Nem demorou tanto: os primeiros prédios projetados com IA estão chegando

A inteligência artificial na arquitetura está saindo do papel e chegando aos canteiros de obras

Crédito: Cove Architecture

Nate Berg 4 minutos de leitura

Em um terreno vazio na cidade de Atlanta, nos EUA, um novo conjunto de casas pode se tornar um marco do design moderno. O projeto em si não tem nada de extraordinário: são 17 unidades com fachadas geométricas, grandes janelas panorâmicas e preços acessíveis. O que realmente o torna especial não é o que está sendo construído, mas como foi criado: são uns dos primeiros prédios projetados com IA.

Pela primeira vez, a inteligência artificial teve um papel central em praticamente todas as etapas do projeto, desde a análise de mercado e o design conceitual até a adequação às normas urbanísticas e a escolha de materiais.

O projeto está em fase de aprovação nos órgãos reguladores. Se tudo sair conforme o planejado, essa poderá ser uma das primeiras construções projetadas com IA a sair do papel.

O projeto foi desenvolvido – ou melhor, cocriado – pela Cove Architecture, um braço da empresa de tecnologia Cove, especializada em consultoria de inteligência artificial para arquitetura e design.

Fundada pelos arquitetos Sandeep Ahuja e Patrick Chopson, a Cove usa IA para otimizar o planejamento, design, engenharia e orçamentos de projetos para incorporadoras e escritórios de arquitetura.

Agora, com a Cove Architecture, a empresa está aplicando as ferramentas de inteligência artificial que desenvolve desde 2017 para projetar edifícios com a ajuda da tecnologia.

Segundo Ahuja, a IA acelerou drasticamente o processo, reduzindo o tempo de design em 60%, fornecendo estimativas de custo com 95% de precisão já nas fases iniciais e cortando em 40% os gastos com ajustes e revisões. “Antes, levávamos seis meses para concluir essa etapa. Agora, conseguimos fazer tudo em apenas um mês”, afirma Ahuja.

A IA CUIDA DOS DETALHES BUROCRÁTICOS

De acordo com Chopson, a Cove Architecture usa IA para lidar com os aspectos técnicos e burocráticos do design. Um dos maiores desafios é garantir que o projeto esteja em conformidade com as normas de zoneamento da cidade – um processo tradicionalmente demorado.

“O código de zoneamento de Atlanta é extremamente complexo. Você precisa consultar várias fontes para entender o que pode ou não ser feito. Esse processo pode levar semanas, mas conseguimos reduzi-lo para alguns dias”, explica Chopson.

A empresa faz isso por meio de múltiplos agentes de IA especializados, que analisam condições do terreno, custos, regulamentações locais, estrutura, plantas e fachadas.

Crédito: Cove Architecture

Com esses dados, os arquitetos conseguem criar diretrizes mais precisas para o projeto. “Isso nos permite focar mais no lado artístico do design, em vez de gastar horas resolvendo detalhes técnicos”, acrescenta Chopson.

O arquiteto Fu, membro da equipe, explica que a IA não serve apenas para verificar normas, mas também ajuda na criação de conceitos de design. A Cove combina ferramentas comerciais com modelos treinados internamente, permitindo que a inteligência artificial gere ideias, que depois são refinadas pelos arquitetos.

Por exemplo, um modelo pode ser treinado para projetar telhados de acordo com exigências específicas. As ideias geradas passam então por uma IA generativa, que cria renderizações detalhadas. Depois, essas imagens são revisadas e ajustadas manualmente pelos arquitetos no Photoshop e em softwares internos do estúdio.

Crédito: Cove Architecture

Os desenhos passam ainda por várias rodadas de ajustes, levando em conta dados específicos do terreno, tendências de mercado e as preferências do cliente. Conforme os detalhes vão sendo refinados, a IA continua aprimorando os conceitos, sempre sob supervisão dos arquitetos.

“Nós supervisionamos todo o processo para garantir que a inteligência artificial não saia do controle. Precisamos revisar e validar todas as informações para tomar as melhores decisões”, explica Fu.

COLABORAÇÃO ENTRE HUMANO E MÁQUINA

O resultado final é um equilíbrio entre criatividade humana e IA. Fu descreve a inteligência artificial como uma “cocriadora com pensamento próprio”, que participa de um processo quase conversacional com os arquitetos.

“A IA está tão integrada ao nosso trabalho que parece mais um membro da equipe. Chegamos ao ponto em que é difícil dizer o que foi criado por nós e o que veio da inteligência artificial”, afirma Fu. “Não a vemos como uma ferramenta separada.”

Cove Architecture

Essa fusão entre humano e máquina significa que não faz sentido chamar o projeto de 100% criado por IA, mas também não se trata de um design totalmente humano. A Cove Architecture acredita que essa abordagem híbrida representa o futuro da arquitetura. “Vamos levar esse método a milhares de projetos”, diz Ahuja.

Para Chopson, a inteligência artificial na arquitetura não substitui a criatividade humana, mas torna o trabalho mais eficiente ao eliminar tarefas repetitivas e demoradas.

“Gastar tempo tentando descobrir se um projeto é viável ou não é algo que a IA pode resolver rapidamente. Isso nos permite avançar semanas à frente e focar no que realmente importa: criar algo bonito”, conclui Chopson.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais