Por que a mentalidade “ano novo, vida nova” pode ser prejudicial para pessoas com distúrbios alimentares

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Estamos na terceira semana de 2022 e chega o momento em que muitas pessoas começam a pensar nas mudanças que desejam fazer esse ano. Embora as resoluções de ano novo possam parecer um movimento positivo para promover essas mudanças, elas também podem colocar uma pressão desnecessária em você. E deixar de cumprir essas metas pode ser prejudicial à sua saúde mental, levando ao sentimento de culpa, decepção e depressão.

As resoluções de ano novo podem ser particularmente prejudiciais para quem está se recuperando de distúrbios alimentares, como anorexia, compulsão alimentar ou bulimia. Descobri que muitos pacientes em recuperação enfatizam excessivamente as resoluções relacionadas a comportamentos alimentares saudáveis e que essa prática pode ser contraproducente para o processo de recuperação. Em vez disso, o melhor a se fazer é focar na “aceitação radical”.

DIGA ADEUS À MENTALIDADE DE “ANO NOVO, VIDA NOVA”

Tenho certeza de que você não conseguiria dizer quantas vezes já ouviu a frase “ano novo, vida nova”. É muito difícil não internalizar mensagens que insinuam que você não é bom o suficiente do jeito que é, e que deve procurar fazer melhorias — sejam elas relacionadas ao seu corpo, rotina de exercícios ou padrões alimentares. Além disso, é quase impossível não ser exposto a esse tipo de retórica, já que nessa época do ano as academias começam a tentar te convencer a se matricular, enquanto empresas de “saúde” tentam vender dietas.

Mas não precisa ser assim. Depois de se libertar desta mentalidade, é importante começar a desenvolver uma nova relação consigo mesmo. Você não precisa mudar; você só precisa aproveitar esta oportunidade para se aceitar radicalmente como você é, com todos os seus pontos fortes e fracos, erros e acertos.

O QUE É “ACEITAÇÃO RADICAL” E COMO VOCÊ PODE PRATICÁ-LA?

A aceitação radical é um componente da Terapia Comportamental Dialética (TCD), que envolve aceitar a nós mesmos e à nossa realidade, até mesmo sentimentos e experiências dolorosas. No contexto da recuperação de transtorno alimentar, os indivíduos aceitam seus próprios corpos e os sentimentos que têm relacionados à imagem corporal, alimentação e muito mais. A aceitação radical também reconhece que a recuperação não é um processo linear; a jornada de cada pessoa é diferente e pode haver obstáculos ao longo do caminho.

A aceitação radical pode te ajudar a aceitar:

  • Seu próprio corpo
  • Gatilhos ou estresse relacionados à sua imagem corporal
  • Sentimentos angustiantes, como culpa, vergonha e ansiedade
  • Os desafios que você enfrenta durante a recuperação do transtorno alimentar
  • Deslizes ou recaídas relacionados à alimentação 

Se você não vive uma vida de aceitação radical, você não vive uma vida plena. Muito pelo contrário, você está sempre planejando o futuro e vendo a felicidade como algo distante. Quando você se aceita radicalmente, você renuncia à ideia de que só poderá ser feliz depois de realizar certas metas.

Aqui estão algumas dicas para aprender a se aceitar radicalmente em 2022:

  • Pratique a autocompaixão: isso significa que você lida com seus próprios deslizes e erros com compaixão, bondade e perdão. Você reconhece que a recuperação é um processo que dura a vida toda e que você, como qualquer humano, é falho e comete erros.
  • Evite estabelecer metas pessoais: as resoluções de ano novo colocam uma pressão desnecessária sobre você para fazer mudanças e buscar a perfeição. Em vez disso, tente ter uma atitude positiva e enxergar alegria em tudo o que você faz: faça coisas que lhe proporcionem prazer, coma intuitivamente ouvindo atentamente ao que seu corpo pede e seja grato por refeições deliciosas.
  • Reconheça o que você pode e não pode controlar: deixe de lado as coisas que estão além do seu controle e concentre-se no que você pode controlar, por exemplo, como você reage ao estresse, emoções negativas ou recaídas.
  • Escreva em um diário: o registro no diário pode ser uma ótima maneira de refletir sobre suas experiências, emoções e comportamentos, bem como processar emoções indesejadas ou complicadas, particularmente aquelas relacionadas a distúrbios alimentares ou outros problemas de saúde mental.
  • Perdoe a si mesmo: ficar preso em sentimentos de culpa e arrependimento é péssimo para você. Reconheça e aceite seus comportamentos passados para que você possa se desprender deles e seguir em frente.
  • Pratique mindfulness: se você estiver em uma situação angustiante ou perturbadora, concentre-se no que está sentindo, reconheça esses sentimentos e deixe-os existir sem julgamento. Você também pode voltar sua atenção para sua respiração, seguindo o ritmo e fluxo naturais do seu corpo.
  • Crie uma lista de coisas que te ajudam a superar situações difíceis: faça uma lista que te ajude a atingir a aceitação radical, à qual você pode recorrer sempre que estiver passando por um momento ruim. Ter esse conhecimento em mãos pode ajudá-lo a reagir a situações dolorosas de maneira consciente.

Outra dica que pode ajudá-lo a se aceitar radicalmente é um termo que cunhei chamado “escolher o comportamento amoroso” ou CTLB (do inglês, “choosing the loving behavior”). Eu o uso muito com meus pacientes com transtornos alimentares para encorajá-los a pensar no amor não como um sentimento, mas como uma ação. Ao escolher cuidar de si mesmo e aceitar quem você é — o que você sente, sua aparência e seus desafios — você está tomando a decisão de se comportar de uma maneira amorosa e acolhedora. Mesmo que não goste de seu corpo em um determinado momento, você pode reconhecer esse sentimento negativo sem escolher um comportamento prejudicial.

Embora possa parecer difícil no início praticar a aceitação radical, os benefícios são inegáveis. Vá com calma e não se puna. Assim como a recuperação leva tempo, aprender a mudar sua mentalidade também leva. Mas, uma vez que você aceite radicalmente a si mesmo e à sua realidade, será capaz de se concentrar no que pode controlar e viver uma vida sem julgamentos, sendo mais capaz de compreender e lidar com suas emoções e situações dolorosas. Isso é muito melhor do que resoluções para mudar quem você é, não é mesmo?


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