para questões de inclusão, então, como consequência, em 2021, mais pessoas estariam colocando seus novos conhecimentos em prática.

Em todos os casos, há exemplos que podemos apontar de que minhas previsões do ano passado aconteceram de fato. E, como consultora que trabalha diariamente dentro de muitas das grandes empresas que estão se esforçando para promover mudanças, posso dizer honestamente que muito progresso foi feito este ano. Mas a mudança é uma coisa dinâmica e ainda temos muitos o que fazer pela frente antes de atingirmos a verdadeira inclusão.

Com base no que estou vendo nas empresas com as quais trabalho, há mais coisas a serem observadas no ano que vem.

MENOS PERFORMANCE E MAIS AÇÃO

A inclusão vai se tornar um tema duradouro no orçamento anual, fará parte do tecido organizacional das empresas e deixará de ser algo que elas utilizam superficialmente apenas para se promover. Elas vão precisar investir dinheiro, porque a DEI não é mais algo apenas bom de se ter, tornou-se um aspecto essencial. Funcionários e candidatos em potencial não estão só exigindo mudanças neste sentido, eles estão pedindo demissão quando a cultura de sua empresa não funciona para eles.

Os consumidores também estão ficando cada vez mais atentos. Não será suficiente continuar a promover uma postura inclusiva no Instagram. Os clientes estão de olho se as empresas são sérias e empenhadas na forma como criam, vendem e comercializam qualquer que seja o produto.

OLHO EM PROMESSAS PASSADAS

Grandes empresas prometeram enormes quantidades de dinheiro para doar a comunidades negras, organizações de justiça social e faculdades e universidades historicamente negras (HBCUs) após o assassinato de George Floyd. Embora essas doações e promessas tinham um intuito de aparecer nas manchetes, elas, por outro lado, também eram generosas demais para que o público se esquecesse facilmente. As pessoas lembram. Então, em 2022, é de se imaginar que o público vai querer saber o que aconteceu com a promessa de doação de US$ 1 milhão, US$ 10 milhões ou US$ 100 milhões. Para onde foi o dinheiro? Que programas foram implementados? Que resultados podemos apontar?

2021 foi o ano em que muitas empresas estavam tentando descobrir onde aplicar seus investimentos sociais. Muitas criaram programas sem ter um plano concreto de como seriam executados e sentiram na pele o peso da responsabilidade de construir sua identidade sob holofotes globalmente. Já em 2022, precisarão demonstrar os resultados destes gastos e ter um modelo pleno de como fazer o acompanhamento dos programas.

Com novas promessas sendo feitas futuramente, não bastará mais alocar todos seus esforços em igualdade. As empresas serão continuamente exigidas que mostrem como estão contribuindo para tornar o mundo mais justo de maneiras tangíveis. Veremos cada vez mais pedidos de contabilidade e relatórios sobre promessas de igualdade racial. Os consumidores vão querer saber como o dinheiro foi gasto e se as empresas fizeram um real esforço rumo à igualdade racial ou se a inclusão foi simplesmente uma promessa vazia de relações públicas.

VÁ MAIS FUNDO

Os consumidores estão desafiando as empresas, exigindo mais evidências de compromissos sociais e tendo maiores expectativas quanto suas responsabilidades corporativas. Eles estão cansados de campanhas isoladas de inclusão e parcerias com celebridades. Além das doações típicas, consumidores e funcionários buscam impactos de longo prazo e ações sustentáveis. Os líderes mais bem-sucedidos serão aqueles que trabalharão arduamente para elaborar parcerias estratégicas significativas e contratar talentos para apoiar seus esforços de inclusão. Vamos ouvir falar cada vez mais de problemas “sistêmicos” e sobre encontrar soluções de longo prazo para abordá-los, deixando de lado as colaborações de curto prazo, altamente publicizadas e com tom ameno dos últimos dois anos.

Talvez em resposta à demanda do público, as empresas aprofundarão seu compromisso e começarão a alocar esforços em programas e soluções de inclusão, contratando profissionais da área em tempo integral e construindo departamentos de DEI com uma equipe completa. Mais recursos serão investidos em pesquisa, análise de dados e estratégia conforme mais pessoas expressam seu desejo de ver uma mudança significativa, não apenas uma aliança superficial.

OUÇA ATENTAMENTE

Em 2022, por necessidade, líderes precisarão cada vez mais estar atentos ao que seus funcionários e clientes têm a dizer. Eles estão começando a perceber que basta uma pessoa com alcance para causar uma grande reação em cadeia de danos à imagem, logo, as empresas precisarão ser mais comprometidas em ouvir, mesmo que seja apenas para salvar sua reputação.

