Quatro maneiras de combater o mau humor no trabalho

Crédito: Fast Company Brasil

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É segunda-feira, e mais um dia de trabalho começa na tela do computador. Apesar da demanda de aparecer no vídeo, alguns membros da equipe permanecem com a câmera desligada. Um novo membro da equipe começa a se expressar e logo é interrompido por um colega: “Deixa que eu falo, eu estou com os números mais recentes”. Depois de cortar a fala do novato, o mal-educado assume as rédeas da reunião, enquanto o novato faz uma cara péssima e desliga a câmera. 

Comportamentos grosseiros no ambiente de trabalho não são nenhuma novidade. Todavia, depois de dois anos de pandemia, você provavelmente já teve a impressão de que as coisas estão piorando – e não está sozinho nessa. Estudos recentes mostram que não somente a grosseria no ambiente de trabalho está crescendo, como também os espaços virtuais – ambientes importantes para o modelo híbrido de trabalho que 90% de nós diz almejar a longo prazo, de acordo com uma pesquisa da Gallup – estão nos levando a nos sentirmos subestimados.

Agora, já estamos familiarizados com as confusões mais recorrentes na comunicação online. Enfrentamos conexões instáveis, interrupções de animais de estimação ou de crianças durante reuniões de vídeo, e respondemos instantaneamente a textos e a e-mails de trabalho, até mesmo quando eles chegam fora do nosso expediente. Tentamos contornar a ausência da comunicação não verbal, dos gestos instintivos e sinais não verbais que completam tudo que estamos dizendo. Mas as alternativas na tela simplesmente não equivalem às de uma sala de reunião.

E, ainda que a grosseria e a falta de educação no ambiente de trabalho ainda não tenham sido formalmente relacionadas a resultados econômicos, é perceptível que a alta no número de demissões em novembro de 2021 foi liderada por profissionais com cargos em restaurantes e na saúde – justamente trabalhos que exigem interações com o cliente. 

Todas as mudanças nas nossas vidas profissionais e domiciliares, aliadas à atrofia de muitos ambientes sociais que antes eram predominantes – e que incentivavam nosso melhor comportamento–, criaram um terreno fértil para a grosseria, sobretudo em situações nas quais o sucesso depende tradicionalmente de um grau de autocontrole. Ou seja, estamos construindo péssimos hábitos sociais.  A seguir, elencamos quatro conselhos para ajudar a resgatar um pouco da antiga civilidade. 

RECONHEÇA QUE A GROSSERIA SE ALASTRA COMO UMA DOENÇA 

Num estudo da Universidade da Flórida, foi pedido aos participantes que assistissem a um dentre dois vídeos. Em um deles, dois colegas de trabalho estão tendo uma interação educada; no outro, dois colegas estão tendo uma interação grosseira. Depois, os participantes tinham que responder a um e-mail que nada tinha a ver com os vídeos, mas que havia sido escrito ou num tom moderado, ou num tom extremamente grosseiro. Aqueles que tinham visto o vídeo com grosserias estavam mais propensos a redigir uma resposta hostil, enquanto aqueles que tinham visto o vídeo educado se mantinham neutros, independentemente do tipo de e-mail que eram obrigados a responder. 

Esse estudo é perspicaz porque demonstra como o simples ato de observar um comportamento antipático já nos incentiva a reproduzir aquilo que vemos. Não precisamos sequer ser vítimas de uma grosseria para reproduzi-la. Isso faz muito sentido, à medida que sabemos que experiências negativas influenciam nossos pensamentos e ações mais do que os positivos. Mas o efeito disso é particularmente nocivo no ambiente de trabalho, porque estudos apontam que a grosseria piora nossa produtividade. 

De acordo com a Portland State researchers, para evitar a grosseria você deve oferecer aos funcionários mais poder de escolha, para que se sintam menos propensos a “perpetuar a incivilidade”. Isso os incentiva a dedicar mais tempo e energia para refletir sobre situações não cordiais, discutir tensões com colegas e se afastar do trabalho para voltar a ter algum distanciamento. 

ENTENDA COMO A PARCIALIDADE LEVA À AGRESSIVIDADE

Como sabemos, todo cérebro tem as suas predisposições – um conjunto de atalhos mentais que moldam a forma como tomamos decisões. Compreender essas predisposições pode nos ajudar a chegar ao cerne de muito problemas, inclusive de um comportamento não cordial. Três das predisposições mais comuns incluem: nossa predisposição a depender demais das experiências prévias; nossa predisposição a preferir o que está mais próximo, em detrimento do que está mais longe; e nossa predisposição de buscar similaridade, ou preferir pessoas que se parecem conosco, em detrimento das que são diferentes. 

Tudo isso influi na grosseria, em como tratamos novos membros da equipe ao trabalhar remotamente e em como reagimos a alguém que nos interrompe. Identificar e mitigar as essas predisposições pode ajudar a diminuir a grosseria. Uma forma de fazer isso é “se colocar no lugar do outro” ao passar por uma grosseria.

Esteja certo de que isso não é nada fácil, porque um ambiente grosseiro pode ser um gatilho para nossas predisposições, causando uma certa paralisia. Mas se você consegue se perguntar “Por que essa pessoa fez isso?”, você pode descobrir que um colega não está agindo por mal, ou que está apenas refletindo uma frustração, por conta de suas próprias circunstâncias. Em vez de remoer o assunto, é melhor buscar uma outra perspectiva. Essa atitude tem o poder de acalmar e de trazer o foco de volta, permitindo contrariar a predisposição em tempo real. 

APRENDA A GERENCIAR O ESTRESSE COGNITIVO 

Nossos cérebros são concebidos para processar informação sob inúmeras condições. Quando tateamos o desconhecido – algo que temos feito mais do que nunca nesta pandemia – dependemos muito da nossa memória funcional para dar conta das coisas. Essa é a parte do nosso cérebro que tem um reflexo ágil quando lidamos com novas tarefas, mas com uma grande desvantagem: isso não nos permite lembrar das informações por muito tempo. Portanto, se estamos sobrecarregados com novas coisas para aprender, isso pode nos tornar mais esquecidos e impacientes.

Simplificar o tempo e os processos para criar mais eficiência pode ajudar, assim como fazer pausas curtas e pessoais. As equipes e os profissionais precisam recarregar as baterias e se recuperar após vivenciar um comportamento rude ou um ambiente carregado.  

CONSTRUA MODELOS DE APOIO MOVIDOS POR COMPAIXÃO 

A incivilidade constante que vivenciamos é também uma oportunidade única de nos conectarmos melhor uns com os outros, e de crescer emocionalmente como um todo. Nos demos conta de que a solidariedade – até mais do que a empatia ou a simpatia – pode ser um agente poderoso para incentivar uma verdadeira mudança. Ambientes de trabalho que constroem um sistema de resposta solidário são mais adaptáveis e resilientes.

Quando você se lembra de que a cultura organizacional é compartilhada, a incivilidade, como grande parte dos hábitos ruins, pode ser mudada por meio de uma abordagem que prioriza fazer da sua empresa um local educado e mais civilizado – duas qualidades essenciais nos dias de hoje. 


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