Neurociência ensina como intensificar o impacto do que você fala

Parar de usar frases feitas e incorporar palavras diferentes (ou mesmo neologismos) ajuda a nos concentrar no conteúdo e nas camadas da mensagem

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Yonason Goldson 4 minutos de leitura

O zumbido do ar-condicionado. O barulho do metrô. O som dos caminhões de lixo engatando marcha à ré. O que tudo isso têm em comum?

A repetição.

Os ruídos repetitivos do escritório e da paisagem urbana nos tomam de assalto, não há escapatória. Diariamente, eles adentram nossos ouvidos, nos distraem e nos perturbam. O cérebro fica querendo escapar deles a qualquer custo. Às vezes, conseguimos filtrá-los.

Diversas pesquisas indicam que passar tempo no parque ou em um bosque traz benefícios significativos à saúde,

Há um aspecto lúdico que se manifesta no desejo natural do ser humano de preencher espaços vazios e silêncios constrangedores.

incluindo diminuição do estresse, atitude mais positiva, alívio das dores, aumento da felicidade e um sentimento de pertencimento. Em contraste com as batidas rítmicas da vida moderna, os sons aleatórios da natureza proporcionam sentimentos de segurança e relaxamento.

Será que daria para aplicar esse mesmo princípio à maneira como nos comunicamos? Imagine se adotássemos um estilo de fala menos monótono, que evitasse os padrões previsíveis dos clichês e das frases prontas, que interrompesse o fluxo da conversa casual e do papo prosaico.

E se pudéssemos variar o "cardápio" verbal e, assim, insuflar nova vida, nova energia, nova inspiração em nossa troca diária de ideias? Não seria incrível?

Isso remete a uma figura de gramática ouvida principalmente na fala informal e na literatura: os neologismos. Nonada. Internetês. Sextar.

De acordo com a Wikipedia, um neologismo “consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. Pode ser fruto de um comportamento espontâneo, próprio do ser humano e da linguagem”.

Utilizar neologismos requer criatividade e engenhosidade.  Nós entendemos os seus sentidos, mas são palavras que soam como novidade.

ADQUIRINDO UMA LINGUAGEM CRIATIVA

Frases prontas são a dieta pobre da comunicação humana. E é por isso que os anunciantes fazem uso abundante delas em seus jingles e slogans. Apesar de nossa atração por padrões e ritmos, a reiteração usada de forma excessiva tem um efeito entorpecente no cérebro. Sons repetitivos nos embalam em uma espécie de transe, suprimindo a criatividade e diminuindo as alegrias momentâneas da vida.

Imagine se adotássemos um estilo de fala menos monótono, que evitasse os padrões previsíveis dos clichês e das frases prontas.

Se quisermos falar de forma memorável e influente, devemos buscar uma espécie de equilíbrio melódico em algum lugar entre a rigidez musical do clássico e a aleatoriedade da nova era. Devemos guiar a base da nossa fala de acordo com a improvisação estruturada do jazz.

Um estudo publicado por neurocientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, explica como o reflexo que nos faz querer pular e dançar tem mais a ver com a batida que não está na música do que com a batida que está.

“As mais empolgantes não são nem as melodias que têm pouca complexidade e nem aquelas que têm uma complexidade muito, muito alta, mas sim aqueles padrões que têm uma espécie de equilíbrio entre previsibilidade e complexidade”, diz Maria Witek, principal autora do estudo.

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Em outras palavras, as músicas às quais respondemos com mais paixão têm ritmo em camadas – uma batida subjacente repetitiva que se funde com um padrão sincopado interrompido por lacunas rítmicas.

Isso atrai a mente para preencher esses espaços vazios com nossas próprias expressões criativas. Regularidade demais faz com que o cérebro não encontre nada a acrescentar. Por outro lado, pouca regularidade faz o cérebro ter dificuldades de descobrir como se envolver.

PREENCHENDO OS ESPAÇOS VAZIOS

Há um aspecto lúdico que se manifesta no desejo natural do ser humano de preencher espaços vazios, cantos escuros, silêncios constrangedores. Provavelmente é por isso que nos deliciamos com o capricho de um neologismo ou de uma inversão na ordem comum da frase que, ao interromper o fluxo linguístico natural, concentra mais a atenção no conteúdo da mensagem.

Sons repetitivos nos embalam em uma espécie de transe, suprimindo a criatividade e diminuindo as alegrias momentâneas da vida.

A ordem encoraja a acelerar e seguir em frente. A aleatoriedade atrasa, faz prestar mais atenção. Quando sentimos que algo está faltando, ou não está no lugar certo, a criatividade começa a fluir de maneiras que muitas vezes precisam ser controladas por nossos impulsos mais cautelosos e nosso melhor julgamento. Mas não ousamos sufocar essas inclinações, para que o medo de arriscar não nos faça perder oportunidades inestimáveis. Buscamos sempre o equilíbrio.

Exigimos ordem e caos em nossas vidas; a primeiro, para fornecer estrutura; o segundo, para promover a criatividade. É por isso que uma coletividade saudável prospera na diversidade de pensamento e de personalidades.

Precisamos de introvertidos e extrovertidos, do hemisfério direito e do hemisfério esquerdo do cérebro, de jovens e velhos, homens e mulheres, conservadores e liberais. E precisamos de um pouco de aleatoriedade para nos unir em combinações imprevisíveis, promovendo uma sociedade cuja produtividade seja mais alegre.


SOBRE O AUTOR

Yonason Goldson é autor, apresentador de podcast e palestrante do TEDx. saiba mais