Se você tem a síndrome do impostor, com isso vai se sentir melhor
Certa vez, eu fui voluntário em uma organização sem fins lucrativos. Que acabou por fechar, depois de levar um golpe da pessoa da equipe que mais trabalhava.
Era uma operação de reciclagem de computadores. Indivíduos e empresas doavam computadores antigos, um time de voluntários os consertava e os computadores eram vendidos ou doados para outras organizações beneficentes.
Essa era, pelo menos, a ideia.
A empresa era pouco funcional, pelo menos até a chegada de um indivíduo chamado “Brazil”. Ele trabalhou incansavelmente para deixar tudo funcionando corretamente. Estava sempre ao telefone, convencendo várias empresas a fazerem doações e coordenando a entrada constante de novos voluntários. Os computadores estavam sendo vendidos com regularidade – mais que o suficiente para pagar o aluguel. A organização, após meses de inércia, estava começando a decolar.
Foi aí que o “Brazil” limpou a conta bancária da organização e fugiu da cidade. Eles fecharam pouco tempo depois.
Essa pessoa era um vigarista – um impostor de verdade. E quer saber de uma coisa? Acho que ele nunca duvidou dele mesmo. Ele projetava tanta confiança no que falava, mesmo naquilo que era objetivamente falso, que não se conseguia duvidar dele. Honestamente, acho que ele nunca deve ter duvidado dele mesmo na vida.
Isso porque impostores de verdade não sofrem de síndrome do impostor. Eles não se perguntam se são qualificados para a posição que ocupam, ou se estão equiparados aos seus colegas. Eles só mentem, mentem, mentem até terem acesso ao que eles querem, e aí eles pegam o querem e fogem.
PESSOAS BRILHANTES TENDEM A DUVIDAR DE SI MESMAS
A síndrome do impostor é um padrão psicológico comum, no qual as pessoas duvidam dos seus próprios conhecimentos e competências, vivendo com medo de serem descobertos como uma fraude. Isso é particularmente comum entre as pessoas altamente qualificadas e experientes.
Parece estranho – por que pessoas qualificadas duvidariam de si mesmas? Lembre-se: pessoas altamente qualificadas tendem a trabalhar com outras pessoas altamente qualificadas e tendem a medir seu próprio valor em comparação ao de outros. Essa é a receita para duvidar de si mesmo.
A Zapier, onde eu trabalho, é uma empresa com uma porcentagem impressionante de pessoas brilhantes, o que pode ser bastante intimidador. A maioria das pessoas é amigável e irá te ajudar caso você tenha alguma dúvida, mas ainda assim é muito fácil olhar ao seu redor e sentir-se inferior.
Algumas das pessoas mais inteligentes que eu conheci – pessoas que fazem um excelente trabalho consistentemente e às vezes gerenciam departamentos inteiros – se perguntam se elas sabem alguma coisa sobre as áreas nas quais trabalham há mais de uma década. E elas não deveriam se sentir assim. Nenhuma dessas pessoas está enganando a empresa – todas elas são qualificadas para fazer o que elas fazem e estão contribuindo de uma forma única. E estão fazendo um ótimo trabalho.
É algo difícil de superar, mas sempre que eu me sinto desse jeito eu penso no “Brazil”. Ele conseguia falar algo que objetivamente não era verdadeiro e mantinha o que dizia sem que ninguém o questionasse. Eu digo, porque aconteceu comigo. Eu duvidei de coisas que sabia que eram verdade porque ele era confiante e convincente a esse ponto. Eu nunca saberei o que se passava na cabeça dele, mas acho que ele não perdia nem um momento sequer se questionando.
Se você não é um vigarista de verdade e está sentindo a síndrome do impostor, deveria se sentir melhor com isso. O fato de você estar se perguntando se é uma fraude provavelmente significa que você não é. Impostores de verdade não se perguntam se eles são uma fraude.
UM MACACO COM UMA MÁQUINA DE ESCREVER
Minha colega da Zapier, Hannah, me pediu para escrever um artigo sobre o quão fantástica ela é. Era uma piada, mas eu vou fazê-lo mesmo assim.
