5 perguntas para Fernando Visser, head de inovação da re.green

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Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

Inovação nasce em árvore, sim, pelo menos para a re.green. A startup usa tecnologia para mapear, coletar e dispersar sementes de árvores nativas, além de monitorar o plantio. O objetivo? Reflorestar a mata atlântica e a Amazônia. Quem conta é o diretor de tecnologia e inovação da companhia, Fernando Visser.

Desde drones para plantio até a análise de dados para evitar desastres ecológicos, a tecnologia é usada em favor da floresta. Com foco no ciclo de plantio e crescimento, todo o ecossistema floresce.

Em menos de dois anos, a re.green tem dois projetos em andamento: um em Eunápolis e um Potiraguá, na Bahia. A ideia é chegar na Amazônia e aumentar a escala.

A empresa participou do WebSummit Rio 2024, na semana passada, para  falar sobre a importância dos investimentos para mitigar a crise climática.

FC Brasil – Quais são as tecnologias disponíveis que podem evitar que a Amazônia chegue ao “ponto de não retorno”?

Fernando Visser – O primordial que precisa acontecer para que a Amazônia não chegue no “ponto de não retorno” é que a gente cesse o desmatamento ilegal da floresta.

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Dito isso, tem algumas tecnologias emergentes interessantes que ajudam a detecção do desmatamento e a ação das mudanças climáticas – um mundo de monitoramento, de startups que usam dados de satélite, de drones, de câmeras.

O que algumas têm conseguido fazer é escalar o monitoramento para o tempo real, seja do ponto de vista ecológico – para entender o desenvolvimento da floresta –, seja do ponto de vista climático. Por exemplo, detecção de fogo e riscos de incêndio dão precisão e rapidez para que a gente evite desmatamento.

Outro ponto que vale ressaltar é sobre as tecnologias de restauração, que são usadas para recuperar os biomas. Há tecnologias que permitem restaurar áreas a partir de fragmentos florestais, restaurar áreas que têm maior declividade. Existem maneiras de se usar drones para dispersar a adubação em áreas que uma pessoa não consegue chegar.

FC Brasil – A re.green tem o objetivo de restaurar um milhão de hectares de florestas nativas nos próximos 15 anos. Quais são os desafios para a restauração de floresta em escala, tendo em vista que as mudanças climáticas já estão em curso?

Fernando Visser – O desafio é enorme. A cadeia da restauração ainda é muito artesanal. Historicamente, não foi desenvolvida; restauração sempre foi feita em projetos de pequena escala, desenvolvidos com o governo ou com o terceiro setor.

Quando falamos em escala, o desafio começa desde a coleta de sementes. A semente vem da floresta que está em pé. Então, precisa desenhar uma rede de coletores de sementes das mais variadas espécies. Na re.green temos mais de 80 espécies diferentes.

o mundo precisa descarbonizar 60 gigatoneladas ao longo dos próximos anos para chegar à neutralidade de carbono em 2050.

Depois vem a cadeia da produção da muda. São viveiros que precisam se profissionalizar, investir em maquinário, treinar pessoas. Existem investimentos necessários nessa parte da cadeia de produção.

Quando se move um pouco na etapa da restauração, tem o momento dos plantios. É preciso desenvolver tecnologias para plantar mais rápido e de forma mais barata. Em algumas regiões do Brasil a gente não consegue mecanizar, o que significa que o plantio é 100% manual, um desafio adicional.

Além disso, temos que falar sobre o impacto das mudanças climáticas. Olhamos as condições climáticas das terras que plantamos com os marcadores atuais, mas elas vão mudar ao longo dos próximos anos.

Investimos em pesquisa e desenvolvimento para detectar momentos de estiagem, de incêndio… Entender de forma antecipada é importante para adequar nossos modelos de restauração para cada região.

FC Brasil – A re.green tem um viveiro de mudas e trabalha apenas com vegetação nativa das florestas amazônica e atlântica. Há planos de também explorar madeira na área regenerada. Como andam os estudos de produtividade de árvores nativas?

Fernando Visser – Nosso programa de pesquisa e desenvolvimento tem foco grande na produtividade de espécies nativas. Estamos completando os primeiros plantios na fazenda Ouro Verde, na Bahia, e já colhemos alguns aprendizados, como os protocolos científicos de manejo, como faz a manutenção do plantio para que a árvore cresça reta.

Depois fazemos protocolos para podas e intervenções pontuais para maximizar o crescimento da madeira. E tem pesquisas de como fazer a mistura de árvores nativas e as chamadas “espécies de carbono”, que são árvores de crescimento rápido que criam sombreamento para o restante da floresta.

FC Brasil – Qual o potencial de sequestro de carbono que tem uma floresta regenerada, com bioma também regenerado? Em termos de mercado de carbono, qual o potencial financeiro?

Fernando Visser – O que a re.green faz, sendo projetos de restauração, garante adicional dia e o potencial de sequestro de carbono é muito mais alto em comparação com projetos de conservação.

A floresta se regenera, além do carbono capturado, que tem potencial grande. A gente recompõe os subsistemas florestais, os recursos hídricos, a parte de solo, os componentes de fauna. Não é só sobre captura de carbono, mas regenerar o ecossistema.

Crédito: re.green

Isso nos permite capturar prêmio de preço. Conseguimos precificar os benefícios, como redução de risco de extinção de espécies da região e impacto social local. Tudo isso entra de forma direta nas nossas negociações com os clientes.

Em termos de potencial do mercado, o mundo precisa descarbonizar 60 gigatoneladas ao longo dos próximos anos para chegar à neutralidade de carbono em 2050. As soluções baseadas na natureza, na área de restauração ecológica, têm capacidade de entregar 5% dessa demanda.

FC Brasil – Você vem do varejo. Antes da re.green, atuou no hortifruti Natural da Terra e passou por outros varejistas de alimentos. O que o motivou a atuar nesse mercado de regeneração de florestas? 

Fernando Visser – O que me motivou foi mesmo o propósito. O varejo tem ciclo de negócio curto, todo dia está atrás da venda, enquanto o negócio de restauração tem um ciclo de anos e muitos anos. O primeiro carbono sai da floresta no ano 4. Demora 50 anos um projeto de reduzir carbono.

Embora os ciclos sejam diferentes, o aprendizado que tenho do varejo foi muito valioso. No varejo, você é treinado para trabalhar com pouco recurso e testar rápido, o que é fundamental em um setor como o da restauração. Precisamos colocar rapidamente as tecnologias em campo para testar e experimentar.


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