Millennials e GenZs buscam segundo emprego para pagar as contas do mês
Quatro em cada 10 entrevistados pela Deloitte adotam essa estratégia para complementar a renda familiar
Vivemos em uma era de preocupações: com finanças, família, meio ambiente… E isso reflete no que esperamos das empresas nas quais trabalhamos. A nova edição da pesquisa global “Gen Z and Millennial Survey”, elaborada pela Deloitte, entrevistou pessoas de 44 países, incluindo 500 da geração Z e 300 millennials do Brasil, e trouxe algumas importantes informações sobre como os dois grupos se relacionam com o trabalho.
"No topo das cinco principais preocupações para a geração Z brasileira, temos em terceiro lugar a discriminação e falta de equidade (30%) e isso não compõe o ranking global", afirma Daniela Plesnik, líder de talent da Deloitte. "Já no topo do ranking aparecem desemprego e custo de vida, que tanto afetam o Brasil."
A questão do custo de vida é um problema significativo para GenZs e millennials. No Brasil, seis em cada 10 integrantes dessas gerações dizem viver apenas do salário do mês e se preocupam em não conseguir pagar todas as despesas. Esse índice é maior do que a média global, de 51%.
"O custo de vida está cada vez mais alto. Tenho preocupações de não conseguir pagar minhas contas e não dar aos meus filhos a educação e a vida que eles merecem", afirma uma das millennials brasileiras entrevistadas.
Para dar conta da situação, 35% da geração Z e 41% dos millennials adotam a estratégia de conseguir um segundo emprego, seja por necessidade de uma segunda fonte de renda, para ajudar a se desligar ou focar em algo diferente da atividade principal, por hobby ou porque a segunda atividade proporciona um impacto positivo para a sociedade.
"É alto o percentual dos que vivem na dependência da renda mensal para viver. O Brasil tem regras trabalhistas rígidas e a atividade de venda pela internet (que pode ser realizada de qualquer lugar) tem sido a escolhida pela maioria como opção de segunda fonte de renda", diz Daniela.
Mesmo com a questão do desemprego ocupando o topo das preocupações de ambas as gerações, 76% dos GenZs e 77% dos millennials considerariam trocar de emprego se o esquema de trabalho fosse 100% presencial. "Isso é um indicativo de que a forma híbrida é a preferida. Cerca de 20% atuam de forma 100% remota e 20% prefeririam que fosse assim", afirma Daniela.
Além disso, 27% da geração Z e 26% dos millennials gostariam de ter a oportunidade de escolher quando trabalhar presencialmente em vez de isso ser determinado pela empresa. "A pesquisa mostra como é importante que as empresas continuem priorizando o trabalho híbrido (sempre que a atividade permite) se quiserem aumentar a atratividade de ambas as gerações", afirma a executiva.
ASSÉDIO E SAÚDE MENTAL
De acordo com o estudo, 60% da geração Z e 63% dos millennials brasileiros afirmaram que seus empregadores levam a saúde mental dos profissionais a sério e implementaram políticas para auxiliá-los nesse aspecto. Para esses jovens, suporte e políticas de saúde mental são muito ou razoavelmente importantes ao considerar um potencial empregador.
No entanto, a pesquisa também revelou uma preocupação significativa: cerca de um terço da geração Z e um quarto dos millennials não se sentiriam confortáveis em falar abertamente com seu chefe sobre estresse, ansiedade ou outros desafios de saúde mental.
Ainda mais preocupante é que 62% dos GenZs e 51% dos millennials afirmaram ter sofrido assédio ou microagressões no trabalho nos últimos 12 meses.
"Sofri bullying em uma empresa onde trabalhei. Penso que o que o empregador deveria ter feito, e o que outros empregadores podem fazer, é consciencializar que esse tipo de comportamento é inaceitável. As pessoas da nossa geração… e ainda mais as da próxima geração não vão mais aceitar isso. Acho que a educação e a comunicação são a chave de todo o processo", diz uma millennial brasileira que participou da pesquisa.
Segundo Daniela Plesnik, há duas razões que podem ser utilizadas como justificativas para esse percentual de profissionais que sentem as microagressões e assédio. “A primeira é que há maior conhecimento sobre o que caracteriza uma microagressão. Muitas posturas que antes eram consideradas de humor questionável hoje são reclassificadas e, assim, compreendidas como microagressão", explica.
O segundo fator é um possível aumento na quantidade de casos notificados. "O processo de conhecimento é fundamental nas empresas e isso, em um primeiro momento, faz com que o número de casos identificados seja maior, assim como na questão do assédio."
Para Daniela, é muito importante que as ações de saúde mental tenham continuidade e que, ao serem identificadas atitudes negativas, o processo de mudança de cultura seja reforçado para que isso não esteja mais presente no ambiente corporativo.