Vapes agora vêm com joguinhos para atrair jovens ainda mais jovens
Com games no estilo Tetris e até reprodutores de música, o apelo entre adolescentes parece tentador – e muito perigoso

Nos Estados Unidos, os cigarros eletrônicos – mais conhecidos como vapes – estão passando por uma repaginada, e tudo indica que isso vai atrair ainda mais adolescentes.
Já faz tempo que especialistas alertam sobre o apelo desses produtos, que se utilizam de sabores como algodão-doce e framboesa, além de embalagens chamativas que lembram doces, para atrair o público jovem.
No Brasil, os vapes são proibidos por resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Há exatamente um ano, a Anvisa atualizou o regulamento referente aos dispositivos eletrônicos para fumar e manteve a proibição, em vigor desde 2009. A decisão foi tomada após extensa avaliação dos riscos dos vapes e de seu impacto na saúde.
A legislação brasileira proíbe a fabricação, importação, venda, distribuição, armazenamento, transporte e propaganda de cigarros eletrônicos. Mas não é difícil encontrá-los em lojas comuns, pois eles chegam aos montes, via contrabando.
Em 2023 foram apreendidos 1,5 milhão de vapes em várias partes da fronteira e a expectativa da Receita Federal era que esse volume iria dobrar em 2024.
Mas no mercado norte-americano eles não só são permitidos como estão se tornando verdadeiros dispositivos digitais. Alguns imitam videogames, outros parecem celulares ou até bichinhos virtuais no estilo tamagotchi, que “morrem” caso o usuário pare de tragar. É a gamificação do vício.
Mas, por trás dos visuais divertidos, existe um risco real. Estudos mostram que o uso de cigarros eletrônicos compromete a saúde cardiovascular e respiratória, além de causar dependência de nicotina. Quanto mais os vapes se parecem com brinquedos, maior o risco à saúde – e mais difícil fica resistir, especialmente para crianças e adolescentes.
VAPES AGORA VÊM COM JOGOS DIGITAIS
Várias marcas começaram a incluir pequenas telas em seus modelos. No início, essas telinhas serviam apenas para mostrar o nível da bateria. Alguns ainda mantêm essa proposta simples, mas outros estão investindo em recursos mais chamativos. A Raz, por exemplo, usa animações com labaredas. Já a Geek Bar exibe constelações – pequenos “shows” de luzes a cada tragada.
Alguns modelos vão além, incluindo até joguinhos. O Craftbox V-Play, por exemplo, vem em sabores como “pirulito de framboesa” e “ponche de abacaxi”, e inclui três jogos – versões genéricas de Pac-Man e Tetris, além de um simulador de avião de caça. Apelidado de “vapentretenimento”, o aparelho ainda toca música enquanto o usuário joga.

Outros modelos funcionam praticamente como um minismartphone. Um dos mais conhecidos é o Swype 3000. Ele se conecta ao celular do usuário, exibe notificações e oferece acesso a alguns aplicativos diretamente na tela do dispositivo.
A tecnologia ainda tem falhas – como bugs nos jogos e alertas pouco nítidos, segundo o relato da repórter Katie Notopoulos, da “Business Insider”. Mas a ideia está ganhando adeptos. Marcas como Airfuze, Vookbar e Feed Sync já estão apostando nos chamados “smart vapes”.
Mesmo com tantas novidades, esses aparelhos continuam baratos. Muitos custam menos de US$ 20 no atacado, o que equivale ao preço de modelos comuns. E continuam sendo descartáveis: quando a nicotina acaba, o que sobra é um minigame quebrado – ou um “celular” que não liga mais.
MAIS DIVERTIDO E MAIS PERIGOSO
Grande parte desses vapes com telas e joguinhos opera em uma zona cinzenta da legislação. A maioria é fabricada da China e quase nenhum tem autorização da FDA (a agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA).
Em 2024, a FDA chegou a enviar uma carta de advertência à loja online Vapes and Such, alertando sobre a venda de produtos que “podem atrair menores” por “imitarem smartphones” e “dispositivos de games”.
O apelo dos cigarros eletrônicos entre jovens não é novidade. Em 2023, a marca Juul aceitou pagar US$ 462 milhões em um acordo judicial, após ser acusada de direcionar sua publicidade para crianças nos EUA.

Com o tempo, o foco das preocupações deixou de ser os sabores e passou para o design: aparelhos com visual moderno e colorido, que se parecem mais com dispositivos tecnológicos do que com produtos de nicotina. “Se tem aparência chamativa e glamurosa, esse já é o primeiro atrativo”, alertou Brian King, então chefe da divisão de tabaco da FDA, ao “The New York Times”.
As telas são o próximo passo dessa evolução. Elas não só tornam os cigarros eletrônicos mais estilosos como também os transformam em objetos de desejo.
Vapes com jogos digitais e notificações integradas viram não apenas dispositivos de nicotina, mas também assunto entre os amigos. E é justamente esse apelo – essa aparência inofensiva e divertida – que torna tudo ainda mais perigoso para os mais jovens.
Com informações da Agência Brasil.