No lugar de buscar a felicidade, concentre-se nessas cinco coisas

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 8 minutos de leitura
  1. “AQUELE QUE TEM UMA RAZÃO PARA VIVER PODE SUPORTAR QUASE TUDO”

Muitos dizem que humanos são hedonistas. Nós apenas queremos nos divertir – buscamos o prazer, evitamos a dor e ponto final. Às vezes, escolhemos sofrer, mas a única razão pela qual fazemos isso é para conseguir o que queremos. Trabalhamos para ganhar dinheiro e nos divertir. Vamos ao mercado comprar alimentos para comer. Mas, no fim das contas, tudo o que realmente queremos é prazer.

Entretanto, eu não acho que essa seja uma afirmação correta e espero que meu livro o convença a adotar uma alternativa, que poderíamos chamar de pluralismo motivacional. É um nome péssimo, mas a ideia é que todos nós queremos várias coisas ao mesmo tempo. É impossível que a resposta para “o que motiva as pessoas?” seja a uma única coisa. O economista Tyler Cowen resume isso muito bem quando diz; “O que é bom na vida de um indivíduo não pode ser reduzido a um único valor. Não se trata apenas de beleza, justiça ou felicidade. As teorias pluralistas são as mais plausíveis. Elas incluem uma variedade de valores relevantes, como o bem-estar humano, justiça, equidade, beleza, obras artísticas, compaixão e os diversos tipos, vezes contrastantes, de felicidade. A vida é complicada.”

Uma alternativa ao prazer é o propósito. O impulso de encontrar propósito é tão importante quanto o de nos divertir, de ter prazer, de ser feliz. Aponto vários dados científicos que comprovam isso em meu livro, mas essa é uma ideia antiga, e é por isso que me inspirei nas obras de Viktor Frankl, particularmente, no seu livro Man’s Search for Meaning.

Na década de 1930, Frankl, que era psiquiatra na Áustria, foi enviado à campos de concentração nazistas – primeiramente à Auschwitz e depois à Dachau. Mesmo lá, ele continuou seu trabalho. Seu escopo de pesquisa era depressão e suicídio, e ele estudou seus companheiros prisioneiros para descobrir o que distinguia aqueles que mantinham uma atitude positiva daqueles que não suportavam as condições e perdiam toda a motivação, muitas vezes chegando a cometer suicídio. Ele concluiu que a resposta é o propósito. Os que tinham mais chances de sobrevivência eram aqueles cujas vidas tinham um propósito mais amplo, que tinham algum objetivo, projeto ou relacionamento, alguma razão para viver. Frankl gostava de citar Nietzsche: “Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo” – uma bela ilustração da complexidade da motivação humana.

  1. O SOFRIMENTO PODE AUMENTAR O PRAZER.

Comecei a escrever este livro porque estava intrigado com uma questão: normalmente, costumamos evitar a dor, a ansiedade, o estresse e o desconforto – mas às vezes os procuramos. Reflita sobre suas próprias atividades preferidas. Talvez você goste de ir ao cinema e ver um filme que o faça chorar, gritar ou te deixe enojado. Você talvez goste de ouvir músicas tristes. Talvez você cutuque feridas, coma coisas picantes, tome banho muito quente ou frequente saunas. Talvez você goste de escalar montanhas, correr maratonas ou, até mesmo, praticar algum tipo de luta. Qual seria o motivo de procurarmos experiências desagradáveis como estas? Um dos motivos é o que Paul Rosin chama de masoquismo benigno. Às vezes, a dor pode ajudá-lo a fugir de si mesmo. Uma forte pontada de dor pode distraí-lo das preocupações do dia a dia. Às vezes, a buscamos para mostrar aos outros o quanto somos fortes. Às vezes, a dor é uma forma de controle e domínio da situação. C. S. Lewis esclarece: se você não come porque não tem comida, não há muito o que dizer sobre isso, mas se você não come porque está de jejum, isso pode ser uma demonstração de controle

Provavelmente, a explicação mais simples para o masoquismo benigno é que a dor e o prazer estão interligados. Neurocientistas afirmam que o cérebro opera de uma maneira diferente; a experiência é compreendida através do contraste. Estudos com jogos de azar apontam que perder uma quantia de U$ 10 causa uma sensação péssima, mas se a pessoa achar que poderia ter perdido U$ 50, a sensação deixa de ser tão ruim. Na verdade, acaba se tornando uma experiencia positiva.

Nós brincamos com esse contraste para sentirmos prazer. Buscamos a dor para maximizar o contraste com a experiência que vem a seguir. O incômodo de um banho muito quente pode resultar em uma sensação de alívio e prazer quando a temperatura esfria. A ardência do curry pode ser prazerosa quando seguida pelo alívio refrescante de uma cerveja gelada. Esta é a teoria de contraste que explica porque escolhemos sentir dor. É como uma antiga piada que meu pai costumava contar sobre um cara batendo a cabeça contra a parede. Quando questionado sobre o motivo, ele diz: “Me sinto tão bem quando eu paro”.

  1. O SOFRIMENTO PODE NOS TRAZER UM PROPÓSITO.

Jovens às vezes escolhem ir para a guerra e, embora não queiram ser mutilados ou mortos, esperam enfrentar desafios, medos e conflitos. Alguns de nós optam por ter filhos. Temos certa noção de como é difícil, mas raramente nos arrependemos de nossas escolhas. De forma mais geral, nossos principais objetivos envolvem sofrimento e sacrifício. Se fossem fáceis, perderiam seu propósito.

