Por que as mulheres são deixadas de lado na corrida da inteligência artificial

A igualdade de gênero deveria estar na vanguarda do desenvolvimento da IA

Créditos: vecstock/ Freepik/ solarseven/ iStock

Kiara Nirghin 3 minutos de leitura

Os modelos de inteligência artificial estão ficando cada vez mais inteligentes. A capacidade de inferência está ficando mais rápida. O hardware está ficando melhor. Porém, infelizmente, nessa corrida da IA, as mulheres estão mais uma vez sendo deixadas para trás – ou sendo totalmente marginalizadas. 

Um dos primeiros livros didáticos sobre IA foi publicado em 1983 por uma mulher, Elaine Rich, engenheira da computação aposentada da Universidade do Texas.

Cynthia Breazeal, especialista em robótica, professora do MIT e cofundadora da startup de robótica Jibo, foi quem desenvolveu um dos primeiros "robôs sociais", o Kismet, no final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Por fim, Fei-Fei Li, codiretora do Human-Centered AI Institute, de Stanford, é uma das principais figuras no desenvolvimento da IA contemporânea e do aprendizado de máquina, principalmente devido ao seu trabalho na criação do ImageNet, nos anos 2000.

Apesar das muitas maneiras pelas quais as mulheres contribuíram para o avanço da IA – como Elaine Rich, que escreveu um dos primeiros livros sobre IA; Cynthia Breazeal, que desenvolveu o robô social Kismet; e Fei-Fei Li, pioneira no ImageNet – elas ainda representam uma pequena porcentagem da força de trabalho global no setor. 

Fei Fei Li (Crédito: MIT/ Divulgação)

De acordo com um estudo de Stanford de 2021, apenas 16% do corpo docente com cargo fixo focado em IA são mulheres. A Nesta, agência de inovação do Reino Unido para o bem social, realizou uma análise, em 2019, que concluiu que a proporção de artigos acadêmicos de IA com coautoria de pelo menos uma mulher não havia melhorado desde os anos 1990. 

Em 2019, apenas 13,8% dos artigos de pesquisa na área de IA no Arxiv.org, um repositório de artigos científicos pré-impressos, eram de autoria ou coautoria de mulheres, com os números diminuindo constantemente na década anterior.

A análise da Nesta constatou que as mulheres são mais propensas do que os homens a considerar as implicações sociais, éticas e políticas em seu trabalho com IA – o que

Apesar das muitas maneiras pelas quais as mulheres contribuíram para o avanço da IA, elas representam uma pequena porcentagem da força de trabalho no setor.

não é nenhuma surpresa, visto que as mulheres vivem em um mundo onde são menosprezadas em função de seu gênero, onde os produtos no mercado foram projetados para homens e onde se espera que as mães equilibrem o trabalho com sua função de cuidadoras.

Esses preconceitos não se refletem apenas nos números brutos fornecidos a nós, instituições de pesquisa. Percebemos essas desigualdades se manifestando no dia a dia de algumas das maiores empresas de tecnologia.

Na semana passada, a Microsoft nomeou o pioneiro em inteligência artificial Mustafa Suleyman como chefe de seu negócio de IA para consumidores e contratou a maior parte da equipe de sua startup anterior, a Inflection AI, incluindo o cofundador Karén Simonyan.

Com Suleyman e Simonyan agora na Microsoft, a Inflection, por sua vez, está sendo liderada por Sean White, ex-chefe de pesquisa e desenvolvimento da Mozilla. Um negócio bastante masculino, para dizer o mínimo.

Cofundadores da Inflexion AI: Reid Hoffman (esq.), Karén Simonyan e Mustafa Suleyman

É por isso que o painel "AI Empowered" de 1º de março no Mês das Mulheres, apresentado por Diane von Furstenberg, recebeu lugar de destaque. É vital que compartilhemos as histórias de mulheres importantes que contribuem para a revolução da IA, por meio da mídia e de eventos. 

Acredito muito no processo de aceleração eficaz, que defende o uso deliberado do progresso tecnológico na pesquisa de IA, nos avanços algorítmicos e nos recursos computacionais. Também acho que as contribuições das mulheres para essa revolução não foram devidamente reconhecidas.

Um dos primeiros livros didáticos sobre IA foi publicado por uma mulher, a engenheira da computação Elaine Rich.

Mas as considerações éticas – como a igualdade de gênero – precisam estar na vanguarda do desenvolvi- mento da IA. Devemos priorizar a transparência e a responsabilidade para desenvolver sistemas de inteligência artificial que respeitem os direitos individuais e promovam a justiça. 

O cenário da IA está pronto para uma mudança de paradigma na qual as mulheres não sejam apenas participantes, mas também pioneiras. Como estamos no auge desse renascimento tecnológico, é fundamental que aproveitemos essa aceleração técnica para impulsionar as mulheres para a vanguarda da inovação em IA. Estou confiante de que somos capazes de concretizar isso.


SOBRE A AUTORA

Kiara Nirghin é tecnóloga premiada, formada na Universidade de Stanford, autora de best-sellers e defensora da sustentabilidade. saiba mais