“Quiet quitting” não é novidade e tem solução

Por que não devemos acreditar que os jovens não querem trabalhar duro em algo em que acreditam e que preferem ficar no celular

Crédito: Mizuno K

Matt Kerbel 3 minutos de leitura

Por que trabalhamos? Qual a fonte da satisfação profissional? Quanto o mundo afeta ou deveria afetar a capacidade de pôr em prática nossa vocação? O que ou quem nos motiva?

Essas são algumas perguntas que, com razão, ocuparam as mentes de empregados e empregadores nos últimos dois anos, pois todos tivemos que aprender a lidar com circunstâncias sem precedentes.

Recentemente, muito tem se falado sobre o “quiet quitting”, ou desistência silenciosa, em português – a ideia de que seu valor como pessoa não é definido pelo trabalho, levando assim o funcionário a fazer o mínimo possível.

Essa discussão sugere que os millennials e a geração Z estão liderando um movimento de afastamento da cultura de “viver para o trabalho” para buscar um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Acho essa conclusão bastante reducionista. Não a parte sobre simplesmente fazer o mínimo que é exigido, mas a de que esta é uma tendência geracional. É como se isso tivesse começado quando essas duas gerações ingressaram no mercado de trabalho.

Que preguiçosos, não é mesmo?

Não.

PRIORIDADES

A falta de entusiasmo no trabalho tem um contexto. Ela ocorre em todas as gerações e depende da experiência de cada indivíduo.

Recentemente, passamos por muitas coisas: uma pandemia global (a primeira em mais de um século), tendência de baixa na economia, inflação alta, guerra, injustiças sociais, derrubadas de decisões judiciais, exaustão no Zoom, demissões em massa (duas vezes), ideologias políticas polarizadoras, um ataque às instituições, problemas de saúde mental, mudanças climáticas, tiroteios em escolas. E a lista continua.

A falta de entusiasmo no trabalho ocorre em todas as gerações e depende da experiência de cada indivíduo.

O cenário atual foi agravado por, digamos, lideranças não muito boas. Muitas pessoas vivem com medo, porque grandes empresas, que, aparentemente, estavam indo muito bem, afundaram e demitiram milhares de funcionários. Seus líderes dificilmente estão presentes. Há cada vez mais a percepção de que (como sempre aconteceu) as empresas não se preocupam com quem trabalha para elas.

Essa tendência – ou chame-a como quiser – não é apenas compreensível, ela sempre existiu. Não cometa o erro de acreditar, nem por um segundo, que os jovens não querem trabalhar duro em algo em que acreditam e que preferem ficar no celular.

Não podemos culpá-los por não priorizar o trabalho, já que as próprias empresas não os colocam em primeiro lugar. Diria mais: acredito que é algo que acontece com todo mundo.

SOLUÇÃO

A cultura de “viver para o trabalho” tem que acabar. As pessoas precisam de descanso e são mais produtivas quando encontram um equilíbrio, isso é fato. No entanto, o trabalho é uma das principais fontes de autorrealização. É como ajudamos outros a ter uma vida melhor.

Mas, por favor, não distorça essa afirmação para dizer que as novas gerações são preguiçosas. Há um contexto, que é afetado pela liderança (ou falta dela), como sempre foi.

A boa liderança procura entender as tendências para se concentrar em seu recurso mais importante, o humano.

Felizmente, existe uma solução viável. Então, anote. Espero que esteja pronto! Apenas duas palavras: boa liderança.

Uma boa liderança sempre foi e será o melhor caminho. Ela faz com que os funcionários entendam e acreditem na visão do líder e deem seu melhor para torná-la realidade. Também garante que, ao se dedicar totalmente ao trabalho, se sintam vistos, ouvidos e sejam motivados.

Ela ajuda a diminuir o medo de demissões, previstas ou imprevistas, demonstrando constantemente que o líder fará tudo ao seu alcance para evitar que isso ocorra. Caso as demissões sejam inevitáveis, ele sempre fará todo o possível para ajudar os funcionários a seguir suas carreiras.

A boa liderança reconhece o atual clima cultural e econômico e procura entender as tendências para se concentrar em seu recurso mais importante, o humano, da melhor maneira possível.

Então, se você quiser pôr um fim ao quiet quitting, seja, antes de tudo, um bom líder. Ponto final. Seja o exemplo a ser seguido. Caso contrário, a desistência silenciosa pode virar uma bola de neve, e fazer com que desistam do trabalho por raiva.


SOBRE O AUTOR

Matt Kerbel é consultor de marca, conteúdo e comunicações da Cart.com. saiba mais