Novas economias, novas vozes

Crédito: Fast Company Brasil

Adriana Barbosa 4 minutos de leitura

Há tempos destaco a economia social como uma tecnologia social da população negra. Relação de saberes e fazeres, vindos da nossa ancestralidade que perpetua e se baseia nos princípios de solidariedade, cooperação, senso de comunidade, participação e sustentabilidade.

Pensando em economia social como modelo econômico, posso dizer que ela busca conciliar o desenvolvimento com a promoção do bem-estar social e a redução das desigualdades. Nesse modelo, as atividades econômicas são orientadas para atender às necessidades da sociedade, em vez de visar apenas o lucro.

A economia social também busca promover a participação ativa dos cidadãos na tomada de decisões e na gestão das organizações, valorizando a democracia econômica. Além disso, ela busca ser ambientalmente sustentável, adotando práticas que respeitem o meio ambiente e promovam a preservação dos recursos naturais.

NOVAS ECONOMIAS E A DECOLONIALIDADE SOCIAL

As rápidas mudanças que vivemos na sociedade, nos colocam diante de um novo contexto socioeconômico chamado Novas Economias. O termo surge com a decolonialidade e propõe um questionamento das estruturas coloniais e eurocêntricas que buscam promover a inclusão, a justiça social e a valorização das perspectivas e saberes das culturas colonizadas. Além disso, valoriza, promove a diversidade e a pluralidade de conhecimentos, de outras vozes.

Posso afirmar que algumas das principais características das Novas Economias a partir da decolonialidade incluem as economias comunitárias, as femininas, as indígenas e ancestrais e as economias criativa, circular e solidária.

A economia social busca promover a participação ativa dos cidadãos na tomada de decisões e na gestão das organizações.

As economias comunitárias valorizam a participação e o envolvimento das comunidades locais na tomada de decisões econômicas. Além disso, buscam fortalecer as economias locais, promover a solidariedade e a cooperação entre os membros da comunidade e reduzir a dependência de estruturas econômicas externas.

No que diz respeito às economias do cuidado, feministas e de gênero, destaco o reconhecimento e a valorização do trabalho não remunerado das mulheres, bem como a importância de abordar as desigualdades de gênero nas estruturas econômicas, além de buscar e promover a igualdade de gênero, a autonomia econômica das mulheres e a valorização do cuidado e do trabalho doméstico.

Dentro das economias indígenas e ancestrais, cito a  valorização dos conhecimentos, práticas e sistemas econômicos tradicionais das comunidades indígenas. Essas economias buscam promover a sustentabilidade ambiental, a preservação dos recursos naturais e a valorização da cultura e dos saberes indígenas.

Festival Feira Preta 2022 (Crédito: Reprodução/ YouTube)

E no caso das economias solidárias que promovem a cooperação, a solidariedade e a autogestão nas relações econômicas, ressalto a superação das relações de exploração e desigualdade presentes nas estruturas econômicas tradicionais, valorizando a participação ativa dos trabalhadores e a distribuição justa dos benefícios econômicos.

Essas são apenas algumas das abordagens que surgem a partir da decolonialidade e que buscam promover uma transformação das estruturas econômicas, valorizando a diversidade, a inclusão e a justiça social. Cada uma tem suas particularidades e contribui para a construção de um modelo econômico mais justo e sustentável.

A promoção da economia social pode ser cooperativa, tendo como objetivos principais a criação de emprego, a inclusão social, a promoção da igualdade de oportunidades e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

ECONOMIA SOCIAL NA PRÁTICA

Pensando na proposta de estabelecer a economia social, a Feira Preta promove a valorização e o fortalecimento de empreendedores negros e negras no Brasil. Ela foi criada em 2002 e se tornou um importante espaço de visibilidade e promoção de produtos e serviços produzidos por empreendedores negros.

Também estimula o consumo consciente e a valorização da cultura afro-brasileira, fortalecendo a identidade e o orgulho da população negra, contribuindo para a redução das desigualdades raciais e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Nesse modelo, as atividades econômicas são orientadas para atender às necessidades da sociedade, em vez de visar apenas o lucro.

A Feira Preta é um espaço de promoção de  atividades culturais como shows, exposições, palestras e debates que valorizam a cultura e estimulam o diálogo sobre questões raciais e sociais. É um espaço onde há a formação e capacitação dos empreendedores negros, com workshops, mentorias e novas experiências.

Dessa forma, contribui para o fortalecimento e o desenvolvimento dos negócios liderados por essa população, que muitas vezes enfrenta dificuldade de acesso a mercados e recursos financeiros.

Para que as empresas comecem a colocar em prática esse movimento, onde o bem-estar das pessoas vem antes do lucro e onde os mais vulneráveis são os protagonistas, é necessário repensar a gestão do negócio como um todo, derrubar conceitos antigos, instituir uma nova cultura, novos processos e novas transformações acerca dos desafios.


SOBRE A AUTORA

Adriana Barbosa é fundadora da Feira Preta, evento de cultura e empreendedorismo, e CEO da PretaHub. Foi apontada pelo Fórum Econômico... saiba mais