Como o aquecimento global afeta os negócios que dependem do mar

Uma das grandes ameaças é a elevação do nível da água

Créditos: Dragon Claws/ Mikkel William/ iStock

Charles Colgan 4 minutos de leitura

O futuro de alguns empregos e negócios na economia marítima está cada vez mais incerto com o aquecimento do oceano e os danos causados por tempestades, elevação do nível do mar e ondas de calor.

A temperatura dos mares tem aumentado ao longo do último século, atingindo níveis recordes nos últimos anos, impulsionada principalmente pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis. Cientistas estimam que mais de 90% do excesso de calor produzido pelas atividades humanas foi absorvido pelo oceano.

Esse aquecimento, que permaneceu oculto por anos em dados que interessavam apenas aos oceanógrafos, agora está tendo consequências profundas para as economias costeiras pelo mundo todo. As mudanças climáticas transformaram o oceano em uma ameaça econômica de várias maneiras.

Uma das grandes ameaças é a elevação do nível do mar. Conforme a água aquece, ela se expande. Somada ao derretimento de geleiras e de coberturas de gelo, a expansão térmica da água aumentou as inundações em zonas costeiras baixas e colocou em risco o futuro de países insulares.

Fonte: NOAA

Inundações em maré alta, mesmo em dias ensolarados, estão se tornando cada vez mais comuns nos EUA, principalmente em regiões como Miami Beach, Annapolis, Norfolk e San Francisco. Elas mais do que dobraram desde 2000 e devem triplicar até 2050 ao longo da costa do país.

A elevação do nível do mar também empurra água salgada para os aquíferos de água doce, de onde a água é extraída para a agricultura. A safra de morangos na Califórnia já está sendo afetada. Esses efeitos são pequenos e altamente localizados. Efeitos muito maiores ocorrem com tempestades intensificadas pelo nível do mar elevado.

ELEVAÇÃO DO MAR PIORA TEMPESTADES

A água mais quente contribui para tempestades tropicais. Esta é uma das razões pelas quais os meteorologistas preveem uma temporada de furacões ativa nos EUA em 2024.

As tempestades tropicais captam umidade da água quente e a transferem para áreas mais frias. Quanto mais quente a água, mais rápido a tempestade pode se formar, mais rápido pode se intensificar e mais tempo pode durar, resultando em tempestades e chuvas fortes que podem inundar cidades mesmo longe do litoral.

Quando ocorrem sobre níveis do mar mais altos, as ondas e as ressacas podem aumentar drasticamente as inundações costeiras. Ciclones tropicais causaram mais de US$ 1,3 trilhão em danos nos EUA de 1980 a 2023, com um custo médio de US$ 22,8 bilhões por tempestade.

Os possíveis danos econômicos futuros são desconhecidos, já que a velocidade e a extensão da elevação do nível do mar são incertas. Uma estimativa coloca os custos da elevação do nível do mar e das tempestades em mais de US$ 990 bilhões neste século – medidas de adaptação seriam capazes de reduzir este valor em apenas US$ 100 bilhões.

Essas estimativas incluem danos diretos à propriedade e à infraestrutura, como sistemas de transporte, água e portos. Não estão incluídos os impactos na agricultura decorrentes do acúmulo de água salgada nos aquíferos.

ONDAS DE CALOR PREJUDICAM A PESCA

O aumento da temperatura dos oceanos também está afetando a vida marinha por conta de eventos extremos, conhecidos como ondas de calor marinho, e de mudanças graduais e de longo prazo na temperatura. Em maio, um terço dos mares estava passando por ondas de calor.

Os corais estão enfrentando seu quarto evento global de branqueamento já registrado, conforme a alta temperatura da água faz com que eles expulsem as algas que vivem neles – e que dão a cor e fornecem alimento para o ecossistema. Metade dos recifes de coral do mundo morreu desde 1950 e seu futuro além da metade deste século é sombrio.

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Os recifes de coral servem como berçário e área de alimentação para milhares de espécies. No entanto, águas mais quentes fazem com que os animais migrem para áreas mais frias. Isso é particularmente notado em certas espécies, como lagostas, que têm migrado constantemente para fugir do aquecimento do mar.

No golfo do Alasca, o aumento da temperatura quase exterminou os caranguejos-da-neve. A pesca, que movimentava US$ 270 milhões, teve que ser completamente paralisada por dois anos. Uma grande onda de calor na costa do Pacífico se estendeu por vários anos na década de 2010 e interrompeu a pesca do Alasca até o estado do Oregon, nos EUA.

ESSA SITUAÇÃO NÃO MUDARÁ TÃO CEDO

O calor acumulado e os gases de efeito estufa na atmosfera vão continuar a afetar a temperatura do oceano por séculos, mesmo que os países zerem suas emissões até 2050, como se espera.

Não existe uma torneira de água fria que possamos simplesmente abrir para fazer com que a temperatura do oceano volte ao “normal”. As comunidades terão que se adaptar enquanto todo o planeta trabalha para reduzir as emissões e proteger as economias marítimas para o futuro.

Este artigo foi reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Charles Colgan é diretor de pesquisa do centro para a economia azul do Middlebury Institute of International Studies. saiba mais