A Hannah é uma das minhas pessoas favoritas no mundo para se conversar e é muito boa no que faz. Eu aprendo algo novo com ela toda semana e tenho um profundo respeito por suas habilidades. Então, quando recentemente ela escreveu um artigo intitulado “Como escrever bem”, eu duvidei de mim mesmo. O artigo encorajava as pessoas que querem ser escritoras a estudar gramática, a entender as regras da linguagem, a consultar um guia de estilo e aprender a dispor das frases.
Eu sou escritor. Eu nunca fiz nada disso.
Isso me fez achar que eu não sei escrever – é isso que a síndrome do impostor faz com o seu cérebro. Esqueça o fato de eu escrever profissionalmente desde 2007. Esqueça o fato de eu ter tido bastante sucesso desde então. Se alguém que eu respeito acha que é assim que se aprende a escrever, e eu não fiz isso, minha mente irá pensar que eu não sei escrever.
Mas isso não é verdade. Eu só aprendi de uma forma diferente.
Isso aconteceu comigo em outros contextos também. Eu paguei uma boa parte da minha faculdade trabalhando em um viveiro de plantas de Ontário, cuidando das plantas todos os verões, desde a nona série até meu último ano de faculdade. Eu me tornei muito bom em podar e preparar as plantas para que elas pudessem ser vendidas no varejo após crescidas. Eu não me lembro de ninguém me dizendo como fazer isso – só lembro de observar, imitar e eventualmente ser capaz de moldar um cedro ou um bordo japonês de uma certa maneira.
Minha esposa uma vez me pediu para explicar como podar um arbusto enquanto estávamos trabalhando em nosso quintal. Eu consegui. Não é uma coisa sobre a qual eu tenha refletido alguma vez ou sobre a qual eu tenha alguma teoria – é somente algo que eu sei fazer.
Podar plantas e escrever são coisas intuitivas. São habilidades que eu tenho por ter feito muitas vezes. Eu não consigo achar um professor que tenha me ensinado e eu não conseguiria explicar os mecanismos envolvidos nelas. Eu não faço ideia do que seja um predicado, por exemplo. (Eu acabei de procurar o que é um predicado e, para falar a verdade, eu continuo sem saber o que é um predicado.)
Às vezes eu me sinto mal sobre isso: como se eu fosse burro, um macaco que aprendeu um truque por repetição.
Mas eu não sou um impostor – na verdade, eu sou bom nisso. Eu sei disso, nem que seja pelo fato de você estar lendo este artigo (e não é fácil manter alguém atento por tanto tempo).
Não é útil ler os conselhos da Hannah sobre como tornar-se um escritor melhor e chegar à conclusão de que eu não devo ser um bom escritor. As pessoas aprendem de formas diferentes, só isso. E eu não deveria ouvir aquela voz que me diz que eu estou fingindo, porque eu não estou. Eu não sou um vigarista. Um vigarista não leria o artigo da Hannah e duvidaria de si mesmo. Ele leria o artigo e diria que já sabia de todas essas coisas e que ele já é ótimo nelas.
Então, eu fico feliz que aquela voz da dúvida esteja lá, porque sem ela eu iria achar que já sei tudo e não iria tentar melhorar. Quem sabe? Talvez algum dia eu aprenda o que é um predicado.
ENTREGUE-SE E VOCÊ SE SENTIRÁ MELHOR
Eu tenho sorte: eu trabalho em uma empresa que normalizou falar sobre a síndrome do impostor. Há um canal dedicado do Slack onde cerca de 100 pessoas ajudam umas às outras. Existem vários recursos educacionais disponíveis especificamente para este assunto e eu tenho vários amigos que me ajudaram com isso. Eu não consigo nem dizer o quão reconfortante isso é.
Uma coisa que um vigarista nunca vai fazer é admitir abertamente que ele está enganando alguém. Ele irá negar, mentir e geralmente andar em círculos em torno da verdade. Então, se você quer ter 100% de certeza que você não é um impostor, faça algo que um impostor nunca faria: entregue-se. Fale com um colega no qual você confia sobre como você se sente. Eu tenho certeza que ele irá compreender e que você irá se sentir muito melhor depois.