Obsessão por performance pode acabar prejudicando a sua carreira

Concentrar-se no aprendizado e aceitar os fracassos de forma inteligente é uma estratégia melhor

Crédito: DNY59/ iStock

Tomas Chamorro-Premuzic e Amy Edmondson 3 minutos de leitura

Entre as muitas variáveis que determinam o sucesso de uma carreira, não se pode subestimar a competência de mostrar uma boa performance na frente dos outros, principalmente das partes interessadas (chefes, clientes, possíveis empregadores ou professores) que vão avaliar o seu potencial. 

Tanto é assim que grande parte da diferença entre pessoas com desempenho médio e alto se deve não tanto à competência ou ao talento real, mas sim à capacidade de apresentar um bom desempenho quando é importante. Naqueles momentos-chave em que você está fazendo um teste para se destacar, com a chance de impressionar os outros.

As pesquisas mostram, sem surpresa, que as pessoas que conseguem lidar com a ansiedade de se sair bem, que gostam de trabalhar sob pressão e que estão cientes das expectativas dos outros têm uma vantagem durante as interações importantes.

Isso pode acontecer em uma entrevista de emprego, em uma avaliação anual de desempenho, em uma apresentação de vendas para clientes ou em uma oportunidade relevante de networking

E, no entanto, a obsessão pela performance pode prejudicar o sucesso de sua carreira, principalmente porque limita seu potencial de crescimento e desenvolvimento de longo prazo. Pesquisas mostram que uma obsessão doentia com o desempenho profissional acarreta riscos cruciais.

1. Aumenta os riscos do perfeccionismo

Já foi demonstrado que a busca pela perfeição aumenta a procrastinação e prejudica o desempenho. Para cada profissional extraordinário que se autoproclama perfeccionista, muitos outros perfeccionistas não conseguem entregar resultados, concluir o projeto no prazo ou ficar satisfeitos com seu trabalho.  

 2. Promove o comodismo

A tática de reduzir deliberadamente as metas ou os objetivos para garantir que você nunca fique aquém do esperado é uma versão ruim daquela máxima "prometa de menos e entregue de mais".

Chamamos isso de ficar na zona de conforto ou de jogar para não perder, estabelecendo metas mais baixas do que o desejado, em vez de jogar para ganhar.

Pior ainda, quando essa tática inclui exibir-se depois, dizendo que os resultados "excederam nossas metas/ expectativas", ela pode fazer você se acomodar em uma atitude que ameaça seu progresso real.

3. Incentiva a estagnação

Favorece o envolvimento em iniciativas "testadas e certas" e aumenta a aversão ao risco. Assim, as oportunidades de experimentação produtiva e de erros necessários ficam reduzidas. Se você sabe de antemão que aquilo vai funcionar, não se trata de inovação. E sem inovação, o risco de estagnação se intensifica. 

4. Enfatiza a aparência em detrimento do conteúdo

Quando você foca demais em causar uma boa impressão, adquire o hábito de se preocupar mais com a percepção que os outros têm de você do que com o trabalho em si. 

Se você se concentrar em como suas ações vão parecer, em vez de resolver problemas e progredir, não se admire por não aprender.

5. Diminui a honestidade

O lado perigoso de polir sua reputação profissional é acabar flertando de leve com a enganação, que pode ser exacerbada se você operar em um ambiente em que se vangloriar, manipular o crédito e a culpa e se envolver em táticas de manipulação são a norma, e não a exceção.

Da mesma forma, quando você está preocupado em parecer mais forte e mais inteligente para os outros, fica com medo de demonstrar suas vulnerabilidades naturais. Porém, elas são muito importantes, porque permitem que você admita o que não sabe, alimentando o desejo de aprender e de melhorar e abrindo espaço para que os outros confiem mais em você. 

6. Ameaças adicionais

Além desses fatores de risco para carreiras individuais, as empresas controladas por pessoas obcecadas pela performance criam culturas que impedem a colaboração e podem até se tornar tóxicas.

Quando uma cultura recompensa vitórias pessoais de curto prazo em detrimento do impacto coletivo de longo prazo, é apenas uma questão de tempo até que você se veja em um navio que está afundando.

Paradoxalmente, a escolha do aprendizado em detrimento da performance garante o bom desempenho profissional, bem como o sucesso na carreira.

Precisamos de lideranças éticas e eficazes para estabelecer processos, incentivos e uma cultura de estímulo ao aprendizado como estratégia para aprimorar o desempenho e atenuar as consequências negativas de um mundo obcecado por performance.


SOBRE O AUTOR

Tomas Chamorro-Premuzic é diretor de inovação do ManpowerGroup, professor de psicologia empresarial na University College London e na ... saiba mais