COP28 vai fazer um balanço das ações climáticas. Spoiler: não será positivo

Contudo, há alguns sinais de que o mundo está fazendo avanços

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Kate Hua-Ke Chi e Maulik Jagnani Maulik Jagnani 4 minutos de leitura

Quando a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deste ano tiver início, em 30 de novembro, será um momento de reflexão crítica. Há sete anos, quase todos os países do mundo assinaram o Acordo do Clima de Paris, estabelecendo metas para limitar o aquecimento global, incluindo objetivos-chaves a serem alcançados até 2030.

O foco principal da conferência deste ano, a COP28, é avaliar o progresso em direção a essas metas. No entanto, relatórios indicam que o mundo não está no caminho certo.

Ao mesmo tempo, preocupações com segurança energética e disputas sobre como compensar países por perdas e danos causados pelas mudanças climáticas tornam mais difícil chegar a acordos sobre a redução de emissões.

Contudo, como pesquisadores de políticas energéticas e ambientais, também observamos sinais de avanços.

BALANÇO GLOBAL GERA ALERTAS

Um aspecto central da COP28 é a conclusão do balanço global, uma revisão em andamento dos esforços mundiais para lidar com as mudanças climáticas. Seu objetivo é identificar deficiências e ajudar os países a recalibrar suas estratégias.

Um relatório sobre o balanço até agora destaca que, embora o Acordo de Paris tenha estimulado ações para mitigar as mudanças climáticas em todo o mundo, as políticas atuais e as promessas de redução de emissões de gases de efeito estufa ainda estão muito aquém do objetivo de limitar o aquecimento a menos de 1,5ºC em comparação com as temperaturas pré-industriais.

Governos planejam produzir o dobro de combustíveis fósseis em 2030 do que seria permitido em um cenário de aquecimento de 1,5ºC, segundo outro relatório liderado pela ONU. Limitar o aumento de temperatura em 1,5ºC, em vez de 2ºC, pode parecer pouco, mas os benefícios globais acumulados poderiam superar US$ 20 trilhões.

Para evitar ultrapassar esse limite, as emissões globais de gases de efeito estufa precisarão diminuir cerca de 45% até 2030, em comparação com os níveis de 2010, e será necessário atingir emissões líquidas zero por volta de 2050, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

O foco principal da conferência deste ano é avaliar o progresso em direção aos objetivos-chaves a serem alcançados até 2030.

No entanto, as emissões não estão diminuindo. Elas aumentaram em 2022, excedendo os níveis pré-pandemia. A temperatura média global ultrapassou brevemente o limite de aquecimento de 1,5ºC em março e junho de 2023.

O balanço global afirma que, para cumprir as metas de Paris, os países devem ser mais ambiciosos na redução de emissões de gases de efeito estufa. Isso inclui reduzir rapidamente as emissões de carbono de todos os setores econômicos.

Isso significa acelerar a adoção de energias renováveis, como solar e eólica, implementar medidas mais rigorosas para conter e reverter o desmatamento e adotar tecnologias limpas, como bombas de calor e veículos elétricos em larga escala.

ELIMINAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

O relatório destaca um ponto fundamental: a necessidade urgente de “eliminar todos os combustíveis fósseis”. Atualmente, eles representam 80% do consumo total de energia do mundo. Seu uso em 2022 resultou em 36,8 gigatoneladas de CO2 provenientes da combustão de energia e atividades industriais.

Apesar dos riscos da crise climática, os países ainda concedem enormes subsídios às indústrias de petróleo, carvão e gás. Em 2022, foram fornecidos cerca de US$ 1,3 trilhão em subsídios diretos para combustíveis fósseis, segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional.

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China, EUA, Rússia, União Europeia e Índia são os maiores financiadores, e seus subsídios aumentaram significativamente após a invasão russa à Ucrânia em 2022, que abalou os mercados de energia.

SOLUÇÕES PARA UMA TRANSIÇÃO EQUITATIVA

Diversas iniciativas recentes foram lançadas para acelerar a transição para energia renovável. Em julho de 2023, o Canadá apresentou uma estratégia para acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, tornando-se o primeiro país do G20 a se comprometer a suspender o apoio governamental ao petróleo e ao gás natural.

A União Europeia está ampliando seu mercado de carbono para incluir emissões provenientes de edifícios e do transporte, buscando descarbonizar mais setores. Ao mesmo tempo, a Lei de Redução da Inflação dos EUA destina US$ 10 bilhões a projetos de energia limpa e oferece US$ 4 bilhões em créditos fiscais a comunidades economicamente afetadas pelo declínio da indústria do carvão.

Em 2022, foram fornecidos cerca de US$ 1,3 trilhão em subsídios diretos para combustíveis fósseis, segundo cálculos do FMI.

Até a COP28, um plano abrangente para ajudar o Senegal a buscar um futuro sustentável com baixas emissões deve entrar em vigor. França, Alemanha, Canadá e vários bancos multilaterais de desenvolvimento prometeram fornecer € 2,5 bilhões para aumentar a produção de energia renovável no Senegal. O objetivo é que ela represente 40% do consumo de energia do país até 2030.

Para atingir os objetivos do Acordo de Paris, acreditamos que iniciativas globais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e investir na transição para energias sustentáveis de países em desenvolvimento são essenciais.

Tais esforços não apenas contribuem para a redução de emissões de gases de efeito estufa, mas também garantem o crescimento econômico de maneira ambientalmente consciente.


SOBRE O AUTOR

Kate Hua-Ke Chi é pesquisadora de política climática e Maulik Jagnani é professor assistente de economia, ambos na Universidade Tufts. saiba mais