Piores chefes do ano são aqueles mesmos em quem você está pensando

Em um ano marcado por vitórias trabalhistas, CEOs famosos perderam muito tempo e de dinheiro lutando contra seus funcionários nos EUA

Crédito: Istock

Kim Kelly 4 minutos de leitura

Se fizermos uma retrospectiva, 2022 foi um grande ano para o movimento trabalhista norte-americano: o apoio público aos sindicatos atingiu recordes e milhares se mobilizaram para ganhar salários mais altos, por melhores condições de trabalho e para poder usufruir dos benefícios de um sindicato.

A bem-vinda explosão de energia que impulsionou grande parte dessas mobilizações partiu dos próprios trabalhadores, muitas vezes se organizando sem a ajuda inicial dos principais sindicatos já estabelecidos.

Eles realmente precisavam dessa injeção de ânimo vinda dos mais jovens porque, para muitos deles, essa era uma batalha difícil. Em seus empregos, tiveram que enfrentar chefes ruins, gerências antissindicais e a vigilância ativa de capangas corporativos. Teve até os que se viram obrigados a enfrentar alguns dos homens mais ricos do mundo.

Trabalhadores se organizaram sem a ajuda dos sindicatos já estabelecidos.

Existem, sem dúvida, milhares, senão centenas de milhares, de péssimos chefes por aí. Embora eu deseje que cada um deles bata o dedinho do pé em uma quina, há alguns, em especial, que merecem mais do que isso. São realmente merecedores da nossa ira coletiva. 

O fundador da Amazon, Jeff Bezos, virou um saco de pancadas fácil por todos os tipos de razões: desde seu foguete em formato fálico até sua fortuna escandalosa, feita sobre as costas doloridas e cansadas de uma força de trabalho de milhares de pessoas.

POLÍTICAS ANTISSINDICAIS

Embora agora a empresa seja administrada pelo CEO Andy Jassy, ela continua com as políticas iniciadas por Bezos. Quando os trabalhadores de uma instalação em Bessemer, Alabama, tentaram se sindicalizar, a administração da Amazon fez todos os esforços para coibir a movimentação.

Em outra instalação, em Staten Island, Nova York, os trabalhadores venceram sua própria eleição sindical, mas a Amazon tentou usar os tribunais para anular os resultados.

Além disso, mais uma vez, a Amazon liderou a lista anual Dirty Dozen (As Doze Condenadas) do Conselho Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (National COSH). The Dirty Dozen são empresas que expõem desnecessariamente os trabalhadores a riscos evitáveis, levando a doenças, lesões e mortes evitáveis.

mais uma vez, a Amazon liderou a lista das empresas que expõem os trabalhadores a riscos evitáveis.

“Enfrentamos essa realidade para que os trabalhadores consigam ganhar força para conquistar as melhorias de segurança que evitarão mais perdas de vidas”, declarou Jessica Martinez, codiretora executiva do National COSH.

A Amazon se junta, nessa lista macabra, a  empresas como Dollar General, Hilton Hotels, Refresco e Mayfield Consumer Products (que supostamente forçou os funcionários de uma fábrica de velas no Kentucky a continuar trabalhando durante um tornado, levando a nove mortes).

A Amazon fez por onde estar no topo da lista. Seis trabalhadores da mesma instalação da Bessemer morreram no trabalho este ano – incluindo um que supostamente não conseguiu permissão da empresa para voltar para casa antes de sofrer um derrame (a Amazon nega as acusações).

Além disso, o relatório mostra que a taxa de lesões em suas centenas de instalações é mais do que o dobro da média do setor, e as condições brutais que os trabalhadores da Amazon enfrentam no trabalho são manchetes frequentes.

DEMISSÕES E PERSEGUIÇÕES

A Starbucks também conquistou um lugar na lista das Dirty Dozen, graças às atitudes de seu próprio dono bilionário e às suas políticas indiferentes em relação à segurança dos trabalhadores durante a pandemia.

Howard Schultz parece odiar tanto os sindicatos que usou todo o poder de sua gigantesca cadeia de cafés para montar um ataque nos tribunais contra o Starbucks Workers United, demitindo os organizadores, espalhando propaganda antissindical em entrevistas e ameaçando demitir sem benefícios os funcionários de lojas sindicalizadas.

Os ultrarricos de hoje se caracterizam por uma disposição sem precedentes de acumular recursos.

É fácil implicar com bilionários, e não é novidade que o comportamento deles muitas vezes se torna grotesco. Mas os ultrarricos desta época, em particular, se caracterizam por uma disposição sem precedentes de acumular recursos.

Alguns deles realmente se superam, e um foi idiota o suficiente para comprar um site inteiro cheio de pessoas que se opõem aos seus posicionamentos. Elon Musk já era um chefe abertamente antissindical bem antes de comprar o Twitter. O tempo que passou sob os holofotes da rede social serviu apenas para lembrar como trata mal quem que trabalha para ele, seja demitindo em massa ou forçando os que ficam a trabalhar 80 horas semanais.

Certamente, 2023 nos trará uma nova safra de chefes terríveis. Mas, por enquanto, faço um apelo para que você se console com o simples fato de que no mundo há mais trabalhadores do que chefes. Não se esqueça de que esse pensamento os assusta muito mais do que qualquer fantasma ou assombração.


SOBRE A AUTORA

Kim Kelly é jornalista independente e escreve sobre trabalho, política, classe e cultura para publicações como Rolling Stone, The Nati... saiba mais