Não é só você: viagens a trabalho estão ficando mesmo mais cansativas

Depois da pandemia, viajar passou a ser algo que sobrecarrega o cérebro

Créditos: Eberhard Grossgasteiger/ Pexels

Claire Turrel 4 minutos de leitura

Antes da Covid-19, o consultor de negócios Gordon Simmons frequentava o aeroporto todas as semanas, rumo à Califórnia, Washington, Flórida ou até mesmo ao Canadá.

Mas quando ele voltou a pisar em um aeroporto, em julho de 2021, descobriu que 18 meses de reuniões no Zoom o haviam deixado temporariamente sem as habilidades necessárias para viagens de negócios. Cada passo da viagem passou a ser um tormento. 

“Fiquei nervoso de andar pelos aeroportos, de controlar meu jet lag e de restabelecer essas conexões pessoais”, diz Simmons.

Gordon não é o único. De acordo com a empresa de consultoria de gestão Global Data, as viagens internacionais de negócios caíram 75% em 2020. Até recentemente, a coisa permaneceu mais ou menos assim para muitos profissionais. Nos últimos meses, porém, as viagens corporativas voltaram a crescer.

muita gente tem relatado que o retorno às viagens de negócios está causando desorientação e esgotamento.

De acordo com o relatório de viagens corporativas de 2023 da Deloitte, as viagens de negócios dobraram entre o início e o final de 2022. As pessoas estão voltando a fazer as malas a trabalho e a ir todos os dias até o escritório. No entanto, embora todos soubessem que as coisas seriam diferentes, muita gente tem relatado que o retorno às viagens de negócios está causando desorientação e esgotamento. 

A psicóloga do trabalho Marie-Helene Pelletier afirma que viajar após a pandemia não é apenas diferente, mas exige mais do cérebro. “Quando há muita informação para processar, a pessoa pode sentir uma sobrecarga cognitiva”, explica.

Lidar com a incerteza adicional da viagem, prestar atenção a todos os protocolos da Covid-19, resgatar habilidades sociais enferrujadas e se questionar se essa reunião não poderia ser feita remotamente são pensamentos que ocupam espaço adicional na mente.

Simmons descobriu que uma maneira de aliviar o estresse da viagem é restabelecer as conexões humanas antes de voltar a frequentar os aeroportos. “Para mim, funcionou entrar em contato com minha rede e retomar relacionamentos pelo Zoom antes de viajar. Isso não apenas fortalece as conexões de negócios, mas também me deixa mais confortável nas interações cara a cara.”

CRIANDO UM EQUILÍBRIO

Kenneth Anderson, CEO da fabricante de componentes de aviação Universal Synaptics, passou metade do mês passado na estrada. Para ele, foi um desafio retornar à sua programa- ção pré-pandêmica, de viagens de avião para bases militares e empresas de aviação comercial espalhadas pelos EUA.

Uma maneira de reduzir a carga mental da logística de viagens é tirar detalhes da cabeça e colocá-los na agenda.

“As coisas que costumavam ser automáticas tornaram-se um fardo. Tive medo de esquecer de levar uma gravata extra e sofri para decidir quantos ternos levar. Tudo me exigia um grande esforço mental.”

Ele diz que a maior vantagem das viagens de negócios é que sua empresa está sendo mais estratégica na hora de decidir quando as reuniões presenciais são de fato necessárias. “Se pudermos resolver tudo com qualidade virtualmente, vamos preferir.” Custo, conveniência e cronogramas foram fatores importantes na tomada de decisão.

“Reuniões presenciais são uma opção melhor se os custos de viagem forem razoáveis e se várias reuniões puderem ser realizadas em uma única viagem, sem impactar negativamente outros compromissos de trabalho”, analisa Anderson. “Duvido muito que eu ou qualquer pessoa em nossa empresa volte algum dia a voar centenas de milhares de quilômetros por ano para comparecer a reuniões de negócios.”

MANTENDO O FOCO

Pelletier diz que a chave para as viagens de negócios hoje em dia é reduzir os níveis de estímulo. Uma maneira de fazer isso é tornando sua agenda mais focada. A ideia é destacar as prioridades e só adicionar itens a mais ao itinerário depois de concluir o objetivo principal da viagem.

Reuniões presenciais são uma opção melhor se várias puderem ser realizadas em uma única viagem.

Você também precisa cuidar para manter seus níveis de energia altos quando estiver viajando. Um exemplo de como fazer isso é baixando algum aplicativo como o Timeshifter, que ajuda a evitar o jet lag, redefinindo seus ritmos circadianos, cronometrando quanto tempo de exposição à luz você recebe e matando uma reunião desnecessária na hora do café da manhã para priorizar uma ida à academia.

Kathy Bennett, CEO da empresa de embalagens Bennett Packaging, diz que encontrou segurança ao criar algum senso de estrutura. “Eu escreveria um itinerário detalhado, reuniria todos os meus documentos em um só lugar e agendaria as coisas o mais cedo possível. Recuperar algum controle sobre as minhas viagens depois de ficar tanto tempo em casa foi essencial para me sentir seguro e fortalecido.”

REDUZINDO A SOBRECARGA

A estrategista de gerenciamento de tempo Kelly Nolan diz que existem outros truques que podem ajudar. Uma maneira de reduzir a carga mental da logística de viagens é tirar detalhes da cabeça e colocá-los na agenda.

“Para cada viagem, além de marcar os horários dos voos no calendário, marque o tempo de deslocamento até o aeroporto e qualquer outra coisa que você precise fazer antes disso”, diz Nolan. Use essa mesma estratégia quando voltar.

“Especialmente depois de uma viagem de vários dias, considere bloquear as primeiras quatro horas de trabalho após as reuniões. Isso vai te dar algum espaço para respirar e, só depois, voltar ao trabalho e entender tudo o que aconteceu enquanto estava fora.”


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