Um depoimento sobre como apoiar mulheres negras no ambiente de trabalho

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Em 2010, quando eu estava trabalhando como freelancer de uma casa no Harlem, escrevi um artigo intitulado “Where is the Black Liz Lemon?” (em tradução livre, “Onde está a Liz Lemon negra?”) que tratava da falta de complexidade das personagens femininas negras representadas na mídia. Alguns dias depois de ter publicado o artigo, recebi um recado de uma mulher chamada Issa, me agradecendo e dizendo que o texto era a inspiração que ela precisava para iniciar um projeto que vinha adiando. Alguns meses depois, ela me enviou um link para Misadventures of an Awkward Black Girl, a série do YouTube que seria a plataforma de lançamento de Insecure, da HBO.

O que Issa Rae trouxe para nossas casas com Insecure foi uma história centrada em mulheres negras que mudou paradigmas por uma década. O público da série passou cinco temporadas convidando Issa e Molly – mulheres negras incríveis, completamente imperfeitas e em construção – para fazer parte de suas vidas. Era uma história sobre o que elas sentiam, como cresciam e como amavam – narrativas que apenas alguns anos atrás ainda eram raras de se ver na televisão. 

Na década seguinte, construí uma carreira no setor corporativo, trabalhando em algumas das empresas mais reconhecidas do mundo, e moro a poucos quarteirões da casa onde escrevi o artigo que inspirou Insecure. Assistindo ao episódio final, me senti muito orgulhosa de Issa Rae e grata por essas histórias e pelo impacto que elas tiveram em milhões de espectadores. Ainda assim, refletindo sobre a atualidade, me pergunto se ainda nos sentimos  confortáveis ​​com mulheres negras plenamente realizadas apenas dentro das telas, e não dentro das empresas onde trabalhamos.

(Crédito: HBO)

Embora Insecure seja focada em mulheres negras, é importante ter em mente que a maioria dos programas que retratam mulheres negras não as mostram como personagens multifacetadas. No ano passado, apenas uma em cada cinco mulheres negras que apareceram na mídia ou em programas de streaming desempenharam papéis com fala. E por mais raro que seja ouvir as vozes de mulheres negras nas telas, para a maioria das pessoas isso ainda ocorre mais frequentemente do que de fato trabalhar ao lado de uma na vida cotidiana. Na verdade, a maioria das pessoas nunca trabalhará de perto com uma líder negra, a menos que esteja na sala com as 1,7% de nós que ocupam cargos seniores.

Nos últimos 10 anos, subi na hierarquia em várias empresas da Fortune 500, de finanças a tecnologia. Das empresas que divulgaram publicamente seus números do quadro de funcionários, nenhuma tinha em sua força de trabalho mais de 3% de mulheres negras. Quando você atinge o nível de liderança, esse número cai ainda mais. Nesse ponto, geralmente é um decimal que nunca transmite adequadamente o quanto a sensação pode ser solitária. Em minha função no Google, por exemplo, fui a primeira mulher negra a liderar nossa equipe, a única mulher negra na equipe de liderança de nosso departamento e geralmente era a única mulher negra na sala. Quando eu apontava isso para meus colegas não negros, muitos respondiam como se fosse um elogio. Quando eu dizia isso para outras líderes femininas negras, elas entendiam o custo de tudo isso.

Este ano, à medida que avançamos para o próximo capítulo da Grande Renúncia, as empresas divulgarão números atualizados de funcionários e enfrentarão fortes atritos – particularmente com as mulheres negras – de suas hierarquias. Algumas dessas empresas procurarão tratar os dados como um problema de reputação, mas as organizações inteligentes reconhecerão que isso se trata de um problema de proximidade.

Quando as empresas veem as mulheres negras apenas como símbolos ou dados e não em sua humanidade, é mais difícil fornecer o tipo de ambiente que as apoiaria a aparecer plenamente como líderes. Quando as empresas não entendem os papéis que as mulheres negras desempenham, elas são menos propensas a conectar a necessidade de políticas de incusão que ajudem a elas e a outras minorias. Quando as empresas ignoram as formas como a diferença salarial afeta as mulheres negras ao longo de suas carreiras, elas não assumem a remediação institucional necessária para lidar com as desigualdades salariais.

As organizações que vão liderar o futuro serão aquelas que entenderem que tornar o local de trabalho mais equitativo para as mulheres negras permite que este seja mais equitativo para todos. E se há algo que uma década de Insecure deixou claro, é que quando as mulheres negras recebem apoio para criar e liderar,  constroem mundos e espaços sem os quais não poderíamos imaginar viver.


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