Cinco fatos relacionam sofrimento e propósito. Primeiramente, pessoas que afirmam que suas vidas têm um propósito tendem a relatar mais ansiedade, preocupação e conflitos do que as pessoas que afirmam ser felizes. Em segundo lugar, países cujos cidadãos relatam possuir um propósito – isto é, dizem que vivem vidas com um objetivo específico em mente – tendem a ser países pobres onde a vida é relativamente difícil, o que é bem diferente dos países que são descritos como mais felizes, que tendem a ser prósperos e seguros. Em terceiro lugar, os trabalhos que as pessoas apontam como os mais significativos, como ser um médico ou membro do clero, muitas vezes envolvem lidar com a dor de outras pessoas. Quarto, quando perguntados sobre nossas experiências mais significativas, tendemos a pensar em extremos; o que inclui eventos agradáveis, mas também eventos muito dolorosos. E, por fim, – e o mais importante, em minha opinião – frequentemente escolhemos atividades que sabemos que serão desafiadoras, desde treinar para uma maratona até ter filhos, porque sabemos, por instinto, que essas atividades são gratificantes. Como disse o escritor Julian Barnes: “Dói tanto quanto vale a pena”.

  1. O ESFORÇO TORNA A VIDA MELHOR.

Psicólogos gostam de citar o paradoxo do esforço. Normalmente tendemos ao menor esforço e tentar tornar as coisas mais fáceis para nós mesmos. Mas às vezes o esforço é o ingrediente secreto que torna tudo melhor. Uma das descobertas da psicologia é que quanto mais esforço você emprega em algo, mais você o valoriza. Essa é a lógica do clássico conselho de Benjamin Franklin sobre como transformar um inimigo em um amigo: peça a ele ou ela que lhe faça um favor. Ao tentar ajudá-lo, eles automaticamente gostarão mais de você. Outro exemplo vem do livro de Mark Twain, quando Tom Sawyer teve que pintar uma cerca. Quando seus amigos chegam, ele finge estar empolgado com a tarefa, e logo seus amigos acabam pagando pelo suposto privilégio de pintá-la também. Como dizia Twain, “Tom Sawyer descobriu uma grande lei do comportamento humano: para fazer alguém cobiçar algo, só precisamos tornar essa coisa difícil de obter”.

Bem, essas são anedotas e histórias, mas há estudos que corroboram com elas. Michael Norton e seus colegas da Harvard Business School fizeram uma série de experimentos em que descobriram que as pessoas preferem objetos que ajudaram a criar. Elas se tornam especialmente apegadas a ele, e quanto mais trabalho, melhor. Eles chamam isso de efeito IKEA, em homenagem à grande loja cujos os móveis vendidos são montados pelos próprios consumidores, algo que os faz valorizá-los mais.

Outra manifestação dos prazeres do esforço é o que Mihaly Csikszentmihalyi chama de Estado de Flow. Você pode pensar que uma vida perfeita significa sentar no sofá, assistir Netflix e relaxar. Mas Csikszentmihalyi descobriu que as pessoas de fato sentem enormes quantidades de prazer e satisfação quando estão imersas em uma atividade. Você sabe que está no “Estado de Flow” quando o tempo passa, mas você não percebe. Você se esquece de comer ou perde compromissos. Para que isso aconteça, porém, a atividade deve atingir um certo equilíbrio ideal. Se for muito fácil, você ficará entediado. Se for muito difícil, você ficará ansioso. Mas o Estado de Flow, que grandes atletas, músicos, escritores e, às vezes, todos nós sentimos, é um belo exemplo da relação entre esforço e satisfação.

  1. NÃO BUSQUE A FELICIDADE

Há duas razões para isso. A primeira é que é contraproducente; você pode acabar com sua própria felicidade ao se esforçar demais. Existem estudos que avaliam até que ponto as pessoas são motivadas a buscar a felicidade, com perguntas como: “Até que ponto você concorda com a seguinte afirmação ‘Estar feliz é extremamente importante para mim’; ou ‘O quão feliz estou em um determinado momento define se minha vida vale a pena?’” Acontece que as pessoas que concordam com essas afirmações têm maior probabilidade de ficarem deprimidas e se sentirem sozinhas. Existem algumas razões para isso. Ao estabelecer metas irrealistas para si mesmas, as pessoas que buscam a felicidade tendem a fracassar – ou talvez ela o faça refletir muito sobre o quão feliz você é, e isso atrapalha sua busca. Da mesma forma que pensar demais sobre se você beija bem provavelmente atrapalha na hora de beijar.

A segunda parte do problema é que, quando nos perguntam o que nos faz feliz, geralmente temos visões erradas do que significa felicidade. Acontece que buscar objetivos extrínsecos – ou seja, objetivos relacionados a elogios e recompensas, como ter boa aparência e ganhar dinheiro – nos torna menos felizes, nos faz sentir menos realizados e pode resultar em depressão, ansiedade ou alguma doença mental. Mas, de uma forma paradoxal, se você quer se sentir satisfeito com sua vida, se deseja sentir prazer, alegria e ter um propósito, talvez precise se esforçar menos nessa busca.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais