Propósito pode ser tão importante quanto salário para garantir satisfação no trabalho

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Antes da pandemia de Covid-19, vivíamos o período mais próspero de toda a história humana. No entanto, as pessoas não se sentiam mais felizes ou mais realizadas. Por quê? Hoje, vários dados ressaltam a distinção entre prosperidade e propósito.

Um número incrivelmente alto de pessoas se diz insatisfeita no trabalho. Para elucidar os motivos, um estudo recente procurou definir com mais precisão o que significa ter um “bom emprego” e avaliar quantos norte-americanos consideram que o têm. A pesquisa descobriu que os três principais elementos de um “bom trabalho” eram rotina agradável, remuneração estável e senso de propósito. Mas também mostrou que apenas 40% dos entrevistados sentiam que tinham essas coisas.

A Mental Health America divulgou recentemente uma pesquisa sobre satisfação no trabalho que apontou que 81% relacionavam o estresse no trabalho com problemas familiares; 63% afirmaram que esse estresse os levava a comportamentos não saudáveis; 71% passavam algum tempo falando mal da empresa ou ou chefe; e 71% dedicavam algum tempo, todas semana, para procurar um novo emprego.

Já outra pesquisa recente, realizada pela Gallup, descobriu que, embora o número de funcionários que se dizem “comprometidos” com o trabalho seja o maior em anos, ainda é de apenas 34% nos Estados Unidos e 15% no resto do mundo. Um estudo anterior apontou que apenas 27% acreditam e concordam com os valores da empresa em que trabalham.

Fora do âmbito profissional, o cenário é ainda pior – muitas pessoas se dizem estressadas e infelizes. O Relatório Mundial da Felicidade, por exemplo, analisa três indicadores primários de felicidade, e todos eles aparecem em níveis recordes ou próximos ao limite. A Pesquisa Social Geral dos Estados Unidos de 2019 relatou níveis de infelicidade mais altos do que em qualquer outro momento desde a crise financeira de 2007 e, antes disso, desde a década de 1970. Já o Relatório Global de Emoções publicado pela Gallup em 2019, identificou ao redor do mundo níveis recordes de estresse, de preocupação e de raiva, que podem permanecer ainda por anos.

VÁRIOS PAÍSES ESTÃO COMEÇANDO A CONSIDERAR A SOLIDÃO UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA.

Esse aumento no nível de raiva e estresse está sendo agravado por uma onda de solidão. Professor da Universidade de Harvard, Robert Putnam chamou a atenção pela primeira vez para a relação entre isolamento social e solidão (e o conceito de capital social) em seu livro Bowling Alone. Pesquisas mais recentes sobre o tema não indicam progresso desde então.

Em 2016, um estudo realizado em conjunto com a empresa de pesquisa e análise de mercado Harris Poll e a Associação Americana de Osteopatia, por exemplo, descobriu que 72% dos norte-americanos se sentem solitários. Outro estudo de 2018, realizado pela empresa de saúde Cigna, documentou resultados semelhantes: constatou que quase metade da população dos EUA se sente sozinha, com 54% afirmando que ninguém os conhece de verdade. Os números são particularmente mais altos entre a população mais jovem.

Em outras partes do mundo, resultados parecidos também foram identificados. No Canadá e no Reino Unido, por exemplo, até nomearam um “ministro da solidão”.

Vários países, ao ver esses altos números, estão começando a considerar a solidão uma questão de saúde pública. Resta saber se a pandemia e as outras crises recentes vão manter ou mudar essa dinâmica. A Covid-19 e as consequências sociais e econômicas associadas a ela causaram impactos sem precedentes – dezenas de milhões de pessoas infectadas, milhões de mortos, centenas de milhões enfrentando intensa dificuldade econômica e bilhões sofrendo com traumas psicológicos em todo o mundo.

De fato, a dimensão da pandemia e seus impactos podem piorar drasticamente esse cenário. Mas, de forma contraintuitiva, também poderiam nos reconectar às coisas que realmente importam – um pouco de otimismo em meio às incertezas.


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