Por outro lado, como a Grande Renúncia tornou novos talento mais escassos e valiosos, o poder do funcionário individual continuará a crescer, então veremos suas demandas se tornarem cada vez mais específicas. Os funcionários entenderam que ninguém precisa mais ser infeliz no trabalho. Onde e como as pessoas trabalham vai ser tão importante quanto o quanto você paga a elas. Se as necessidades do funcionário não forem atendidas, isso é uma falha de inclusão. Portanto, líderes inteligentes precisarão mudar, reconhecendo que mais e mais pessoas agora estão exigindo inclusão para considerar a possibilidade de aceitar empregos. Já existem evidências de algumas empresas que não sentiram os impactos da Grande Renúncia pela forma como valorizam e incluem seus funcionários.

AVALIE TALENTOS DE FORMA MAIS IGUALITÁRIA

Líderes estão finalmente começando a acordar para o fato de que ter uma equipe diversificada de funcionários e tratá-los de forma igualitária realmente causa um impacto positivo nos resultados financeiros. Quando mais pontos de vistas são apresentados, melhor se saem as empresas, tanto em relação a percepção do público quanto de uma perspectiva financeira

Os líderes deixarão de considerar um ato de caridade contratar pessoas com backgrounds e experiências diferentes e, em vez disso, passarão a buscar maneiras de atrair novos talentos. Eles estão começando a entender que podem ter um grande impacto sobre os talentos no mercado, para isso, se concentrarão no desenvolvimento deles e oferecerão os diferentes recursos que uma equipe de trabalho diversificada precisa para contribuir com o sucesso da empresa. As experiências vividas e a criatividade contarão mais no processo seletivo e o candidato será avaliado de forma mais holística, sendo visto além de seu pedigree educacional e das realizações tradicionais presentes em seu currículo.

EMPRESAS MENORES PREENCHERÃO AS LACUNAS 

Quando se trata de competitividade, empresas menores já demonstram crescimento e sucesso. Consumidores estão preocupados em passar uma mensagem e causar impacto através de seu dinheiro. Eles estão prontos para comprar de empresas reais que realmente incorporam igualdade e inclusão.

Desde linhas de vestuário que incluem uma variedade maior de tamanhos, linhas de cosméticos que oferecem uma paleta de tons e matizes mais realistas, a pequenas empresas de bonecas como a Orijin Bees, que criam bonecas que celebram os tons de pele e texturas de cabelo de crianças negras e pardas; estas empresas certamente terão mais sucesso em 2022. Esse fenômeno pode até pegar algumas empresas maiores de surpresa. Mas, se elas não oferecerem opções aos clientes, as empresas menores ocuparão o mercado para preencher essas lacunas.

DEI FARÁ PARTE DE TODAS AS CONVERSAS

Se você ainda não abraçou a diversidade, a igualdade e a inclusão no trabalho, em casa e na sua comunidade, prepare-se para viver situações desconfortáveis. Nos últimos dois anos, uma série de especialistas e livros invadiram nosso modo de pensar e estabeleceram as bases para que o público se atualizasse rapidamente sobre essas questões. Portanto, em 2022, as conversas sobre DEI começarão a acontecer em todos os ambientes. Já vemos isso nas conversas que dominam a mídia e na mudança nos valores das empresas. As pessoas estão começando a perceber que a igualdade e a inclusão realmente afetam tudo.

Assim como vimos as questões da DEI ofuscarem conversas sobre educação, veremos cada vez mais demandas pelo assunto em áreas como saúde, habitação, segurança pública e economia, entre outros aspectos de interesse público. Depois de aprender mais sobre DEI e se tornarem aliadas nos últimos dois anos, em 2022 as pessoas ficarão mais confiantes para falar sobre sistemas opressivos e buscar formas de resolvê-los, em vez de ficar na defensiva.

Assim como muitas das previsões de 2021 ainda estão em vigor, algumas das previsões deste ano possuem um certo nível de complexidade e provavelmente levarão algum tempo para se concretizar. Essa complexidade em incorporar igualdade e inclusão é desafiadora e, por vezes, pode ofuscar pequenos avanços. Mas não tenha dúvidas de que, mesmo quando não parece, estamos promovendo igualdade e inclusão. Estamos encontrando maneiras de ajudar as pessoas a ver como incluir identidades sub-representadas são ótimas oportunidades. Estamos tendo mais discussões sobre esse tema e, o mais importante, estamos vendo o impacto disso.


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