Como a compra da Bungie pela Playstation aquece ainda mais o universo dos games

Crédito: Fast Company Brasil

Jeancarlos Mota 5 minutos de leitura

É interessante iniciar essa análise de tamanha e importante aquisição deixando algo claro: a PlayStation comprar a Bungie não foi uma resposta à aquisição da Activision Blizzard por parte da Xbox. E não, Halo não vai nem será um exclusivo PlayStation. A aquisição da Bungie mostra muito mais um plano de longo prazo da empresa pertencente à Sony do que qualquer retaliação a planos de seus concorrentes. É nítido que ambas empresas visam crescer e quem ganha com isso é a indústria e o mercado de games e você, que joga, investe ou tem interesse neles.

O trabalho da Sony com a marca PlayStation mostra sua ambição, pois essa não é a primeira e nem deve ser a última de suas aquisições em prol da ampliação de seus estúdios. Basta lembrar que eles trouxeram a Housemarque, de jogos como Resogun e o recente exclusivo de PS5, Returnal, ou em 2019, quando a marca trouxe a Insomniac Games, que já rendeu frutos inesquecíveis como Spider-Man, Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão, além de de marcas como Spyro e Sunset Overdrive (que era um jogo exclusivo de Xbox). Mais recentemente, em 2021, foi a vez da Bluepoint Games, que mostra outro tipo de investimento: remakes. A empresa foi responsável pela nova versão de Demon’s Souls (também exclusivo de PlayStation 5) e antes dele Uncharted The Nathan Drake Collection e a coleção de Metal Gear Solid.

Como o assunto é expansão, a PlayStation ainda trouxe a Firesprite, estúdio de jogos com experiência em realidade virtual, o que casa perfeitamente com seus planos em lançar o recém anunciado PSVR 2, o que aconteceu durante a CES 2022. A lista poderia continuar por muito tempo, pois ainda houve a Nixxes Software (especializada em ports, o que a Sony tem feito com lançamentos de PC na Steam) e Valkyrie Entertainment (que já ajudou a marca em God of War e agora está em God of War: Ragnarok), mas vamos ao x da questão.

A Bungie junta-se ao time PlayStation pela bagatela de US$ 3.6 bilhões de dólares. O valor pode até parecer “pequeno” quando lembramos o último investimento bilionário da Microsoft, no entanto, eis um dos diversos reflexos do crescimento colossal da indústria de games nos últimos anos. Estamos falando de quase 21 bilhões de reais em uma única empresa de jogos, que hoje possui uma única IP, Destiny. Essa é a mesma Bungie que criou o garoto propaganda do Xbox, Halo, e que esteve, por um tempo ao menos, sob a asa da mesma Activision Blizzard que já sabemos onde foi parar e, se tem uma coisa que é certa é que eles sabem fazer bons jogos de Sci-Fi. E seu atual jogo / serviço online de tiro e RPG onde você e amigos podem explorar a galáxia como Guardiões da Luz tem tudo para crescer, juntamente com uma nova IP que a Bungie já avisou estar em desenvolvimento.

“Tivemos uma forte parceria com a Bungie desde o início da franquia Destiny, e eu não poderia estar mais empolgado em receber oficialmente o estúdio na família PlayStation”, disse Jim Ryan, CEO da Sony Interactive Entertainment.

A interessante surpresa foi quando a PlayStation revelou seus planos para a Bungie após a aquisição. Na postagem oficial do PlayStation Blog, Ryan confirmou que dará exatamente o que faltou à Bungie quando estiveram juntos à Activision, independência. O objetivo da Sony é que a Bungie ainda seja um estúdio e editora independente e multiplataforma – sim, você leu corretamente, com jogos para PC e Xbox também. Ryan também disse que a Bungie “sentar-se-á ao lado da organização PlayStation Studios”, onde os dois grupos colaborarão e que nos deixar a esperar ainda mais novidades. Essa simbiose também dá acesso ao PlayStation Studios para a Bungie, como eles também terão acesso às ferramentas proprietárias da Bungie. Em um post separado, a Bungie detalhou o que a aquisição significa para a empresa, ao chamar a SIE de, “um parceiro que nos apoia incondicionalmente em tudo o que somos e que deseja acelerar nossa visão de criar entretenimento de geração, preservando a independência criativa que bate no coração da Bungie”. Eles terminam reafirmando que todos poderão jogar ontem escolherem, o que remete à forma com que agora é possível jogar Destiny 2 em qualquer plataforma e continuar suas partidas exatamente de onde você parou e com amigos que estejam no PlayStation, Xbox ou PC.

A chegada da Bungie mostra que a PlayStation está de olhos bem abertos para o mercado de jogos multiplayer. Como dito por Ryan, quem trabalha com a PlayStation Studios tem acesso ao seu time e ferramentas e toda tecnologia que vem em conjunto e, em troca, novas parcerias têm sido formadas. Uma das que mais chamam atenção é que a Firewalk um estúdio formado por desenvolvedores do mesmo Destiny, Halo (criados pela Bungie) e Apex Legends, está trabalhando em um game multiplayer exclusivo para consoles. O mesmo pode ser dito da Haven Studios, de Jade Raymond (ex-responsável pelo Stadia, do Google, e que ajudou a criar Assassin’s Creed, da Ubisoft) e da Deviation Games, fundada por ex-líderes de Call of Duty: Black Ops e Zombies, que têm projetos em parceria com a PlayStation a caminho.

Se a Bungie, no formato de um estúdio independente, já trazia por volta de US$ 100 a US$ 500 milhões em receita todos os anos – sendo o segundo jogo de tiro mais vendido, atrás apenas de Call of Duty -, o que ela seria capaz com toda a estabilidade financeira que a marca e estúdios PlayStation pode trazer? Fica cada vez mais nítido que a velha “guerra dos consoles” começa a trocar de roupa, onde as empresas estarão agora em busca dos assets que superaram o petróleo como o mais valioso no mundo: informação e conteúdo, e não mais por consoles. É o conteúdo que fará com que o público associe seu tempo e dinheiro a uma marca ao invés de uma caixa nos próximos anos, o que significa que competir agora será algo além de apenas espaço em prateleira ou mesa de console de TV, mas sim em mindshare. A Netflix dizer que Fortnite é um concorrente maior que a HBO no passado, prova que PlayStation e Xbox não pensam diferente. Que os jogos comecem. Preparem-se para a batalha, Guardiões.

 


SOBRE O AUTOR

Jeancarlos Mota é co-publisher de games da Fast Company Brasil, editor-chefe do IGN Brasil e apaixonado por games e esportes. saiba mais