A GenZ quer voltar ao trabalho presencial – mas o resto do time, não
O mais fácil seria manter o trabalho totalmente remoto ou voltar de vez ao presencial. Mas as consequências de limitar as escolhas não valem a pena
Nossa tendência é achar que quase ninguém, em sã consciência, trocaria a conveniência de trabalhar em casa pelo deslocamento diário até o local de trabalho, de segunda a sexta-feira.
Só que a mais nova geração de trabalhadores, a geração Z, quer ter a opção de voltar ao escritório e de estabelecer uma relação entre trabalho/ vida que os mais velhos puderam criar. Aquele tipo de trabalho à moda antiga, que envolvia a conexão social, os sons, os cheiros e a colaboração prática proporcionados pelo envolvimento cara a cara.
lidar com os outros também pode ser a parte mais difícil do trabalho e da vida.
Será que, ao tentar equilibrar as demandas das gerações mais velhas com o desejo da geração Z, estamos forçando as pessoas a voltar aos ambientes de trabalho presencial sem considerar as consequências disso a longo prazo?
É por isso que precisamos achar algum equilíbrio.
Os membros mais velhos da geração Z tem apenas 26 anos e, no máximo, alguns anos de experiência de trabalho pré-pandemia. Eles enxergam o futuro do trabalho de forma muito diferente de seus colegas mais velhos.
Em uma pesquisa da Axios, quando questionados sobre o que perderiam se continuassem a trabalhar remotamente, 74% dos jovens responderam a socialização do escritório e 41%, a chance de conviver com um mentor.
Um estudo conduzido pela Harvard ao longo de 84 anos, investigou o que aumenta a saúde e a felicidade e mostrou que bons relacionamentos são, sim, um fator importante.
Se você acredita que seres humanos precisam de outros seres humanos, isso nos torna as pessoas mais sortudas do mundo... mas só até percebermos que lidar com os outros também pode ser a parte mais difícil do trabalho e da vida.
IMPÔR UM MODELO ÚNICO NÃO FUNCIONA
Separar emoções e trabalho poderia tornar a vida mais simples, mas temos que nos perguntar se isso é viável. Afinal de contas, somos todos humanos em busca de significado e conexões significativas.
Apenas porque um de nossos objetivos é ganhar dinheiro com um emprego não significa que somos capazes de separar facilmente do ambiente profissional a intenção de sermos felizes, realizados e de nos sentirmos vivos.
Os membros mais velhos da geração Z tem apenas 26 anos e, no máximo, alguns anos de experiência de trabalho pré-pandemia.
Muita gente da geração Z tem sonhado com os benefícios sociais de trabalhar presencialmente. Por outro lado, muitos trabalhadores não querem voltar a se deslocar todos os dias, ou realmente precisam de uma opção de trabalho flexível, para equilibrar sua vida em casa.
Em uma pesquisa da Accenture com 9.326 trabalhadores, 83% disseram preferir um modelo híbrido, que possa oferecer o melhor dos dois mundos: equilibrar as responsabilidades da vida pessoal enquanto, ao mesmo tempo, atende à necessidade de pertencer a uma comunidade.
No entanto, como vimos com algumas empresas como a Apple (ou, mais recentemente, a Amazon), que tentou impor três dias no escritório, houve uma resistência significativa. Como resultado direto dessa imposição da semana de três dias, mais da metade dos funcionários disseram que desejam sair
Mas, se as pessoas dizem que querem um modelo híbrido, por que será que na prática elas reclamam? O motivo pode ser o fato de que imposições como as feitas pela Apple não contemplam a opção de deixar o trabalho 100% remoto.
Empresas como 3M, Spotify e Hubspot encontraram um meio termo e implementaram um modelo de trabalho híbrido + remoto, que dá aos funcionários a escolha entre ir para o escritório o tempo todo, estar lá apenas parte do tempo ou trabalhar apenas remotamente.
A palavra-chave da estratégia dessas empresas é liberdade de escolha. Em vez de revogar a autonomia dada aos funcionários durante a pandemia, elas a mantêm e confiam que o funcionário já saiba, individualmente, como trabalhar melhor.
Este modelo híbrido + remoto dá aos jovens da geração Z a chance de passar algumas horas por dia longe de seus apartamentos apertados e de sentir como é prosperar no escritório, lendo a linguagem corporal real – e não apenas acompanhando o que está sendo transmitido por uma tela.
O modelo mais flexível também dá a outras faixas etárias a possibilidade de integrar casa e trabalho de uma forma que se eles se incentivem mutuamente.
DAR MUITAS OPÇÕES CAUSA CONFUSÃO
Mas é importante também não dar escolhas demais. Agendamento completamente livre para todos é uma receita para um trabalho assíncrono ineficiente e para equipes disfuncionais.
Uma jovem funcionária dos estúdios ABC, em Nova York, me contou que estava super animada para voltar ao escritório, até aparecer para trabalhar na primeira semana... e perceber que ninguém mais da sua equipe estava lá.
Nessa grande batalha sobre onde as gerações preferem trabalhar, as empresas podem fazer o meio de campo.
Ofereça liberdade de opção aos funcionários, mas somente após ouvir atentamente o que as pessoas querem. Projete opções para conectividade e produtividade e teste modelos para ver o que funciona na prática. Deixe claro que não dá para agradar a todos e que, embora devam ser feitas concessões, elas serão feitas em conjunto.
Há grandes riscos de que os gestores de uma empresa acabem revogando totalmente os privilégios do trabalho remoto ou, então, os privilégios do outro lado da moeda – mantendo o trabalho remoto para sempre.
Mas os efeitos de escolher apenas uma coisa ou outra não valem a pena. Em uma pesquisa de 2022 sobre trabalho remoto, a Gallup descobriu que os funcionários que não trabalham em seu local preferido têm menor engajamento, maior desgaste e desejo de sair.
O “local preferido” pode ser em casa com seus animais de estimação ou no escritório, longe dos colegas barulhentos com quem dividem o apartamento ou alojamento. Não há como saber sem ouvir as pessoas e oferecer opções para que elas escolham, permitindo a experimentação ao longo do caminho.
Nessa grande batalha sobre onde as gerações preferem trabalhar, as empresas podem fazer o meio de campo, estendendo a autonomia e permitindo que os funcionários façam escolhas que se alinhem com quem eles são e com quem querem ser no futuro.
Talvez, com mais opções disponíveis, virtual ou pessoalmente, possamos nos sentir mais confortáveis, tanto como indivíduos quanto em comunidade.