Use a teoria dos games para lidar com o bullying no ambiente de trabalho

Matemáticos descobriram uma fórmula para ajudá-lo a não se submeter a colegas ou chefes intimidadores

Créditos: Elchinator/ pixabay/ Sigmund/ Unsplash

Sam Becker 3 minutos de leitura

Não se dobre, não quebre: essa pode ser a estratégia vencedora para derrotar os valentões do escritório, de acordo com uma nova pesquisa.

Pesquisadores do Dartmouth College descobriram que pode haver algumas maneiras surpreendentes de enfrentar quem pratica bullying ou intimidação no ambiente profissional. Trata-se de descobrir um “calcanhar de Aquiles” que ajuda a igualar o campo de jogo – ou de trabalho. Mas dá para fazer isso utilizando a dinâmica da teoria dos jogos e a matemática que baseia estratégias competitivas otimizadas.

Ao se recusar a se curvar aos assediadores, a pessoa pode efetivamente redefinir os termos da situação.

A teoria dos jogos é um ramo da pesquisa matemática e econômica referente às interações entre as partes em algum tipo de competição – os jogadores em um jogo de pôquer, por exemplo. Pode haver estratégias em jogo que uma parte pode usar contra a outra para alcançar um resultado desejado.

Normalmente, as duas respostas possíveis são cooperar ou desistir. Mas quando “intimidadores” controlam situações em um determinado cenário (como aquele típico colega de escritório que provoca inibição ou receio nos outros), as outras partes podem usar “estratégias de determinante zero (DZ)” para revidar.

QUEM SAI PERDENDO?

Na verdade, o estudo de Dartmouth descobriu que, quando alguém enfrenta um “intimidador incorrigível” (ou seja, alguém que pratica bullying e jogos de poder), recusar-se a se submeter às suas exigências pode ser a melhor estratégia. Fazer isso tende a resultar no intimidador saindo com a sensação de perdedor.  Essa “estratégia inflexível”, como é chamada no estudo, envolve a recusa em cooperar com o agressor.

Crédito: 123RF

“Jogadores inflexíveis, que optam por não ser intimidados nem ceder à pressão, podem resistir recusando-se totalmente a cooperar com o abusador. Para isso, eles precisam abrir mão de algumas coisas, mas o intimidador sai perdendo ainda mais”, disse Xingru Chen, um dos autores do artigo e professor assistente da Universidade de Correios e Telecomunicações de Pequim, em um comunicado de Dartmouth.

“Nosso trabalho mostra que, quando um assediador se depara com um jogador inflexível, sua melhor resposta é oferecer uma divisão justa, garantindo assim um 'pagamento' igual para ambas as partes. Em outras palavras, justiça e cooperação podem ser cultivadas e aplicadas por jogadores inflexíveis.”

Basicamente, o estudo conclui que resultados mais justos podem ser efetivamente forçados pelos jogadores que participam da interação quando eles se recusam terminantemente a jogar o jogo de quem pratica bullying.

REDEFININDO O JOGO

Isso foi visto recentemente na esfera política norte-americana durante as recentes negociações do teto da dívida – duas partes, cada uma esperando por resultados diferentes, tentaram jogar seguindo a estratégia “inflexível” (principalmente a Casa Branca) para obter as concessões que desejavam. Nenhum dos dois lados foi totalmente bem-sucedido, mas no início as estratégias pareciam semelhantes.

Quem escolhe não ser intimidado nem ceder à pressão pode ter que abrir mão de algumas coisas, mas o assediador sai perdendo ainda mais.

Outros exemplos do mundo real foram explicados pelo autor sênior do artigo, Feng Fu. “Considere a dinâmica de poder entre entidades dominantes, como Donald Trump, e a falta de inflexibilidade do Partido Republicano ou, por outro lado, a resistência militar e política à invasão russa da Ucrânia, que ajudou a neutralizar a incrível assimetria”, exemplificou.

“Esses resultados podem ser aplicados a situações do mundo real, desde equidade social e remuneração justa até o desenvolvimento de sistemas que promovem a cooperação entre agentes de IA, como direção autônoma.”

Mas como as pessoas podem utilizar isso no ambiente de trabalho? Em termos mais simples, recusar-se a ceder aos jogos de poder de um colega intimidador ou às tentativas iniciais de alguém impor sua vontade aos outros é um bom ponto de partida.

Ao se recusar a se curvar aos assediadores, a pessoa pode efetivamente redefinir os termos da situação, mantendo-se firme. Não há garantia de que ela conseguirá o resultado que deseja, é claro. Mas é uma estratégia que pode ajudar algumas pessoas acostumadas a serem pisadas por seus chefes ou colegas a recuperar um pouco de poder e respeito.


SOBRE O AUTOR