Três etapas para transformar um ambiente tóxico em uma cultura positiva

Os desafios da saúde mental estão custando muito às organizações e impactando a sociedade como um todo

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Renata Rivetti 5 minutos de leitura

O tema da saúde mental, bem-estar e felicidade nas empresas vem ganhando força nos últimos anos. Seja por uma mudança de comportamento neste cenário pós-Covid, no qual passamos a refletir sobre como estamos dedicando nosso tempo, seja quanto a uma mudança geracional, na qual vemos que os valores dos millennials e GenZs mudaram e o trabalho ganha outro espaço em suas vidas.

Ou seja, grande parte dos profissionais hoje não querem passar a vida somente trabalhando, menos ainda trabalhando sem se sentirem realizados ou sem encontrar significado em suas vidas.

o líder não pode mais achar que a questão da saúde mental dos colaboradores não é sua responsabilidade.

Mesmo diante desse cenário, ainda há grandes desafios para a serem enfrentados. Milhões são investidos em programas de bem-estar, mas o ambiente tóxico continua existindo em muitas empresas. Por que estamos atentos ao tema, mas seguimos errando na sua resolução?

Atuando em diversas empresas, tenho visto que estamos endereçando somente uma parte do problema. Há três etapas que devemos percorrer para sair de um ambiente tóxico para a construção de uma cultura positiva e saudável.

ETAPA 1: MITIGAR AS DOENÇAS

- Criar consciência sobre a saúde mental

Acreditamos que temos que criar consciência sobre saúde mental, especialmente com a liderança. Um estudo realizado pelo The Workforce Institute UK com 3,4 mil pessoas em 10 países revelou que as atitudes dos líderes impactam 69% na saúde mental da equipe. Segundo a mesma pesquisa, esse é o percentual do impacto mental de nossos parceiros ou outras pessoas que moram conosco.

Esse número, consideravelmente alto, é, sem dúvida, suficiente para chamar a atenção para a necessidade de os líderes entenderem quais atitudes podem fazer as pessoas adoecerem ou florescerem.

O primeiro passo é que o líder não pode mais achar que a questão da saúde mental, bem-estar e felicidade dos colaboradores não é sua responsabilidade. As empresas precisam entender que não é apenas uma questão de RH.

- Oferecer programas de bem-estar

De acordo com uma pesquisa da McKinsey com 15 mil funcionários de 15 países, 59% experimentaram ou estão enfrentando um problema de saúde mental. A pesquisa também aponta que os que enfrentam esse tipo de problema têm quatro vezes mais chances de deixar a empresa e duas vezes mais de serem desengajados no trabalho.

Ou seja, os desafios da saúde mental estão impactando e custando muito às organizações, além dos impactos na sociedade. Investir em sessões de terapia ou programas de bem-estar pode tratar o desafio de aumentar a produtividade e reduzir o absenteísmo.

- Construção de um ambiente psicologicamente seguro

Crie um ambiente psicologicamente seguro para que os colaboradores se expressem sem medo de serem punidos ou julgados quando trouxerem suas dúvidas, ideias ou questionamentos. A segurança psicológica é sutil e pequenas atitudes podem construir esse ambiente propício ao aprendizado e às trocas. Apenas em um ambiente psicologicamente seguro, a inovação e a criatividade podem ser permitidas.

ETAPA 2: PREVENIR DANOS

- Avalie a necessidade de uma reunião / Redesenhe o trabalho para ter tarefas mais assíncronas

O número de reuniões online aumentou 153% desde o início da pandemia, aponta a pesquisa Work Trend Index 2022. Andrew Barnes, fundador da 4 Day Week Global, diz que somos produtivos apenas três horas por dia. Isso mostra como reuniões são improdutivas.

Existem alguns pontos de verificação para convidar para uma reunião que devem ser analisados antes: ela é realmente necessária ou posso enviar um e-mail? Para quem devo enviar o convite? Existe um pré-trabalho para que possamos comparecer à reunião com mais informações? Podemos trabalhar de forma assíncrona ou precisamos discutir os tópicos juntos?

Quando indicamos ferramentas práticas para ajudar o líder a se redesenhar e ser mais eficiente podemos ajudar a diminuir a sobrecarga de trabalho.

- Analise os recursos do trabalho versus as demandas do trabalho

O esgotamento também é causado quando temos mais demandas com as quais podemos lidar. Líderes e funcionários devem analisar se há alguém sobrecarregado. Prevenir danos é muito mais fácil e barato do que resolver quando o esgotamento acontece.

- Descubra os pontos fortes dos funcionários

Nossa sociedade está focada nas falhas e fraquezas das pessoas. A psicologia positiva mostra que podemos mudar esse viés e focar em nossos pontos fortes. Isso pode nos trazer autoestima e autorrealização. Parece simples, mas realmente pode trazer bons resultados e ajudar a prevenir malefícios.

ETAPA 3: PROMOVER FELICIDADE CORPORATIVA

- Desenvolvimento individual

Podemos ter sessões de coaching para construir um plano de desenvolvimento individual. Além disso, é importante ajudar as pessoas a entenderem seus pontos fortes, com algumas avaliações como Gallup Strengths, VIA Character e muito mais.

- Desenvolvimento da equipe

Os líderes podem construir uma cultura de aprendizado, com momentos em que podem compartilhar seus conhecimentos e também aprender com todos. Eles podem ter mesas redondas, momentos para assistir juntos TED talks, ouvir podcasts, ler livros. Inspire e seja inspirado pelos outros.

- Significado no trabalho

Na minha opinião, a ferramenta mais importante que pode trazer significado ao trabalho é o job crafting: redesenhar as atividades mudando relações, atividades ou a percepção sobre o trabalho.

- Reconhecimento e valorização

Os líderes podem criar uma agenda para reconhecer as pessoas nas reuniões. Podem enviar uma carta de agradecimento, valorizando as ações, virtudes e comprometimento dos funcionários. Temos que reconhecer desde pequenas avaliações e não apenas resultados alcançados.

- Comunidade e conexão

Os líderes podem criar team building, grupos de afinidade, reuniões para escuta ativa, construir um sentimento de pertencimento.

- Harmonia entre vida profissional e pessoal

Muito pode ser feito nesse tópico, como pausas, incentivo para mais tempo de lazer, uma semana de quatro dias, sexta-feira curta, tempo de comunicação livre e muito mais. Não é uma realização que acontece de forma imediata; leva tempo e esforço. É preciso se dedicar e realmente investir na priorização do tema.

Há também a questão da prática diária. Nada disso funciona se for feito apenas uma vez. A construção de uma cultura saudável e positiva tem muito mais a ver com a jornada, com a construção diária, do que com um grande momento do ano.

Não se constrói uma cultura positiva da noite para o dia. Isso envolve mudanças, reflexões, autoconhecimento e muita disciplina. É difícil, mas possível. Os resultados mostram que vale a pena.


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora e chief hapiness officer da Reconnect - Happiness at Work, especializada em felicidade corporativa e lidera... saiba mais